Conselho Regional de Economia do Distrito Federal – Corecon-DF
Grupo de Conjuntura Econômica – relatório da Reunião nº 10/2013, realizada em 07/12/2013
Tema: “A política econômica do Governo Dilma: afinal, o que está incomodando?”
Para tentar responder a questão acima o grupo de conjuntura analisou os fundamentos macroeconômicos (fiscal, cambial/ setor externo, monetário/ inflação) e as projeções para 2014; analisou ainda o episódio da revisão do PIB de 2012 (de 0,9 para 1%); e novos dados da economia divulgados pelo Banco Central e IBGE, em especial o PIB do terceiro trimestre que foi negativo (0,5); a PIM de outubro que mostra a Produção industrial em crescimento (0,6% em relação à setembro); a PMC que mostra as vendas no comércio varejista restrito com tendência de declínio; O IPCA de novembro mantém a trajetória de que no acumulado de 12 meses; o superávit primário ainda distante da meta prevista para o ano; o déficit comercial persistente e o crescente déficit em transações correntes, hoje com parte financiado pela entrada de capitais especulativos.
Os participantes da reunião do Corecon viram com satisfação o fato de o IBGE ter se revelado independente, ao dar a público a revisão do PIB de 2012, com aumento real de apenas 0,16 ponto de percentagem, contrariando estimativas exageradamente otimistas do Ministério da Fazenda, este que deveria ser instituição cautelosa em suas projeções. O episódio chamou mais atenção por ter a Presidente da República tornado pública essa estimativa não oficial, de que o crescimento do PIB em 2012, de 0,9%, teria sido revisto para 1,5%, e de maneira ainda mais pública por ter sido afirmado em entrevista no exterior, para o jornal espanhol El País. Seria possível concluir de tal episódio que as autoridades recebem informações do IBGE ao mesmo tempo que o público, situação comum nos EUA e em outros países desenvolvidos, para evitar vazamentos indevidos de dados e preparação exagerada dos governantes para justificar dados estatísticos que lhes são insuficientes.
A maioria dos participantes queixou-se do incômodo, além da estagnação econômica, com a alta volatilidade do PIB, causada em sua maior parte não por fenômenos que podem naturalmente ocorrer no atual cenário, mas sim pela falta de continuidade da política econômica. Para alguns participantes a volatilidade do PIB brasileiro não está entre as maiores e que inclusive as nações desenvolvidas vem apresentando alta volatilidade.
Predominante na reunião, a opinião foi de que a política econômica está exageradamente voltada para o combate à inflação e as medidas de política concentradas no acessório e no curto, para não dizer curtíssimo prazo, sem levar muitas vezes em conta os aspectos fundamentais da economia. Assim, em primeiro lugar, há certo desconforto dos economistas com a desnecessária prática da contabilidade criativa, particularmente no campo das contas públicas, que faz com que os resultados do Tesouro Nacional sejam de leitura difícil, se não impossível, e com que passemos a ser obrigados a examinar indicadores como a dívida bruta, que assume cada vez mais importância aos olhos dos analistas – mesmo que conceitualmente menos relevante que a dívida líquida, porque esta última é o objeto de crescentes manipulações.
Em segundo lugar, houve uma redução exagerada, em período muito curto, nos preços da energia elétrica, trazendo um alívio temporário que deveria se diluir no tempo. Quanto aos demais preços administrados, houve em 2013 efeitos puramente estatístico que afetaram alguns preços, como a queda recente no preço nas passagens aéreas, devida em boa parte ao aumento excessivo que havia tido lugar em 2012.
Em terceiro lugar, registrou-se arrecadação extraordinária de tributos, fruto da negociação vantajosa para os devedores ou da pressão sobre empresas patrocinadas pelo governo, como é o caso da Vale. Embora verdadeira a informação de que a regularização da situação fiscal de determinados contribuintes implique a melhoria dos fluxos mensais da receita, ingressos elevados decorrentes do acerto com redução das penalidades são once and for all.
Finalmente, muito embora a balança comercial caminhe para um indesejado equilíbrio, haveria ali possivelmente um déficit até outubro de 2013 se as estatísticas tivessem sido compiladas adequadamente, com estrita base temporal e sem o registro de exportações e importações efetivas. Como consequência, o dado crucial da posição externa, o saldo das transações correntes, seria ainda maior que o apresentado.
Parece certo que não vamos ter uma inflação baseada em commodities como foi em 2011, e tudo indica que haverá um pequeno crescimento de preços nesta área, em 2014.
Lista dos participantes:
- Augusto Hiromu Emori
- Carlos Eduardo de Freitas
- Della Henry
- Elder Linton
- José Luiz Pagnussat
- José Roberto Novaes de Almeida
- Jucemar José Imperatori
- Mário Sérgio Fernandez Sallorenzo
- Remi Castioni
- Victor José Hohl