O Congresso Brasileiro de Economia já se consagrou como o principal encontro da categoria no país. Realizado sempre nos anos ímpares desde o primeiro em 1975, O evento reúne profissionais da área, empresários, autoridades, estudantes de economia e representantes dos principais segmentos da sociedade para o debate de temas fundamentais para o desenvolvimento sustentável do país, com o objetivo de apresentar análises, alternativas e perspectivas de solução para importantes questões que influenciam no bem-estar de toda a sociedade.
A escolha da cidade de Manaus-AM, lugar de natureza viva e exuberante, como sede deste XX Congresso Brasileiro de Economia, seguramente foi uma demonstração da consciência da categoria no que diz respeito ao tema e a situação planetária. É mister que cada um de nós, envolva-se em ações individuais para tornar possível a sustentabilidade, independentemente das necessidades dos avanços do desenvolvimento econômico das nações.
TEMA CENTRAL:
“ECONOMIA VERDE, DESENVOLVIMENTO E MUDANÇAS ECONÔMICAS GLOBAIS.” O tema central do CBE 2013 demonstra a preocupação e o compromisso da categoria dos economistas com a busca de soluções que possam proporcionar desenvolvimento econômico aliado à preservação do meio ambiente e ao aprimoramento da qualidade de vida para toda a população.
Tendo como marco inicial o relatório do Clube de Roma1, os diagnósticos sobre os limites ambientais do crescimento econômico se repetem cada vez mais dramáticos. Desde a Conferência de Estocolmo, em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU), de tempos em tempos, promove conferências para tratar do tema e reavivar na agenda da humanidade os riscos de impasses civilizatórios oriundos do modelo de desenvolvimento vigente tendo em vista a capacidade de suporte do planeta.
Com metáforas galvanizadoras sucederam-se as propostas do eco desenvolvimento, do desenvolvimento sustentável, da agenda 21, das grandes convenções sobre biodiversidade, clima e conexos. Mais recentemente, naquela que ficou conhecida como Conferência Rio+20, ocorrida no Rio de Janeiro, de 20 a 22 de junho de 2012, veio à tona o ideário da “economia verde”, assim entendido, o que busca associar sustentabilidade ambiental e erradicação da pobreza, como premissas de uma economia que se assente em dinâmicas produtivas com baixa emissão de carbono e eficiência no uso de recursos e seja comprometida com a inclusão social, especialmente daqueles desprovidos do mínimo para vida digna.
O termo, criticado por muitos como mera mudança semântica, aporta uma expressiva novidade. Parece ter emergido um consenso de que, sem se considerar à sério as dinâmicas de mercado, as premissas econômicas, as agendas empresariais, as necessidades de geração de riquezas e as demandas por renda para uma grande parte da humanidade que ainda vive em condições miseráveis, seria quimera esperar resultados duradouros com iniciativas focadas apenas em proteção, mitigação e restrições ambientais.
Nada de surpreendente nesse desfecho. Avaliando-se pelo retrovisor, desde que o debate desenvolvimento versus ambiente se instalou na agenda social, constata-se que em primeiro lugar os ecos ouvidos vieram da academia e dos institutos de pesquisas, com seus estudos e diagnósticos mostrando a realidade dos fatos; em seguida, houve o envolvimento da sociedade ensejando o aparecimento de robustos movimentos tanto conectados globalmente quanto atuantes em nível local, expressados em milhares de ONGs, associações, redes e similares; em seguida compareceram os governos nacionais com suas convenções e pactos sob o âmbito das agências multilaterais, especialmente do sistema ONU, mas também se espraiando para âmbitos sub-nacionais e mesmo locais, com suas agendas, políticas públicas e outros instrumentos de diretrizes de ordenamentos legais. Por último, comparece o mercado, com suas demandas de produção e dinâmicas orientadas pelas premissas da oferta e procura, terreno sobre o qual só a economia como disciplina científica pode pronunciar-se, sem as ilusões da boa intenção ou de ideologias fundamentalistas.
Depois de tantas mudanças no escopo do debate, depois de mais de quarenta anos de discussões e depois que todos os segmentos importantes da sociedade foram envolvidos, o tema continua cada vez mais presente na pauta dos debates sociais. Constata-se, por isso, tratar-se de assunto que parece ter vindo para ficar, isto é, de uma dimensão da realidade contemporânea que não pode mais ser ignorado pela economia, pelos economistas, pelas universidades que formam esses profissionais e nem pelos entes que lhes representam. Por isso a propriedade e oportunidade do tema escolhido pelo CBE 2013, destacando “economia verde” e “desenvolvimento” como elementos galvanizadores dos debates, da produção de trabalhos e da organização dos cursos e demais iniciativas já consagradas nas agendas dos CBEs.
Mas o cenário em que se galvanizam os debates sobre esses temas vem acompanhado das grandes mudanças econômicas de escopo global que se observam nos últimos tempos e que espraiam-se por toda a parte, reconfigurando o mapa e os modos dos fazeres econômicos hodiernos. Novos blocos econômicos regionais se consolidam, enquanto outros parecem perder fôlego; nações antes sem expressão econômica hoje se agigantam e convertem-se em motores do crescimento da riqueza mundial; transformações tecnológicas de fundo surgem velozes tornando obsoletas grandes estruturas e cadeias produtivas; o conhecimento embutido nos produtos converte-se, rapidamente, no novo mecanismo de agregação de valor e de domínio de mercados; as inovações em produtos, processos, design, conteúdo e em formas de uso, sucedem-se céleres extinguindo segmentos inteiros, remodelando antigos e induzindo o aparecimento de outros inteiramente novos; as crises sistêmicas do capitalismo se repetem cada vez mais crônicas, seja em razão de falhas de regulagem global de mercados ou por euforias financeiras sem lastro em racionalidade; o setor de serviço ganha cada vez mais expressão como fonte geradora da riqueza das nações, sugerindo uma redução significativa na base material das economias e minimizando o peso relativo dos processos de transformação industrial; e assim sucessivamente.
Contempla-se, pois, um mundo em transformação em seus fundamentos econômicos. E é sob esse pano de fundo que o debate sobre “economia verde” e “desenvolvimento” se desenvolve. Como ampliar as benesses do desenvolvimento para todas as nações sem comprometer a vida na Terra? Podem os mesmos padrões de consumo vigente no mundo rico ser expandido para todas as nações? Os instrumentos, métodos e teorias econômicas vigentes são suficientes para lidar com a inclusão do ambiente e as demandas sociais nos cálculos econômicos? As transformações econômicas globais facilitam ou criam obstáculos para que a qualidade de vida na Terra amplie-se, tanto social quanto ambientalmente? Nesse cenário em convulsão qual é a agenda prioritária para os economistas, para as instituições que os formam e os representam, para as agências que os empregam para os planos de governo e para os cidadãos?