CÉSAR AUGUSTO MOREIRA BERGO
CORECON-DF Nº 5661.
Ao se avaliar uma alternativa de investimento, a questão mais adequada não é “qual a taxa de retorno?”, mas sim “essa taxa de retorno é suficiente para compensar o risco?”. Essa idéia implica na relação básica entre risco e retorno: quanto maior o retorno esperado, maior o risco e vice-versa. Assim, o retorno de um investimento pode ser definido de acordo com o total de ganhos ou perdas deste investimento num certo período. Já o risco pode ser considerado como a dispersão do retorno de um ativo em torno do seu valor esperado, ou seja, sua variância. Tecnicamente é assim que funciona.
A remuneração dos títulos públicos tem como referência a taxa básica de juros da economia, SELIC, que é, também, o principal instrumento de política monetária utilizado pelo Bacen para controlar a inflação. Ela é fixada pelo COPOM, Comitê de Política Monetária do Banco Central, cujos cargos são ocupados pelos membros da diretoria colegiada do Bacen e segue as diretrizes traçadas pelo Conselho Monetário Nacional.
Constatações empíricas permitem afirmar que os rendimentos acumulados são menores para títulos públicos. Na análise do comportamento desses investimentos podemos afirmar que há um prêmio menor por ser menor o risco. Pode-se afirmar, igualmente, que há um prêmio por assumir risco que recebem os detentores dos títulos: quanto mais incerto o resultado (como é o caso das ações) maior o retorno, e quanto mais certo é o retorno obtido (títulos públicos) menor o retorno. Para esta última categoria costuma-se dar o nome de “ativos livre de risco” e ao seu retorno a “taxa de juros livre de risco”. Esse ativo não possui risco sistemático. Isto é típico dos chamados ativos livre de risco.
Na prática, não é tão simples assim. Quando um título público é corrigido abaixo da inflação o resultado é um rendimento real negativo. Existem diversas ferramentas e metodologias para se medir os riscos no mercado financeiro, mas do modo geral não existe uma metodologia padrão. A decisão e a escolha da melhor ferramenta ou técnica dependem da característica de cada investidor, bem como ao tipo de risco que está disposto a assumir. No entanto, existem algumas sugestões gerais, tais como: ter boa compreensão dos mercados e produtos financeiros; acessar sistemas de informação confiável e boas práticas de controles; possuir conhecimento dos modelos; contar com assessoria de profissionais experientes e com boa formação; e, finalmente, desenvolver uma cultura para a gestão de risco. Estas observações são válidas tanto para investidores individuais como para empresas.
Nesse sentido, quatro passos são fundamentais para o gerenciamento permanente do risco, a saber: determinar a tolerância em relação ao risco; mensurar, identificar e classificar a exposição ao risco; implementar a apropriada estratégia de gerenciamento do risco; e, monitorar a exposição ao risco e a estratégia adotada.
No cenário atual, é importante observar que a ameaça de ressurgimento do temível fantasma inflacionário — o indicador oficial de inflação no país, IPCA, disparou a mais de 8% em base anual — reforça as preocupações do mercado financeiro, sobretudo pelo alto grau de indexação ainda existente em nossa economia. Assim, não é prudente aguardar que o Banco Central (COPOM) deixe de lado a sua recente política de aumentar a Taxa Selic rumo à taxa neutra de juros, com o objetivo de combater efeitos inflacionários sem prejudicar a atividade econômica. Assim ele promoveu uma nova alta de 0,75% da taxa SELIC elevando para o patamar de 4,25%.
Além de necessário, esse realinhamento das expectativas inflacionários se mostra fundamental para eliminar ruídos e mostrar firmeza na atuação da autoridade monetária. O mercado já vem agindo de forma otimista no tocante aos indicadores de crescimento. Para ilustrar, temos que o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) de abril mostrou importante inversão de tendência e subiu 0,44%, ante queda de 1,6% em março. Mas não podemos deixar de olhar com a devida atenção o risco hídrico e as pressões inflacionárias, além das incertezas com relação ao combate da pandemia causada pela Covid-19.
César Augusto Moreira Bergo, é Presidente do CORECON-DF. Economista, sociólogo e mestre em finanças e especialista em administração estratégica e governança corporativa pela FIA/USP. Professor de pós-graduação universitária e de diversos cursos no mercado financeiro. Atua há mais de 40 anos no mercado financeiro tendo exercido cargos de executivo em bancos, corretoras e distribuidoras de valores, além de possuir diversas certificações para atuar no mercado financeiro.