À QUEIMA-ROUPA
César Bergo, presidente do Conselho Regional de Economia do DF
Havia uma expectativa muito grande em torno da retomada da economia com o início da vacinação. O agravamento da pandemia mudou
esse cenário?
De fato, havia uma grande esperança. Mas ela continua existindo, pois podemos considerar que a vacinação como uma medida efetiva de combate à pandemia não começou. Falta o elemento principal: a vacina. Além disso, o Distrito Federal passou a figurar no rol das áreas de maior risco de transmissão da doença. Não tenho dúvida de que isto impactou decisivamente todas as expectativas positivas para o ano de 2021. O ano de 2020 já havia sido terrível, tanto no aspecto econômico quanto no epidemiológico.
No Distrito Federal, qual avaliação o senhor faz da economia neste momento?
Existe um consenso de que o atual cenário exigirá grandes esforços para superar o desafio de levar a economia de volta aos trilhos. Muitos setores sofrem ainda de paralisação em razão das questões sanitárias. Mas, depois de um ano, podemos observar que algumas atividades tiveram relativo êxito em fazer as adequações necessárias e, com criatividade e coragem, vêm conseguindo vencer os obstáculos e até apresentar crescimento. Ajuda, também, o fato de Brasília ser o centro do poder nacional, e as atividades inerentes a essa característica ajudam a manter o nível de atividade econômica.
E quais as perspectivas no âmbito local?
As perspectivas são boas no médio e no longo prazos. No curto prazo, temos de vencer as questões de cunho sanitário. Mas o Distrito Federal continua sendo e sempre será uma região plena de oportunidades. Oportunidades estas que estão sempre abertas a quem sabe empreender e tirar proveito. Seja individualmente, seja coletivamente.
O que pode ser feito pelo GDF para tentar assegurar uma retomada mais rápida?
Traçado o diagnóstico, o ponto de partida é investir, prioritariamente, em áreas geradoras de emprego e renda. É necessário que o governo reúna em seu entorno competência, preparo, capacidade de ação para alcançar tal objetivo. Podemos dizer que muitas providências que os poderes locais vêm tomando mostram-se surpreendentes e positivas. Mas é necessário mais esforço e diálogo, pois são imensas as expectativas dos agentes econômicos locais em relação às ações urgentes que não podem ser adiadas.
Por outro lado, é preciso garantir segurança e saúde. O senhor acredita que as medidas mais rígidas são necessárias, apesar do impacto
na economia?
Vejo que o atual governador é uma pessoa de diálogo, mas faz questão de observar os pareceres técnicos sobre as questões. O seu estilo é inspirado no tradicional modelo democrático de se governar e de se encontrar um denominador comum. Sou favorável à adoção dos protocolos indicados pelas autoridades da saúde. Mas, ao mesmo tempo, muita experiência adquirida neste ano de pandemia poderia se tornar regra nos planos de contingência, e isso eu não observo que esteja acontecendo. Muitas decisões poderiam ser mais bem planejadas.
Nacionalmente, qual impacto terá o retorno do auxílio emergencial? O valor atual é suficiente para socorrer as famílias e aquecer a economia?
Impossível, nos dias de hoje, desconsiderar a gravidade do momento. Esta pandemia praticamente criou uma civilização com novas modalidades de empregos, estilos de vida, ética do trabalho e atitudes sociais. Consequentemente, afetou as estruturas econômicas e políticas. Neste momento histórico, antes de pleitear quaisquer medidas em interesse próprio, o indivíduo terá de rever suas convicções. Por isso, considero imprescindível e válido o auxílio emergencial. O valor vai propiciar um alento, mas não é suficiente para garantir a sobrevivência de uma família, principalmente no atual cenário de alta nos preços dos alimentos. As decisões carecem de um planejamento sólido e responsável e, infelizmente, são adotadas em contexto de forte ascendência política.