Os dados da economia no primeiro quadrimestre de 2015 mostram o elevado custo do ajuste fiscal e monetário, que está sendo implementado neste início de segundo mandato do Governo Dilma. Indicam também a baixa eficiência dos instrumentos de política macroeconômica no Brasil, corroborado pela forte ampliação do quadro de estagflação no País. O aperto fiscal e, em especial, o aperto monetário não estão surtindo os efeitos esperados no combate à inflação e na reversão das expectativas do setor produtivo nacional e de agentes econômicos internacionais, e, por outro lado, provocam elevado impacto negativo na atividade econômica, no emprego e nos custos da dívida pública. A inflação medida pelo IPCA continua subindo em trajetória explosiva. No primeiro quadrimestre do ano a inflação foi de 4,56%, superando o centro da meta para a inflação anual (4,50%), e no acumulado de doze meses (até abril) o índice alcançou 8,17%. O cenário continua pessimista, as projeções de mercado, reveladas pela pesquisa FOCUS do Banco Central, são revista para cima a cada semana e indicam, para o ano, o pior resultado em relação à meta de inflação, desde a implementação do sistema de metas. Os principais indicadores de confiança dos agentes econômicos, medidos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que davam sinais de estabilidade em dezembro de 2014, assumiram trajetória de total desalento nestes primeiros meses do ano (dados de maio), acelerando fortemente o ritmo de queda, em relação à 2014. O Índice de Confiança da Indústria (ICI), recuou a 71,6 pontos, menor patamar desde outubro de 2005, e apresenta retração de 21,2%, em relação a maio de 2014. O Índice de Confiança da Construção (ICST) alcançou em maio o nível de 72,9 pontos, menor nível da série histórica iniciada em julho de 2010. O Índice de Confiança de Serviços (ICS) caiu fortemente de um patamar acima de 100 pontos em dezembro (otimismo) para 84,5 pontos em maio (pessimismo), sendo este o segundo menor nível desde junho de 2008. O Índice de Confiança do Comércio (ICOM) recuou a 92,0 pontos em maio, terceiro pior resultado da série histórica, e em doze meses o índice registra queda de 20,6%. Na mesma direção, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) acumula queda de 17,9% em doze meses, recuou a 85,1 pontos em maio, muito abaixo da média histórica de 110,5 pontos, indicando forte pessimismo dos consumidores brasileiros. Por outro lado, a política monetária restritiva, com forte elevação da taxa Selic, acrescida do fim das desonerações tributárias, vem impactando negativamente a atividade econômica, além de elevar o custo da dívida pública, com o pagamento de juros nominais dobrando de patamar, atingindo em torno de R$ 400 bilhões. O Produto Interno Bruto (PIB) contraiu 0,2% no primeiro trimestre de 2015 e 1,6% em relação ao primeiro trimestre de 2014 e as projeções de mercado, medidas pela pesquisa FOCUS do Banco Central, indicam tendência de acentuada de queda no ano. A Indústria de Transformação, no resultado acumulado no ano (jan-abr), apresenta queda em 24 dos 25 ramos pesquisados pelo IBGE. A produção industrial acumula retração de 6,4% no ano e 4,8% em doze meses. O desemprego reverteu sua trajetória de queda e assumiu tendência explosiva. A taxa de desocupação das principais regiões metropolitanas do país, que em dezembro era de 4,3%, subiu mais de 2,1 pontos, alcançando 6,4% em abril. Os dados da Pnad Contínua apontam na mesma direção, com a taxa de desocupação subindo de 6,5%, em dezembro, para 8,0% no trimestre móvel encerrado em abril de 2015. O saldo positivo de empregos observado no histórico do primeiro quadrimestre de cada ano, desde 2002, foi revertido com a queda de 137,0 mil vagas de trabalho no acumulado de janeiro a abril deste ano, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). A teoria macroeconômica tradicional não explica o comportamento contraditório dos indicadores da economia brasileira. Neste sentido, recomendamos a leitura dos artigos, publicados nesta edição da Revista, do Simpósio “Desenvolvimentos Recentes da Teoria Macroeconômica”, realizado pelo CORECON/DF em parceria com a Associação Keynesiana Brasileira e o Departamento de Economia da Universidade de Brasília. Com destaque para a competente síntese da evolução da teoria macroeconômica, apresentada no discurso de abertura do Simpósio pelo Professor José Luis Oreiro, e os artigos: “Um arcabouço teórico para a macroeconomia estruturalista do desenvolvimento” de José Luis Oreiro e Nelson Marconi; “Revisão do novo consenso macroeconômico” de Luiz Fernando de Paula e Paulo José Saraiva; “Desenvolvimentos recentes da macrodinâmica keynesiano-estruturalista” de Antonio Martins Neto e Gabriel Porcile; “Macroeconomia pós-keynes e o referencial novo-keynesiano” de Flávio Augusto Corrêa Basílio; e “Os modelos de ciclos reais de negócios” de Roberto Ellery Jr. |