Conselho Regional de Economia do Distrito Federal – Corecon-DF
Grupo de Conjuntura Econômica – relatório da Reunião nº 1/2013, de 19.1.13
Tema: Resultados da economia em 2012 e tendências para 2013
1. No setor externo observou-se que o saldo da balança comercial foi o mais baixo dos últimos dez anos, mas ainda mais elevado que o projetado pelos bancos no começo do ano. Nas exportações verificou-se queda de 5% nos preços e estabilidade no quantum. Quase 40% da queda nas exportações ocorreu por queda com um só país, a Argentina e quase toda a queda por produtos a um só produto, o minério de ferro. O comércio brasileiro cresceu menos que a média mundial, mantendo assim a tendência preocupante dos últimos anos. O déficit em transações correntes continua elevado em número absoluto, mas é facilmente financiável por movimento de capitais, principalmente investimentos diretos e em menor escala por capitais de curto prazo ainda atraídos por juros elevados relativamente aos países desenvolvidos. Há uma segurança na estabilidade da taxa de câmbio para o 2013 e de manutenção de juros relativos elevados o que assegura a entrada de capitais estrangeiros em um mundo desenvolvido semi-estagnado, com poucas opções de investimento. A conclusão é que o setor externo brasileiro está tranquilo e que não é foco de preocupação para o futuro. Discussões sobre a estabilidade da taxa cambial foram duras, mas de modo geral a conclusão foi de há margem para desvalorização. O Brasil continua um país caro para os visitantes estrangeiros e barato para os brasileiros que viajam para o exterior. A taxa de câmbio flutuante está cada vez menos flutuando limpamente e mais sujamente.
2. O crescimento medíocre do PIB em 2012 preocupa a todos. No entanto, a queda de investimentos seguiu a tendência dos anos anteriores. Foi notado que a política econômica foi titubeante, e que os instrumentos de estímulo foram administrados como em um balcão de negócios, sem direção clara. Decisões setoriais, tendendo para o casuísmo, forçam a economia a direções ambíguas e muitas vezes equivocadas.
3. Lamentou-se o fato de o governo não ter deixado claro no início de 2012 que adotaria uma política fiscal expansionista, se necessário, para perseguir maior taxa de crescimento. Pesou na decisão das autoridades de sustentar até o final que a meta do setor público consolidado seria cumprida o fato de que reduzi-la implicaria mudança na lei. O superávit primário só foi formalmente alcançado mediante interpretação duvidosa do conceito de resultado do Tesouro e da metodologia de apuração de indicadores de finanças públicas. Prevaleceu entre os presentes o entendimento de que deveriam ser expurgadas rubricas questionáveis, podendo-se considerar despesa primária (capitalização de bancos públicos) empréstimos do Tesouro ao BNDES por meio da entrega de títulos e aumento de capital da CEF com a transferência de ações de outras empresas. Do lado das receitas, contribuíram de forma heterodoxa na apuração do resultado o adiantamento de dividendos da mesma CEF e do BNDES, e o volumoso resgate de cotas do Fundo Soberano do Brasil, entre outras operações triangulares. O superávit primário assim obtido é um número irrelevante para fins analíticos e claramente foi objeto de manipulação. Os economistas independentes terão que fazer cálculos complexos, com grande margem de incerteza, para determinar o resultado correto. O governo não discutiu previamente com eles, nem com a academia esses e outros artifícios anteriores, produzindo dados incomparáveis e susceptíveis de críticas. Deve-se louvar a transparência das estatísticas governamentais, no entanto.
4. A discussão sobre a doença holandesa e o papel do País nos BRICS foi forte. O debate sobre a inserção internacional competitiva da economia brasileira deve ser realista e levar em conta que a concorrência não pode ser feita em todos os produtos. Em outras palavras, precisa-se aceitar a perda de indústrias ineficientes e concentrar os esforços nas que têm vantagens comparativas. Deve-se observar que a tendência de redução da carga tributária deve continuar, o que gera queda de receita e consequentemente menor capacidade de o governo apoiar setores descompassados da economia. Parece certo que o País está crescendo com base em recursos naturais, e as empresas brasileiras estão perdendo parte de seu mercado interno por absoluta falta de competitividade. Dentre os BRICS, a China parece controlar suas multinacionais que ali operam, o que não é o caso brasileiro. Há uma ausência de agenda para a indústria.
5. Voltadas as atenções para a retração do investimento privado, debateu-se a importância do índice de confiança da CNI, como instrumento de prognóstico dos humores do empresário industrial. Houve participantes que o defendessem, mas em geral concordaram que, não obstante sua base metodológica internacional, faltam estudos analíticos que permitam aos economistas avaliar a relevância do indicador para determinar o rumo futuro do investimento. Assim, muito embora os números atuais sejam otimistas, é difícil concluir que sugerem um aumento dramático nos investimentos, o que seria necessário para retomar o crescimento econômico rapidamente.
6. O Brasil tem batido recordes mundiais de crescimento de vendas de automóveis e de produtos da linha branca, sugerindo um aquecimento excessivo do consumo de bens duráveis, o que deve ser visto com cautela, por corresponder à taxa de poupança inferior à de outros países emergentes e implicar o elevado grau de endividamento das famílias.
Lista de presença da reunião do dia 19/01/2013
1. Adriano Benayon
2. Augusto Hiromu Emori
3. Carlito Roberto Zanetti
4. Carlos Eduardo de Freitas
5. Diones Alves Cerqueira
6. Edimar Miguel
7. Elder Linton Alves Araújo
8. Guid Silva
9. Hélio Socolik
10. Hermes Homero B. de Souza
11. José Eustáquio M. Carvalho
12. José Fernando Cosentino Tavares
13. José Luiz Pagnussat
14. José Roberto Novaes de Almeida
15. Jucemar Imperatori
16. Licio Granjeiro
17. Miguel Rendy
18. Silas Franco de Toledo
19. Tulio E. Marques Júnior