José Luiz Miranda
No Artigo “Economia: Um olhar político sobre os seus conceitos e fundamentos” enfatizamos que a Economia tem a sua sistematização e tratamento científico iniciados no quadrante final do Século XVIII que vieram a ser enriquecidos e aprimorados através de estudos e pesquisas realizados por diversos pensadores todos submetidos a um constante processo dialético e reflexivo dando origem a diversas escolas que vieram a constituir o pensamento econômico contemporâneo.
O pensamento econômico contemporâneo, por sua vez, se encontra submetido a um novo processo dialético caracterizado pela busca de novos parâmetros de referência como, por exemplo, a busca de soluções para o desnorteio provocado pela crise financeira de 2008, hoje em grande parte contornada, que ocorreu como consequência de acentuadas operações especulativas no mercado financeiro e da baixa regulação do Sistema Financeiro Norte-americano cujas raízes primárias podem ser encontradas no denominado Consenso de Washington (1989) que tinha como tese a defesa da atuação mínima do Estado na Economia.
Como também destacado no mesmo artigo, nesse cenário de contínuas transformações a presença grandes fenômenos e desafios contemporâneos cuja origem se dá em problemas de natureza econômica envolvendo diversos agentes na busca de soluções que sejam adequadas à realidade local e nacional, mas que em variadas escalas podem estar também associadas à geopolítica mundial.
Nesse contexto, no Brasil, não podem ser ignorados os efeitos decorrentes da rápida urbanização ocorrida a partir da década de 1950, das alterações na estrutura produtiva convencional, da acentuada concentração das atividades econômicas e populacionais nos grandes e médios centros urbanos estimulando o surgimento de variadas demandas sociais como consequência de uma consciência social, política e comportamental que são manifestas sob diversas formas. No entanto e até como contrapartida, isto tem estimulado o surgimento de outros movimentos contrários, espontâneos ou não, com sinais reacionários que se mostram impermeáveis a qualquer manifestação contrária às suas teses, mesmo que estas não encontrem sintonia com as tendências contemporâneas de vanguarda.
Diante de todo esse quadro a Economia, enquanto ciência humana aplicada, está presente na vida de todas as pessoas interagindo com as mais diversas áreas do conhecimento, pois, a sua razão de ser, é buscar alternativas voltadas ao atendimento das necessidades dos indivíduos e das organizações diante da limitação de recursos as quais, dependendo da situação e do local, podem ser naturais, financeiros, materiais, humanos ou intelectuais observando-se, ainda as idas e vindas inerente a qualquer sociedade.
Entra em cena assim a economia real cuja sua origem primária reside naquilo que é conhecido como necessidades individuais que, associadas às motivações, dão origem às demandas sociais, internas e externas que, por sua vez, impulsionam o processo de geração de bens e serviços.
Este artigo é dedicado a enfatizar o significado e a importância das necessidades individuais, as motivações e as demandas sociais no processo de geração de bens e serviços e, por extensão, na ocorrência dos variados fenômenos econômicos que lhe são associados no cenário contemporâneo.
AS NECESSIDADES INDIVIDUAIS
Em um sentido empírico as necessidades são conceituadas como a sensação da falta ou de carência de alguma coisa podendo esta carência ser tangível (material) ou intangível (imaterial). Ressalta-se aqui que todos os indivíduos, em diferentes fases da vida, sentem carências, ou seja, sentem que precisam satisfazer uma insuficiência ou uma necessidade. É o momento da percepção da necessidade e não da sua satisfação.
Das múltiplas classificações disponíveis na literatura sobre as necessidades individuais, a Teoria de Maslow ou Teoria das Necessidades Humanas (MASLOW, Abraham, A Theory of Human Motivation, 1943) é uma daquelas mais conhecidas sendo considerada como um dos principais ensaios sobre motivação.
A Teoria de Maslow, apesar de se constituir em um recorte diante da multiplicidade de situações possíveis no campo dos relacionamentos, é conceitualmente considerada como uma das referências para o desenvolvimento de estudos mais recentes nas áreas da Psicologia, do Direito, da Administração, da Economia, entre outras áreas do conhecimento. Neste artigo buscamos associar a Teoria de Maslow às Demandas Sociais.
A Teoria de Maslow pode ser representada pelo seguinte diagrama simplificado.
Para Maslow, as necessidades individuais aparecem de forma sucessiva sendo agrupadas em cinco escalas piramidais: Necessidades Fisiológicas, Necessidades de Segurança, Necessidades Sociais, Necessidades Políticas e Necessidades de Autorrealização.
O ciclo das necessidades se inicia a partir daquelas mais elementares situadas na primeira escala até aquelas mais elevadas situadas na quinta escala. Nessa linha teórica, quando uma determinada necessidade é satisfeita a tendência natural do indivíduo é buscar a satisfação de outra necessidade que pode estar na mesma escala ou na escala superior criando, assim, um ciclo de busca e satisfação.
As necessidades fisiológicas são aquelas mais elementares ou situadas na primeira escala estando relacionadas à própria sobrevivência do indivíduo e à preservação da própria espécie. Muitas delas são ignoradas por serem quotidianas embora constituam a base para o desenvolvimento de muitas atividades econômicas. Em função do seu caráter biológico a sua não satisfação pode pôr em risco a vida do indivíduo. São exemplos: a alimentação, a saúde, o descanso, o agasalho, entre outras formas de manifestação.
As necessidades de segurança são aquelas que aparecem na segunda escala, ou seja, quando as necessidades fisiológicas estão satisfeitas. Não implicam em uma satisfação imediata, mas centram a sua satisfação no futuro. Essas se relacionam com o fato de que os indivíduos procuram preservar a sua integridade física e psicológica. São exemplos: a segurança pública, a segurança pessoal, a manutenção do emprego, a qualificação profissional, entre outras formas de manifestação.
As necessidades sociais são aquelas que aparecem na terceira escala sendo caracterizadas como aquelas que, após a satisfação das necessidades fisiológicas e de segurança, levam o indivíduo a relacionar-se com os outros membros da sociedade no sentido de buscar a sobrevivência social. São exemplos: O afeto, a participação em grupo, a aceitação, a amizade, o direito à liberdade de expressão, entre outras.
Na sequência surgem as necessidades políticas que são aquelas relacionadas ao fato de que os indivíduos precisam ter uma avaliação estável, um autorrespeito e apreço pelos outros. Essas necessidades levam, por um lado, a um desejo de força, realização, suficiência, domínio, competência, confiança, independência e liberdade; e, por outro, o desejo de participação, da busca de prestígio, de legitimidade, de reconhecimento, de representatividade. Em resumo, ser útil à sociedade e ser reconhecido por ela.
Por fim, situadas na escala mais elevada da pirâmide, surgem as necessidades de autorrealização que somente são atingidas após todas as necessidades anteriores, em tese, terem sido atendidas; é a realização do potencial próprio do indivíduo ou autorrealização, o pode ser denominado de utopia da liberdade total.
AS MOTIVAÇÕES
Observada a linha teórica definida por Maslow a satisfação das necessidades pessoais somente pode se concretizar se houver interesse do indivíduo de forma ativa em buscar os meios e recursos possíveis para satisfazê-las a um menor custo e de forma eficiente. Esse interesse do indivíduo é denominado de motivação sendo caracterizada como um mecanismo de estímulo para a sua satisfação. Se não houver a motivação a necessidade, apesar de percebida, pode permanecer em uma situação estática ou paralisante.
Essa concepção torna possível definir a motivação como sendo tudo aquilo que é capaz de estimular o comportamento do indivíduo na busca da satisfação das suas necessidades hierarquizadas em forma piramidal de Maslow, dependendo da posição ocupada pelo indivíduo na sociedade em determinados momentos da sua vida.
Por exemplo, a satisfação da necessidade de alimentação pode ser uma motivação de sobrevivência para uma pessoa carente (primeiro nível da Pirâmide de Maslow). Porém, essa mesma necessidade pode ser uma motivação de relacionamento social e político caso esse ato ocorra em um restaurante de luxo cujo ator é um indivíduo cujas necessidades situadas na escala inferior da pirâmide já se encontram satisfeitas (primeiro segundo e terceiro níveis da Pirâmide de Maslow).
Outro exemplo, a satisfação da necessidade de abrigo e proteção pode motivar um indivíduo de baixa renda a buscar um imóvel localizado em um conjunto habitacional ou aderir a um programa habitacional que vise o atendimento da segunda camada da Pirâmide de Maslow (segurança). Porém, essa mesma necessidade pode motivar a aquisição de um apartamento situado em um condomínio de alto padrão para um indivíduo em busca de um status social e político.
Muito embora Maslow tenha buscado utilizar a forma piramidal como uma referência para os seus estudos, a busca de satisfação das necessidades não ocorre de forma ascendente ou linear obedecendo, antes de tudo, à própria dinâmica da vida de cada indivíduo, pois, uma escala atingida, não significa necessariamente o alcance de uma estabilidade permanente.
Dependendo da circunstância, um indivíduo pode ter atingido a escala de satisfação das necessidades políticas e, devido a um fato inesperado, pode levá-lo preocupar-se em satisfazer uma necessidade de segurança. Um exemplo é caso de um alto executivo que perde o seu emprego em uma grande empresa ou um alto funcionário público que é exonerado de um cargo de relevância no governo.
No campo motivacional, vários estudos têm convergido para uma posição de que o indivíduo é possuidor de uma natureza própria na qual a motivação o levaria a se autodeterminar e assumir posições independentes frente a situações que lhe são impostas. Essa concepção, que se aproxima do pensamento Immanuel Kant expressa na obra “Crítica da razão pura (1784) onde admite a influência de fatores fisiológicos, instintivos, inconscientes e sociais que condiciona à racionalidade do indivíduo desenvolvendo de uma energia de motivação própria que se opõe ao determinismo total.
Nesse aspecto, com raríssimas exceções, a vida de qualquer indivíduo é modelada pela busca contínua da inserção social buscando adaptar o seu comportamento a circunstâncias que predominam em determinados momentos, isto sem perder necessariamente a sua identidade. Sob essa ótica estudos comportamentais mais recentes têm convergido para a identificação de duas modalidades básicas de motivações que influenciam as decisões individuais. São elas a motivação voluntária e a motivação induzida, ambas quase que ocorrendo simultaneamente.
A motivação voluntária é caracterizada como aquela de iniciativa do próprio indivíduo para satisfazer as suas necessidades. A motivação induzida, por outro lado, é caracterizada como aquela que age sobre o indivíduo induzindo comportamentos e preferências utilizando, para tanto, mecanismos externos, a exemplo da propaganda disseminada através dos meios de comunicação convencional e meios digitais, da difusão de modos de comportamento, da disseminação de padrões de beleza, do estímulo à aquisição de bens de alta visibilidade, entre outros. Ocorre que em situações extremadas e contrariando em parte a tese defendida por Kant, a motivação induzida pode neutralizar a racionalidade do indivíduo levando-o a assumir riscos que podem fugir ao seu próprio controle e, a partir disso, criar transtornos muitas vezes incontornáveis.
Nesse campo destacam-se os estudos desenvolvidos por Bauman Zygmunt, com enfoque sociológico, e por Ana Beatriz B. Silva, adotando um enfoque psicanalítico, mas ambos buscando diagnosticar o uso massificante da motivação induzida sobre os indivíduos criando um consumismo desenfreado que, apesar de criar demandas sociais, podem provocar danos de natureza emocional e financeira com efeitos negativos sobre o próprio desempenho da Economia na medida do seu possível impacto na produtividade e desempenho profissionais e até na infraestrutura econômica e social.
Bauman, sociólogo, filósofo polonês e professor emérito das Universidades de Leeds e Varsóvia, se dedicou a estudar as interações humanas no contexto da sociedade contemporânea na qual as relações ocorrem de forma menos duradora e com foco no prazer imediato a que o pensador atribuiu o conceito de liquidez, termo presente em diversos títulos das suas ensaios entre os quais Modernidade Líquida(1999), Amor Líquido (2003), Identidade (2004), Vida Líquida (2005), Medo Líquido (2006, o Mal-estar da Pós Modernidade (2007) .
No ensaio Vida para o consumo: A transformação de pessoas em mercadoria, Rio de Janeiro, Zahar, 2008), Bauman examina a sutil e gradativa transformação dos consumidores em mercadorias e o impacto da conduta consumista em diversos aspectos da vida social, da vida política, da vida econômica e da própria formação de identidade.
A transformação dos consumidores em mercadorias, segundo o autor, se constitui em um dos segredos mais dissimulados na medida em que os indivíduos são induzidos a se submeter a constantes remodelamentos para se adaptar às novas tendências que, em sua maioria, são desenvolvidas em laboratórios com a finalidade estimular um consumo desenfreado para atender interesses puramente comerciais. Nesse processo as atuais redes sociais a partir de variados recursos tecnológicos assumem um papel relevante.
Com o mesmo propósito de diagnosticar as causas do consumismo enfatizando um enfoque psicanalítico Ana Beatriz Silva (Mentes Consumistas: Do consumismo à compulsão por compras, São Paulo, Globo, 2014, trata da perigosa tendência da busca pela felicidade através do consumo fazendo com que esse se transforme em uma grande fonte de prazer para os indivíduos compulsivos, prazer este que se encerra no ato de uma compra e não necessariamente na posse ou no usufruto dos bem ou serviços adquiridos. Estes, na maioria dos casos, são abandonados, descartados ou perdem relevância. Com o ato da compra atingido novos alvos de desejo de consumo são construídos dando-se início a novos ciclos sequenciais. Esse desatino é denominado pela ciência como oniomania onde se confunde o “ser” com o “ter” e no qual a felicidade depende da quantidade de coisas que se pode comprar para si e para os outros, o que conduz o indivíduo a uma escalada de consumo infinita na busca constante pelos efêmeros momentos de prazer proporcionados a cada aquisição.
AS DEMANDAS SOCIAIS
Sob a ótica econômica, a partir do conceito que a caracterizam como a busca conjugada pela satisfação das necessidades por parte dos indivíduos e das organizações a partir das suas motivações as demandas sociais dinamizam o processo de geração de bens e serviços. Essa dinamização do processo ocorre na medida em que são desenvolvidos mecanismos destinados a atender as variadas demandas sociais ou de bens e serviços de forma qualitativa estando, porém, esse atendimento condicionado à limitação de recursos naturais, físicos, financeiros, humanos e intelectuais. De acordo com a Literatura Econômica esses mecanismos são desenvolvidos pelos denominados Agentes Econômicos no exercício das suas atividades econômicas. Os Agentes Econômicos e as Atividades Econômicas serão objeto de tratamento em um capítulo específico deste ensaio.
O processo de geração de bens e serviços dinamizado pelas demandas sociais traz benefícios para o conjunto da sociedade, não só quanto ao atendimento de uma demanda social específica, mas, também, de outras que direta ou indiretamente estão a ela relacionadas.
Por exemplo, um indivíduo que esteja morando em condições adversas e considere a sua situação cômoda e tranquila. Nesse caso, em tese, ele tem uma necessidade de abrigo e segurança, porém não tem motivação para mudar essas condições. Nesse caso ele não cria uma demanda social por habitação.
Por outro lado, outro indivíduo que esteja morando em idênticas condições adversas e que, ao contrário do primeiro, é motivado a buscar alternativas para satisfazer a essa necessidade de abrigo e segurança. Nesse caso, a combinação da necessidade desse indivíduo com a sua motivação cria uma demanda social por habitação que, associada outras demandas sociais por habitação induzirá o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à redução do déficit habitacional estimulando, assim, toda uma cadeia de atividades vinculadas ao processo de geração de bens e serviços vinculada ao Setor da Construção Civil produzindo imóveis adequados a esse tipo de demanda social. Esse processo possibilita a geração de empregos diretos (construção de imóveis) e empregos indiretos (indústria de material de construção, indústria de cimento, empresas de varejo, empresas de corretagem, zoneamento urbano, cartórios, entre outros). Dessa forma, os indivíduos empregados, mesmo que não tenham a necessidade de abrigo, vão dispor de renda que estimulará, por exemplo, a indústria de alimentos, de vestuário, de lazer, criando-se, então, uma dinâmica para toda a economia.
Uma outra situação é o caso das exportações de bens e serviços realizadas por um país destinadas a atender as demandas externas que são originárias das necessidades de indivíduos não residentes. Por exemplo, a venda de soja e de minério de ferro para a China e outros países. O atendimento dessas demandas sociais externas pelas exportações tende a trazer benefícios para o país exportador, induzindo a realização de ações que vão gerar empregos diretos e indiretos. Isto vai estimular, não só o setor exportador, mas estimulando variados outros processos de geração de bens e serviços visando a atender as suas respectivas demandas sociais. Na Literatura Econômica convencional o processo de geração de bens e serviços recebe a denominação de cadeia produtiva ressaltando que a sua respectiva missão em atender as variadas demandas sociais atingem diversos setores da atividade econômica como bens de consumo, bens industriais, bens agropecuários, prestação de serviços educacionais, prestação de serviços de segurança, entre outros.
Como foi aludido no início deste ensaio, para a Economia a percepção da presença das demandas sociais e sua influência no comportamento dos agentes econômicos do setor público e do setor privado, se constitui em uma importante fonte para a formulação de planejamentos estratégicos e logísticos, bem como o estabelecimento de planos de ação.
Na terminologia econômica, as ações conjugadas dos indivíduos para satisfação das suas necessidades estimuladas pelas motivações voluntárias e induzidas resultam naquilo que é denominada de Demanda Agregada, na qual se inclui os não residentes como demandantes a partir das exportações de bens e serviços. Por outro lado, o resultado do processo de geração de bens e serviços para atendimento às variadas demandas sociais recebe a denominação de Oferta Agregada, na qual também se inclui os não residentes a partir das importações de bens e serviços. O resultado da geração de bens e serviços em nível interno tem a sua representação monetária capturada pelo indicador denominado de Produto Interno Bruto – PIB. A Demanda Agregada, a Oferta Agregada e o PIB serão objeto de um artigo específico.
A manutenção de um equilíbrio satisfatório entre a Demanda Agregada e Oferta Agregada se constitui em um dos principais desafios para o governo de qualquer país. O diagrama a seguir apresenta de forma simplificada a relação entre as necessidades individuais, motivações, demandas sociais com o processo de geração de bens e serviços.
No Brasil, a partir da promulgação da Constituição de 1988 e pelo reconhecimento da sua força normativa, ocorre um acelerado processo de transformações sociais, políticas e econômicas onde predominam movimentos de busca pela cidadania e melhoria das condições de vida da população. Esse processo tem resultado em transformações da ordem jurídica e influenciado as relações da sociedade tanto em nível do setor público como em nível do setor privado, tornando visíveis novos e diversificados tipos de necessidades, desejos e motivações.
Nesse contexto, o setor privado da economia tem buscado intensamente a modernização e eficiência das suas atividades econômicas. Todavia, esse mesmo comportamento ainda não alcançou a sua plenitude no setor público da economia em termos da reformulação efetiva das formas de gestão das políticas públicas com o objetivo de atender as necessidades da população de forma tempestiva e eficiente, o que vem gerando grandes e novas demandas sociais cada vez mais emergentes.
Conclusão
Para encerrar este artigo falaremos um pouco dos estudos desenvolvidos por Bauman Zygmunt, com enfoque sociológico, e por Ana Beatriz B. Silva, adotando um enfoque psicanalítico, que buscam diagnosticar o uso massificante da motivação induzida sobre os indivíduos com o intuito de criar demandas sociais que são convertidas em um consumismo desenfreado criando em muitos casos transtornos incontornáveis.
Bauman, sociólogo, filósofo polonês e professor emérito das Universidades de Leeds e Varsóvia, se dedicou a estudar as interações humanas no contexto da sociedade contemporânea na qual as relações ocorrem de forma menos duradora e com foco no prazer imediato a que o pensador atribuiu o conceito de liquidez, termo presente em diversos títulos das suas ensaios entre os quais Modernidade Líquida(1999), Amor Líquido (2003), Identidade (2004), Vida Líquida (2005), Medo Líquido (2006, o Mal-estar da Pós Modernidade (2007) .
No ensaio Vida para o consumo: A transformação de pessoas em mercadoria, Rio de Janeiro, Zahar, 2008), Bauman examina a sutil e gradativa transformação dos consumidores em mercadorias e o impacto da conduta consumista em diversos aspectos da vida social, da vida política, da vida econômica e da própria formação de identidade.
A transformação dos consumidores em mercadorias, segundo o autor, se constitui em um dos segredos mais dissimulados na medida em que os indivíduos são induzidos a se submeter a constantes remodelamentos para se adaptar às novas tendências que, em sua maioria, são desenvolvidas em laboratórios com a finalidade estimular um consumo desenfreado para atender interesses puramente comerciais. Nesse processo as atuais redes sociais a partir de variados recursos tecnológicos assumem um papel relevante.
Com o mesmo propósito de diagnosticar as causas do consumismo enfatizando um enfoque psicanalítico Ana Beatriz Silva (Mentes Consumistas: Do consumismo à compulsão por compras, São Paulo, Globo, 2014, trata da perigosa tendência da busca pela felicidade através do consumo fazendo com que esse se transforme em uma grande fonte de prazer para os indivíduos compulsivos, prazer este que se encerra no ato de uma compra e não necessariamente na posse ou no usufruto dos bem ou serviços adquiridos. Estes, na maioria dos casos, são abandonados, descartados ou perdem relevância. Com o ato da compra atingido novos alvos de desejo de consumo são construídos dando-se início a novos ciclos sequenciais. Esse desatino é denominado pela ciência como oniomania onde se confunde o “ser” com o “ter” e no qual a felicidade depende da quantidade de coisas que se pode comprar para si e para os outros, o que conduz o indivíduo a uma escalada de consumo infinita na busca constante pelos efêmeros momentos de prazer proporcionados a cada aquisição.
Aqui cabe a ressalva de que a aquisição de um bem ou serviço é um ato legal, porém, deve ser realizado dentro de parâmetros que estabeleçam direitos, obrigações e garantias para as partes envolvidas na transação. A promulgação do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990), com eficácia reconhecida internacionalmente é um instrumento legal que permitiu o desenvolvimento de mecanismo de proteção para neutralizar excessos de natureza psicológica que atuam sobre os indivíduos no sentido torná-los simples mercadorias de consumo, o que pode provocar danos de natureza emocional e financeira com efeitos negativos sobre o próprio desempenho da Economia na medida do seu possível impacto na produtividade e desempenho profissionais e até na infraestrutura econômica e social.
José Luiz Miranda é Economista. Mestre em Desenvolvimento Regional com ênfase em Políticas Públicas. Especialização em Análise de Investimentos. Gestão Empresarial. Possui Qualificações complementares em Project Finance e Gestão Estratégica (AMANA-KEY/SP). Gerente aposentado da Caixa Econômica Federal onde atuou em diversas atividades estratégicas junto ao Governo Federal, notadamente em projetos relacionados à Reestruturação da Dívida Pública da União (1994 a 2001) e à Reestruturação do Sistema Financeiro Nacional – PROER (1995/1996) ambos decorrentes da implantação do Plano de Estabilização Monetária (Plano Real). Atualmente é Consultor Empresarial, Professor Universitário em nível de graduação e de pós-graduação, Assistente Técnico e Perito Judicial ambos no campo econômico- Financeiro e Ex- Conselheiro do Conselho Regional de Economia- 18ª Região. Também exerce as funções de Diretor de Relações Institucionais da Associação de Aposentados da Caixa, Conselheiro Consultivo da Associação de Pessoal da Caixa e Conselheiro do Conselho Comunitário de Segurança (CONSEG) da Região do Campus da Universidade Federal de Goiás. Em seu mestrado defendeu a dissertação com o título “Política pública de industrialização das reservas minerais de Goiás: potencial, desafios e perspectivas” onde tratou da reformulação estratégica do Setor Mineral do Estado de Goiás com vistas ao desenvolvimento de parâmetros para estímulo a investimentos voltados à verticalização industrial do setor.
“Os conteúdos dos textos publicados, artigos e notas, além dos comentários do público, são de responsabilidade exclusiva de seus autores e signatários, não envolvendo ou refletindo posicionamentos ou opiniões do CORECON-DF.”