Três perguntas: o que os aeroportos têm de tão especial?
Os aeroportos foram as grandes estrelas nos leilões organizados pelo governo federal na Infra Week, no começo do mês de abril. Conversamos com César Bergo, coordenador da Pós-Graduação em Mercado Financeiro e Capitais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília e presidente do Conselho Regional de Economia da 11ª Região, sobre sua avaliação desses leilões, como estão os aeroportos que já haviam sido concedidos pelo governo federal e as perspectivas dos próximos leilões do setor aeroportuário.
Como você avalia o resultado dos leilões de concessão dos aeroportos na Infra Week?
O resultado do último leilão dos 22 aeroportos foi altamente positivo. O interesse de grupos nacionais e estrangeiros pelo edital comprovam esse sucesso. O compromisso assumido pela iniciativa privada, de realizar os investimentos necessários nos próximos anos, permitirá que a infraestrutura aeroportuária atenda aos grandes desafios ditados pelo ritmo crescente da demanda pelos serviços aéreos.
Sabe-se que a busca das melhores formas de organizar e gerir um negócio para viabilizar seu desenvolvimento e gerar bons resultados é a tônica dos processos vencedores desses leilões dentro do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do Governo Federal.
Apesar da crise atual e a consequente queda na demanda em decorrência da pandemia, temos que os contratos firmados pelo prazo de 30 anos garantem a segurança necessária a esses investimentos. Não tenho dúvida que os investimentos, por meio de concessões, vão gerar impactos positivos na competitividade dos negócios e no desenvolvimento econômico.
Como estão os aeroportos que já foram leiloados?
Os 22 aeroportos que já estão sob o controle de empresas privadas respondem por 66% da movimentação total de passageiros do país. Com esses novos blocos leiloados essa parcela deve aproximar dos 80% de transporte de passageiros nos aeroportos nacionais. Desde então, todos eles vêm recebendo investimentos para a construção de novos terminais de passageiros e estacionamentos, ampliação do pátio de aviões e melhorias nas pistas de pouso e decolagem, entre outros.
Eles também tiveram aumento significativo na capacidade de passageiros. Para ilustrar, cito apenas o caso dos seis primeiros terminais que foram leiloados que, antes das concessões, tinham capacidade para transportar 93,9 milhões de passageiros ao ano e, hoje, essa capacidade é de 161 milhões, um aumento de 71,5%.
Os investimentos feitos nos aeroportos já privatizados melhoraram a infraestrutura aeroportuária do país, algo que, na minha visão, não seria possível caso permanecessem sob controle da Infraero. Está comprovado que neste segmento, por diversos fatores, o capital privado é mais eficiente para buscar os retornos necessários à manutenção e modernização da atividade. Em Brasília, um cartão-postal do país, por exemplo, o aeroporto que era uma lástima funciona, hoje, muito bem. E não é somente na parte estética e de conforto dos passageiros, o terminal de Brasília é referência em diversos outros quesitos e está mais adaptado e eficiente.
O bom desempenho empresarial passou a ser considerado, então, função do ajuste do negócio a seu ambiente. É nesta direção que devemos direcionar nossa atenção para compreender as transformações ocorridas nos aeroportos na última década. A capacidade operacional para cargas e passageiros mais do que dobrou nesta última década, considerando que esse processo de concessão foi iniciado em 2011.
A situação econômica dos empreendimentos já leiloados é bastante variável. Enquanto poucos aeroportos não alcançaram o ponto de equilíbrio financeiro, a maioria conseguiu apresentar melhoras significativas, em particular aqueles que obtiveram sucesso na utilização da capacidade ociosa ou na ampliação significativa na oferta de serviços. Também foi preciso desenvolver ainda as instalações de operação, tais como vias de circulação, pistas, pátios e outras áreas, a fim de atender ao crescente volume de tráfego e receber aviões de maior porte.
Além disso, problemas atuais vieram agravar o quadro financeiros dessas estruturas com despesas suplementares especialmente para atender as exigências de segurança, para aplicar medidas de redução ou de preservação de ruído aeronáutico e, também, significativamente, para participar dos programas de combate ao tráfico de drogas e ao terrorismo.
As empresas aéreas sentiram-se aliviadas, pois a elas interessa que o cliente seja bem atendido e que elas possam voar para onde for necessário. A situação gerada pela falta de investimentos nos terminais estava levando o setor aéreo a um estado de estrangulamento.
Quais deverão ser os próximos passos do Governo Federal com os leilões de concessão do setor aeroportuário?
Não tenho dúvida de que os próximos anos serão marcados por um cenário de recuperação e expansão do tráfego aéreo e o setor deverá vivenciar um crescimento acelerado, tanto no volume de cargas quanto no número de passageiros. Torna-se, portanto, necessário realizar os investimentos, não só na infraestrutura como no redesenho do transporte aéreo, que precisará mudar, em relação à agilidade no planejamento e implementação de ações.
A exploração da infraestrutura aeroportuária ultrapassa a perspectiva dos assuntos exclusivamente da alçada das autoridades aeronáuticas e governamentais para entrar, também, na área de interesse direto de operadores e usuários. Todas as ações, procedimentos e estratégias que influenciam os custos das atividades aeroportuárias devem ter o máximo de transparência face às suas implicações e repercussões no mundo dos negócios. Tratando-se de sistema que exige concentração de capital, tanto para a implantação como para a exploração, os assuntos envolvendo os aeroportos revestem-se de especial relevo. O conjunto de problemas e soluções é de interesse geral. Assim, a meu ver, a economia aeroportuária deve ser conduzida com base em fundamentos técnicos.
Os investimentos nos terminais que já se encontram sob controle de empresas privadas não param de crescer, seguindo cronograma previamente estabelecido. É consenso no mercado de que tais investimentos não seriam efetuados caso permanecessem sob o controle federal. Com capital privado os aeroportos tendem a funcionar melhor e efetuar investimentos de forma mais ágil. Cabe ao próprio governo federal o mérito de ter patrocinado e aprimorado o atual modelo de concessão, que prevê menor participação estatal no negócio.
Mesmo antes da grave situação atualmente vivenciada pela pandemia de Covid-19, a crise econômica já havia contribuído para a queda no movimento dos aeroportos. Mas o que justifica o investimento neste setor é a visão de longo prazo e o potencial de crescimento da demanda continua sendo o vetor motivacional desses empreendimentos.
Acredito que, como forma de motivar os próximos leilões e transformá-los em um sucesso como os últimos eventos, o Governo Federal irá incluir as duas principais “joias” do setor, o aeroporto de Congonhas (São Paulo) e o de Santos Dumont (Rio de Janeiro), dois dos principais aeroportos do país.