A economia brasileira continua estagnada. O país ainda não alcançou níveis de crescimento para sair da maior recessão econômica da sua história, com forte queda do Produto Interno Bruto em 2015 e 2016 e estagnação nos anos seguintes (crescimento de 1% ao ano em 2017 e 2018).
Ao longo desse período sucessivos gatilho foram apresentados para a retomada do crescimento, como reformas econômicas, a serem aprovadas no Congresso Nacional, ou mudanças no campo político. Entretanto, as sucessivas propostas de gatilho fracassaram.
No auge da crise de 2015 e 2016, o diagnóstico era que o governo Dilma não tinha credibilidade e nem projeto e estava comprometido com os esquemas de corrupção investigados pela Lava Jato. O impeachment da presidenta Dilma e a posse de um novo governo (Temer) seria o gatilho que restauraria a confiança dos agentes econômicos, a retomada dos investimentos e do crescimento econômico. Fez-se o impeachment, o governo Temer assumiu, e não aconteceu a retomada do crescimento, apesar de pequena melhora nos indicadores de confiança dos empresários e consumidores.
O novo gatilho para a retomada do crescimento passou a ser a PEC do Teto dos Gastos. A expectativa do governo Temer era que com o teto de gastos como norma constitucional seria restaurada a confiança do setor produtivo e a retomada do crescimento. O diagnóstico era que o desequilíbrio fiscal e a aceleração do crescimento da dívida pública inibia o setor produtivo. Os empresários não voltariam a investir num cenário de expectativas de aumentos dos impostos para cobrir os rombos fiscais. O teto foi aprovado e a economia continuou estagnada.
Nova esperança veio com a eleição de um novo governo, ungido pelas urnas, com credibilidade restauraria a confiança e a retomada da economia. O presidente Bolsonaro foi eleito, os indicadores de confiança melhoraram fortemente, mas após a posse voltaram a cair e a economia continua estagnada.
O novo gatilho alardeado para a retomada do crescimento é a Reforma da Previdência, mas que certamente terá pouco impacto no crescimento do PIB. É fato que o problema da previdência é levantado pela maioria dos Economistas, com olhares diferenciados, mas que levam à necessidade de uma reforma. É claro, para alguns não essa reforma. A reforma da previdência é importante, assim como a reforma tributária, a reforma do Estado no sentido da desburocratização e melhoria do ambiente de negócios, a reforma do sistema financeiro, entre outras reformas já alardeadas pelas autoridades econômicas nos últimos anos.
A questão é que as reformas são necessárias mas não são suficientes para destravar a Economia. A economia não vai se acelerar sem medidas fortes de ativação da demanda.
A demanda interna está travada nas suas três componentes (C+I+G): o consumo das famílias (C) é impactado pelo elevado desemprego e o pessimismo dos consumidores; os investimentos (I) estão em níveis historicamente baixos e não têm espaço para retomada, dada a elevada capacidade ociosa da indústria e as altas taxas de juros para o setor produtivo; a demanda do governo (G) vai continuar em retração com o crônico desequilíbrio fiscal e o viés privatizante do novo governo.
A política monetária e de crédito é o principal instrumento para reativação da demanda interna, já que do lado fiscal não há espaço para aumentos dos gastos do governo. Para alguns economista há espaço para uma forte redução da taxa de juros e ampliação do crédito, com afrouxamento monetários (quantitative easing) como ocorreu na maioria dos países para ativar a demanda interna e sair da crise econômica de 2008.
De outro lado, a demanda externa (X-M) tem um cenário de risco elevado com a guerra comercial entre os EUA e China e o aumento do protecionismo mundial, além de uma redução do crescimento global. Neste caso, o acordo entre o Mercosul e a União Europeia foi um fato novo e importante para o crescimento das exportações brasileiras, em especial do agronegócio, apesar do cenário de que será lenta a ratificação do acordo pelos países e há forte tendência de utilização de salvaguardas e de medidas protecionistas disfarçadas, como as relacionadas com a questão ambiental e trabalhista, além do uso abusivo do “princípio de precaução”, relacionados com questões fitossanitárias e práticas de cultivo, como no caso do glifosato, um dos principais defensivos utilizados na produção de grãos, já anunciado pelo governo da Áustria.
A expectativa é que o Acordo Mercosul-UE impacta positivamente, dada as vantagens competitivas da maiorias dos setores da economia brasileira e do potencial de recuperação desse mercado a participação europeia nas exportações brasileiras caiu 12 pontos percentuais nos últimos 20 anos, passando de 29,6% em 1999, para 17,6% em 2018. A busca de novos mercados externos com acordos bilaterais e multilaterais é uma alternativa para o crescimento da demanda externa, mas não deve ser descartada uma intervenção no câmbio, com forte desvalorização cambial, apesar do impacto inflacionário de tal medida.