A crise financeira global iniciada nos EUA em setembro de 2008 ficou para trás. Os dados da economia mundial mostram que a maioria dos países vem mantendo trajetória de crescimento sustentado há vários anos, com queda acentuada do desemprego e inflação sob controle. A média do crescimento mundial entre 2010 e 2016 ficou ao redor de 3% a.a., com projeções de aceleração para os próximos anos.
A principal economia mundial e berço da crise (EUA) manteve taxa de crescimento média acima de 2% nos últimos sete anos e a taxa de desemprego caiu do patamar de 10%, entre 2009 e 2010, para 4,4% em agosto de 2017.
A China manteve elevadas taxas de crescimento econômico, entre 6,7% e 10,4%a.a., desde o início da crise. Os dados de crescimento do PIB chinês se mantiveram acima da meta do governo, que nos últimos anos foi de 6,5%a.a., e as projeções para os próximos anos são de aceleração do crescimento da economia chinesa.
A Zona do Euro mantém taxa de crescimento positiva a dezessete trimestres seguidos, desde o segundo trimestre de 2013. A taxa de desemprego caiu do patamar de 12,1%, em 2013, para 9,1% em julho de 2017.
Os países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mantêm a trajetória de redução da “Taxa de Desemprego Harmonizada” desde o início de 2013, caindo para 5,8% em julho de 2017, menor taxa verificada desde maio de 2008.
Enquanto isso, o Brasil amargou a maior recessão da história, com queda de 7,2% do PIB no biênio 2015-2016, e dobrou o desemprego em dois anos, chegando a taxa de desocupação aos recordes de 13,7% no primeiro trimestre de 2017. Os recentes sinais positivos na economia brasileira são tímidos e a retomada do crescimento, lenta. O fato é que a política econômica brasileira manteve o pé no freio, com sua política de juros altos, com exceção do intervalo entre 2012 e 2013, enquanto o resto do mundo, com poucas exceções, pratica política agressiva de afrouxamento monetário (quantitative easing) e juros de polítca monetária próximos de zero, desde o início da crise. Em 2015 e 2016, juros altos tiveram como razão a necessidade de combater os efeitos do desrepresamento dos preços administrados.
Os países que saíram da crise tiveram como pilar da política econômica a abundância do crédito. Os EUA mantiveram as taxas de juros em 0,25%a.a. por longo período, entre 2008 e 2015, e os ajustes recentes foram parcimoniosos, elevando a taxa gradativamente a 1,25%a.a., patamar abaixo da inflação. A Zona do Euro vem mantendo a taxa de juros (taxa de refinanciamento) em zero e a compra de títulos em volumes elevados, o que amplia a oferta de moeda e a pressão baixista nas taxas de juros de mercado. O Japão (-0,10%), a Suécia (-0,50%) e a Suíça (-0,75) mantêm taxas negativas. No Reino Unido está em 0,25%a.a., e no Canadá e Noruega, em 0,50%a.a.
Em junho de 2017, entre as 50 principais economias do mundo, apenas o Brasil e a Argentina tinham taxas de juros de política monetária acima de 10% a.a. No caso da Argentina, explicável pelo descontrole da inflação nos últimos anos. No caso do Brasil, não havia como justificar juros tão altos com a inflação em 12 meses muito abaixo da meta. .
Entre janeiro de 2016 e agosto de 2017 a inflação caiu 8,25 pontos percentuais, passando de 10,71% para 2,46%a.a., resultado do choque de oferta, com a maior safra agrícola da história. Nesses 18 meses, o Comitê de Política Monetária do Banco Central reduziu a taxa Selic em apenas 6 pontos percentuais, passando de 14,25 para 8,25% na reunião de setembro, em ritmo mais lento que o recuo da inflação. A taxa de juros real subiu 60,7% nesse período, e hoje está em 5,69%, enquanto o Brasil continua patinando na sua tentativa de retomada do crescimento.
A retomada do crescimento que agora está sendo ensaiada deveu-se mais ao valor agregado pela safra a que nos referimos, à redução do endividamento das famílias, e à queda da inflação, principalmente atribuída a dois anos seguidos de recessão, que melhor preservou o poder aquisitivo dos consumidores e deu aos trabalhadores algum ganho real de renda em negociações salariais recentes.
O Brasil tem fundamentos econômicos comparáveis à maioria dos países que relaxaram sua política monetária e apresenta todas as condições para recuperar seu nível de atividade, mas é necessário destravar a economia, com taxa de juros básica de país civilizado e política monetária que proporcione crédito com preços e volumes equivalentes aos praticados no resto do mundo. O crescimento, viabiliza melhores receitas tributárias e menos gastos assistenciais, permitirá superar a principal dificuldade que o governo atravessa, que se situa no campo fiscal.