9 perguntas e respostas sobre os impactos da crise do mercado global
“É hora de ter cautela. As pessoas vão ter que olhar para o futuro, acreditar que daqui a 8, 9 meses, as coisas vão ser normalizadas”, diz especialista.
Nesta segunda-feira, o mundo viu as bolsas desabarem em todo o globo. A de Nova York caiu 7%. No Brasil, o Ibovespa despencou 12,1%, a maior queda desde 1998. Nos dois casos, a rara opção do circuit breaker – operação que paralisa os negócios da bolsa – foi acionada. O dólar atingiu a marca de R$ 4,72 e o barril do petróleo viu seu preço derreter 28%, a maior baixa desde a Guerra do Golfo, em 2001.
Mas como chegamos a isso? Como esse pânico nos mercados te afeta? E o que fazer diante desse cenário?
Para responder essas e outras questões, o HuffPost Brasil ouviu o economista César Bergo, presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), e o economista da FGV Mauro Rochlin.
O principal conselho dos especialistas, agora, é manter a calma. Por mais difícil que pareça.
Os números, que já estavam no negativo por causa da disseminação do coronavírus e da crise político-econômica por aqui, foram acentuados na madrugada de segunda (9) com o fracasso nas negociações entre a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e a Rússia, na sexta (6). Em decorrência do novo vírus, os mercados buscavam diminuir a produção de petróleo. Com o impasse nas negociações, a Arábia Saudita aumentou a produção e reduziu os preços do petróleo para alguns mercados.
Para completar, o mercado brasileiro já vinha sofrendo flutuações por causa da troca de farpas entre o Congresso e o Executivo. Incertezas em relação às reformas defendidas pelo governo e declarações polêmicas do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, também têm mexido com o humor da economia.
Todos esses ingredientes juntos acenderam um alerta sobre o que esperar para os próximos dias. O cenário é incerto, mas há indícios do que pode vir pela frente. Veja o que dizem os especialistas:
1. O que podemos esperar para os próximos dias?
Para Mauro Rochlin, quem disser que está entendendo o que está acontecendo está mal informado. “O cenário é muito confuso. Além de uma crise em andamento que a gente já estava sofrendo, o que aconteceu nesta segunda mostra como o ambiente em que a gente transita é um tanto instável, sujeito às piores intempéries. Altas podem causar danos no mercado, mas baixas muito bruscas também. Surpreendentemente vimos o preço do petróleo desabar e, em vez disso ser comemorado, como algo que representa custos mais baixos, está sendo lamentado.”
Na avaliação dele, enquanto pairar esse ambiente de insegurança, os mercados vão flutuar de maneira muito acentuada. Será possível ver alternância entre altas e baixas. “Se amanhã o mercado subir fortemente, não vai causar muito espanto”, pontua.
2. O que acontece com o mercado?
Ainda de acordo com o professor da FGV, o problema do ponto de vista estritamente financeiro é a variação brusca em espaço de tempo curto, o que é chamado no “economês” de volatilidade. Segundo ele, esses movimentos muito voláteis para os mercados causam insegurança e, por si só, acaba havendo impacto muito ruim na economia real. “Essa insegurança provoca uma certa paralisia nos mercados – ninguém decide, os investimentos são adiados e com isso, a economia cresce menos, emprego cresce menos, salário cresce menos e renda também.”
3. E no longo prazo?
Segundo o presidente do Corecon-DF, César Bergo, o preço do leite e da farinha devem sofrer alterações no longo prazo porque a cadeia brasileira depende muito de importações. O consumidor, segundo ele, também vai sentir diferença em alguns produtos, sobretudo aqueles que são produzidos na China. “Já há impacto no suprimento de peças, como na área de eletrônicos, na área de veículos”, diz.
4. Com a queda no preço do petróleo, o combustível também vai cair?
A expectativa de Bergo é que o preço da gasolina sofra uma redução, apesar da alta do dólar. “Não sabemos como vai ocorrer esse repasse, deveria cair rápido. O setor de transporte deve ser beneficiado, assim como o cidadão comum.”
5. E no dia a dia, o que devemos fazer?
“É hora de ser prudente. Não se sabe o futuro da crise. Ter calma hoje é fundamental. As pessoas vão ter que ter tranquilidade, adiar a compra de um determinado produto, caso o preço suba. É tudo uma questão sazonal. As pessoas vão ter que olhar para o futuro, acreditar que daqui 8, 9 meses, as coisas vão ser normalizadas e aí elas vão poder realizar os seus sonhos”, diz Bergo. “Vai ter uma trégua. Não tem mal que sempre dure”, brinca.
Para ele, um dos efeitos negativos será na taxa de desemprego. “Já está altíssima e em uma situação de crise, a tendência é piorar. Falava-se em PIB de 2% para este ano, mas isso já se perdeu em função de tudo que aconteceu nesse início de ano. O impacto no Brasil vai ser sentido, mas em uma dimensão muito menor que em outros países.”
6. Por que a bolsa parou? O circuit breaker deixa sequelas no mercado?
Quando a bolsa cai 10%, segundo Bergo, ela suspende os negócios para os investidores pensarem. “Ela abre de novo e, se continuar caindo, fecha de novo. Se continuar caindo, fecha e não abre mais. São mecanismos previstos para acalmar as pessoas, para que elas não façam algum tipo de negócio e se arrependam. É um mecanismo interessante, mas, infelizmente, quando acionado, em um sistema de crise, em que não foi identificado o epicentro e ainda está nebuloso, ela reabre e continua caindo. Não aconteceu isso, mas é comum.”
7. É a primeira vez que uma epidemia impacta a economia?
Rochlin aponta a SARS, conhecida como gripe aviária, como um episódio relativamente recente que causou certo impacto na economia. “Mas se a gente for ver os indicadores de bolsa de valores e câmbio na ocasião, nem de longe foram tão afetados como está sendo agora. Temos agora uma situação muito singular porque agora foi acentuada também pelo petróleo”, ressalta.
8. Por que o coronavírus está causando tamanho impacto?
De acordo com Bergo, o principal diferencial do surto atual é como o governo chinês tratou a doença no início e como os países estão lidando hoje. Inicialmente, a China escondeu o tamanho do problema e, quando assumiu, decretou uma espécie de quarentena geral. Muitos postos de trabalho foram suspensos, feriados foram prolongados e a produção caiu.
Como os mercados hoje são mais dependentes da China do que em 2003 (quando houve o surto da SARS), eles foram diretamente afetados. “As relações comerciais estão ligadas às relações humanas. Se você reduz as relações humanas, países se fecham, fazem quarentenas, as relações diminuem”, diz.
9. Qual é o conselho para quem precisa comprar moeda estrangeira?
Segundo, Rochlin, o ideal é comprar aos poucos. “Mesmo com a moeda alta agora, vale seguir essa estratégia, o preço médio vai ser o melhor possível do período.”
Fonte: HUFFPOST