A economia brasileira voltou ao azul em 2017, após dois anos de forte queda do PIB, de mais de 7%. Puxado pela agropecuária, que cresceu 13%, o PIB brasileiro avançou 1%, com a indústria estável e o setor serviços registrando alta de 0,3% no ano. Foi destaque, já conhecido no primeiro trimestre do ano passado, o excepcional desempenho da safra de grãos, que aumentou em 30%, dadas as excelentes condições climáticas que permitiram esse recorde. Já o PIB per capita cresceu apenas 0,2%, o que indica que levaremos alguns anos, calcula-se entre 5 e 6, para recuperar a queda da renda dos brasileiros, de mais de 9%.
Os dados continuam ruins no mercado de trabalho, com 12,2% de desempregados em janeiro de 2018, o equivalente a 12,7 milhões de pessoas. Dessas, mais de 5 milhões procuram trabalho há mais de um ano. Os contingentes mais pobres aumentaram substancialmente, com 4,7 milhões de famílias retornando às classes de renda D e E no período de recessão. Os bons resultados de mobilidade social e redução da desigualdade obtidos nos primeiros 14 anos do século foram anulados. De outro lado, os lucros cresceram. Os bancos registraram resultados recordes. Grandes grupos, oligopólios e monopólios, tiveram aquiescência do governo para proteger ou até aumentar os seus ganhos no período de crise. O caso da Petrobrás foi exemplar, cuja política de preços tem em vista recuperar a empresa. Essa política penaliza o setor produtivo, com fortes impactos negativos na concorrência e elevação dos custos, além de aumentar o custo real de vida das populações que mais necessitam de transporte.
Ainda no campo social, os instrumentos de política pública cambaleiam com as ameaças, tanto do discurso político como das amarras legais estabelecidas na área fiscal, com o Teto do Gasto e as reformas propostas.
Esse quadro – desemprego, aumento da pobreza e da desigualdade e a perspectiva de recuperação lenta das conquistas anteriores ao período de recessão – é um ambiente fértil para ideias e candidatos oportunistas nas próximas eleições. Este ano, em especial o segundo semestre, tenderá ser de relativa instabilidade para a economia, diante das incertezas que se arrastarão até que se tornem mais claras as opções para os governos e as pautas econômicas dos postulantes competitivos.
Não obstante, o conjunto de indicadores da macroeconomia brasileira está bom e fortalece a confiança tanto dos empresários como dos consumidores.
O setor externo da economia brasileira faz inveja à maioria dos países. O superávit de comércio foi recorde em 2017, de US$ 64 bilhões, com as exportações e importações crescendo. O déficit em transações correntes foi de apenas US$ 9,8 bilhões, com entrada líquida de Investimento Direto Estrangeiro girando em torno de US$ 60 bilhões. O País ostenta, ainda, mais de US$ 380 bilhões em reservas internacionais.
Na área monetária, a taxa Selic é a mais baixa da era das metas de inflação (6,75%), com possibilidade de novas reduções no decorrer do ano. A inflação está abaixo do piso da meta e projeções indicam que permanecerá sob controle.
A má situação fiscal está se revertendo e a perspectiva é de que continue a melhorar gradualmente. O déficit está sendo atenuado com o aumento da arrecadação, observado desde o final de 2017, que reflete em boa parte a retomada do crescimento da economia, e alguma racionalização das despesas. A queda dos juros reduz os custos da dívida pública. Os prognósticos para as dívidas líquida e bruta do setor público são de reversão da tendência de crescimento, com estabilização já em 2019, mesmo sem a aprovação da reforma da previdência.
Em síntese, os bons fundamentos macroeconômicos criam um ambiente favorável para a aceleração do crescimento da economia. A indústria, o comércio, os serviços e a agropecuária têm previsão de melhor desempenho em 2018 e 2019. O quadro social deteriorado, este, no entanto, vai exigir ação deliberada do governo, posto que a recuperação do emprego e da renda das camadas menos favorecidas pode se dar mais lentamente, e nesse caso seu bem estar pode ser melhorado com um governo mais ativo em funções que beneficiam diretamente as populações, como já está acontecendo timidamente na área da segurança pública.