Conselho Regional de Economia do Distrito Federal – Corecon-DF
Grupo de Conjuntura Econômica – relatório da Reunião nº 04/2013, realizada em 04/05/2013
Tema: A atual estagflação brasileira
A imprensa diária especializada tem apresentado, às vezes, uma visão rósea do futuro que, entretanto não foi bem acolhida pela grande maioria dos participantes. O diagnóstico do Grupo é de uma economia em pleno emprego de mão de obra e em capacidade instalada. Um participante notou, no entanto, que a economia, no momento, parecia estar melhor que no começo do ano, muito embora não haja certeza que tal cenário seja estável. Muitos observaram que é necessário um planejamento econômico a médio prazo e não apenas para os próximos dois anos, dada a magnitude da estagflação.
A preocupação com a qualidade dos dados fiscais foi veementemente manifestada pelos participantes. Esta é uma área metodológica de competência dos conselhos de economia, já que os profissionais da área necessitam saber todos os detalhes de construção dos dados oficiais para emitir seus pareceres. Ao contrário de reuniões anteriores, em que alguns participantes defendiam as autoridades dizendo que ao menos havia transparência total na elaboração dos dados, nenhum participante produziu este comentário. Foi notado que pelo menos um dos grandes bancos privados tornou público um déficit fiscal adjetivado com o nome de “limpo”. A conclusão geral é que não é admissível que não haja uma meta de superávit primário, sob pena de aumentar a desconfiança dos agentes econômicos a um ritmo que pode levar à argentinização dos dados brasileiros. Há forte suspeita que déficit fiscal seja maior que aparenta ser, o que causa receio que tal comportamento possa estar sendo repetido, trazendo intranquilidade aos agentes econômicos.
A discussão sobre a relação entre inflação e crescimento foi acirrada e uma das opiniões mais moderadas foi a de que o governo fez uma aposta pró-crescimento pela demanda, sem se preocupar com a inflação. O aumento recente da Selic foi considerado quase que simbólico, como se as autoridades quisessem fazer uma sinalização propositadamente deficiente. Um dos participantes mais contundentes afirmou que o governo parece estar gerindo um número para a inflação e não o processo inflacionário, de modo que o resultado final é altamente duvidoso; não há problemas com números baixos inflacionários, mas quando a inflação efetiva nos últimos 12 meses passa de 6,5% a preocupação é aguda. Outro participante notou que entre as 14 maiores economias que são examinadas rotineiramente pelo New York Times apenas a Rússia, com inflação de 7%, tem uma taxa superior a do Brasil: isto é mesmo preocupante.
Outro participante notou que volatilidade do governo está aumentando a passos rápidos de modo que o futuro está cada vez mais incerto. Regras estáveis parecem estar sendo abandonadas em favor de regras ad hoc. Como resultado, o gestor em passado recente que tinha confiança no governo hoje já não o tem. No passado acreditava-se que quando o governo dizia que a inflação iria cair os agentes econômicos agiam com esta convicção, mas hoje não o fazem mais, o que irá requerer das autoridades medidas de política econômica ainda mais pesadas que anteriormente. Frisou-se que a manipulação da taxa de juros parece ser, erradamente, o único instrumento de política econômica e que as desonerações fiscais, pontuais e confusas em seu desenho, pouco fazem para dar ao público um senso de estabilidade. Muitos participantes frisaram e que é crucial determinar-se uma política tributária universal e não uma política pontual que além de resultados ambíguos pode gerar corrupção dada a escolha aparentemente aleatória dos setores beneficiados.
Boa parte dos participantes insistiu que o produto potencial já tinha sido alcançado. Uns poucos participantes indicaram uma posição mais otimista, seguindo uma linha recente manifestada pelo BNDES.
O balanço de pagamentos que não se constituía um problema já dá sinais de preocupação, tendo presente as perspectivas do déficit da conta corrente. Há como que um esgotamento das políticas econômicas correntes, o que pode ameaçar o futuro, uma vez que as reservas internacionais do país são derivadas da conta financeira e não da conta-corrente e daí serem voláteis, embora aparentemente sólidas.
Lista dos participantes da reunião de 04.05.2013
1. Augusto Hiromu Emori
2. Carlos Eduardo de Freitas
3. Cláudio Jaloretto
4. Iracy V. Santos Silvano
5. José Fernando Cosentino Tavares
6. José Luiz Pagnussat
7. José Roberto Novaes de Almeida
8. Jucemar José Imperatori
9. Mário Sérgio Fernandez Sallorenzo
10. Ronaldo Galloti
11. Túlio E. Marques Jr.