ELOY CORAZZA
CORECON-DF Nº 4103
A agropecuária brasileira apresenta evolução em sua produção, qualidade dos produtos e processos industriais vinculados, o que a torna a cada ano mais imprescindível para o atendimento da alimentação de milhões de pessoas em dezenas de países no mundo.
O crescimento da produção agropecuária – destinada à alimentação humana e animal – como frutas, cereais, carnes e à geração de energia renovável, com álcool etílico (etanol) e biodiesel, seja pela melhora na produtividade e/ou ampliação na área plantada, depende de ações de significativa parcela da sociedade, seja diretamente pelos produtores e trabalhadores, seja por serviços técnicos, e em especial pela disponibilidade dos diversos insumos que utiliza.
Após trazer as principais informações referentes à evolução do setor agropecuário brasileiro ocorrida a partir da safra 1976/77, em áreas, culturas, produção e produtividade nas diversas regiões do país; bem como a evolução das exportações brasileiras e os principais países importadores de – soja e milho, e de carnes bovina, suína e de frango -, além da indústria de óleos vegetais e biodiesel – cabe, sem dúvida, trazer informações atinentes aos principais insumos utilizados pela agropecuária brasileira para a geração dessa evolução positiva e competitiva tanto de produtos agrícolas como das carnes, a fim de assegurar a evolução produtiva para atendimento das necessidades alimentares de dezenas de países.
Para tanto, a abordagem incluirá o suprimento de fertilizantes e dos demais insumos utilizados nas principais culturas além de alguns aspectos da logística envolvida.
- Fertilizantes, nutrientes das plantas
A utilização dos fertilizantes para cultivo agrícola e de pastagens guarda relação direta com a produtividade alcançada, seja nos grãos ou no pasto, segundo as condições e níveis de fertilidade de cada solo e de cada planta.
“A planta é composta de inúmeras células onde cada uma é uma verdadeira “fábrica” de substâncias orgânicas, inclusive liberando e transformando energias.
Para isso ela necessita de:
- uma fonte de energia, a luz solar;
- água;
- os elementos dos quais forma seus produtos, como açúcares, amidos, proteínas e gorduras. Esses elementos são: carbono (C), ela capta do ar; hidrogênio (H), retira da água; e oxigênio (O), retira do ar, do solo, do ar atmosférico e da água; …. e ainda o nitrogênio (N) que os micro organismos do solo fixam do ar, e os demais nutrientes minerais que a planta retira do solo, como fósforo (P), enxofre (S), cálcio (Ca), magnésio (Mg) etc….
- biocatalisadores para apressar a formação das substâncias, também chamadas de “enzimas” e que precisam, para funcionar, de ativadores como o potássio (K) e os micronutrientes. Esses “micros” são: manganês (Mn), ferro (Fe), zinco (Zn), cobre (Cu), boro (B), molibdênio (Mo), cobalto (Co), além de outros. O magnésio e o ferro são indispensáveis à formação de clorofila, o verde que capta a energia solar. “ (Primavesi, A. – 1980 – Manejo ecológico dos solos, Editora Nobel, 1980, pg. 13).
A ausência de fertilidade nos solos do Cerrado foi resolvida na agricultura por intermédio da aplicação de técnicas específicas, como a calagem (correção da acidez por meio do calcário), a adubação fosfatada, a adubação potássica e outras. Os principais produtos agrícolas cultivados na região do Cerrado são a soja, a cana-de-açúcar, o algodão, o milho e outras commodities, e tem sua produtividade dependente, em maior ou menor proporção, da correção do solo e da sua adubação.
A soja, cultura cultivada em 2020/21 em 38.925,5 mil hectares, mais o milho que ocupou área de 19.935,1 mil hectares, ambas bases da produção de carnes, tem seu cultivo e produtividade relacionados diretamente às condições de fertilidade do solo. Nada menos de 75,3% da área nacional do milho é plantada na segunda safra (safrinha com 14.999,2 mil hectares) em parte do Paraná, Estados do Centro Oeste e Sudeste, além da Bahia.
Exige-se que as culturas utilizadas em rotação/rodízio utilizem nutricionais diferentes, como, por exemplo, milho e soja. Porém, é importante que o pH das culturas seja idêntico. “A nutrição é, sem dúvida, um dos principais fatores de produção de uma planta. Por isso, necessitamos proporcionar uma nutrição equilibrada e ajustada, levando em consideração a quantidade de nutrientes absorvidos pela soja e o correto uso destas informações”. (Primavesi, A. – 1980 – Manejo ecológico dos solos, Editora Nobel, 1980, pg. 13).
A adubação feita no plantio da safra se destina à alimentação da planta sendo sua nutrição um dos principais fatores de produção. A cada plantio há necessidade de que a adubação para a safra seguinte inclua a necessidade da planta, servindo os indicadores de extração e exportação dos nutrientes por tonelada de grão produzido como base para quantificar a adubação a ser utilizada para disponibilizar os nutrientes do plantio da cultura.
Kg/ha de nutrientes absorvidos pela SOJA | |||
Nutriente | Extração | Exportação | Soma |
N | 83,0 | 51,0 | 134,0 |
P | 15,4 | 10,0 | 25,4 |
K | 38,0 | 20,0 | 58,0 |
Ca | 12,2 | 3,0 | 15,2 |
Mg | 6,7 | 2,0 | 8,7 |
S | 9,7 | 5,4 | 15,1 |
Fonte: Soil Fertility, Blog Nutrição de safras | |||
agosto 7, 2019 – Redação Gabriel |
A tabela acima indica a quantidade média de nutrientes extraída do solo e aquela exportada, basicamente pelo grão, segundo a fonte indicada com base na Embrapa. Além dos três principais macronutrientes (N,P,K) e dos secundários (Ca, Mg, S), outros 6 micronutrientes precisam ser monitorados para atender as necessidades nutricionais da cultivar, sendo o nível de fertilidade do solo a base para uma maior produtividade.
Com a prática do plantio direto, ocorre um aumento gradual da matéria orgânica do solo advindo da palhada e uma maior proteção do solo a cada ano, melhorando assim a disponibilidade dos nutrientes nos solos, uma vez que a palhada, com o tempo, se transforma em humus. Outro aspecto é que, com a palhada, o fator de eficiência do nutriente vai melhorando, sendo influenciado pelo teor e disponibilidade do nutriente, do pH do solo, da disponibilidade de água nas primeiras camadas (0 a 60 cm) e da matéria orgânica dos solos.
Segundo Malavolta (1997), “a eficiência dos fertilizantes aplicados varia segundo a fertilidade do solo, do menos fértil para o mais fértil na seguinte proporção segundo o nutriente: para N de 50% a 70%; para P²O5 de 30% a 60% e para K²O de 60% a 80%” (MALAVOLTA, E., VITTI, G.C., OLIVEIRA, S.A. – Avaliação do estado nutricional das plantas, princípios e aplicações. 2ec.Piracicaba: POTAFOS, 1997).
Como se observa e deduz a produção, e a melhoria contínua da produtividade estão relacionadas direta e intrinsecamente com o tratamento do solo pelo produtor. E essas técnicas dependem diretamente da disponibilidade de fertilizantes bem assim da proteção do solo, a partir das práticas agrícolas aplicadas.
Assegurar para os anos futuros o atual nível de adubação/hectare constitui, sem dúvida, parâmetro pertinente e adequado para assegurar o crescimento do plantio e a gradual melhoria da produtividade. As projeções de produção do Ministério da Agricultura constituem, pois, boa base para a projeção dos fertilizantes a serem disponibilizados a fim de assegurar condições indispensáveis à ampliação da produção e da produtividade da agropecuária brasileira.
- Potássio.
Dada a fundamental importância dos fertilizantes para todos os cultivares como hortaliças, frutas, cereais e pastagens, serão apresentadas informações sobre reservas, produção e consumo dos fertilizantes potássio e fósforo, bem como a evolução de sua produção e consumo no Brasil 2014/5-2018, iniciando com potássio.
Países produtores de Potássio (10³ t de K2O) | variação | |||||
Países | 2015 | 2016 | 2017 | 2018 | Part. % | 15=100 |
Canadá | 11.400,0 | 1.080,0 | 12.200,0 | 12.000,0 | 28,6 | 5,3 |
Rússia | 6.990,0 | 6.500,0 | 7.300,0 | 7.500,0 | 17,9 | 7,3 |
Bielorússia | 6.470,0 | 6.400,0 | 7.100,0 | 7.100,0 | 16,9 | 9,7 |
China | 6.200,0 | 6.200,0 | 5.510,0 | 5.500,0 | 13,1 | (11,3) |
Alemanha | 3.100,0 | 3.100,0 | 2.700,0 | 2.900,0 | 6,9 | (6,5) |
Israel | 1.260,0 | 1.300,0 | 2.000,0 | 2.000,0 | 4,8 | 58,7 |
Jordânia | 1.410,0 | 1.200,0 | 1.390,0 | 1.400,0 | 3,3 | (0,7) |
Chile | 1.200,0 | 1.200,0 | 1.100,0 | 1.100,0 | 2,6 | (8,3) |
Est Unidos | 740,0 | 520,0 | 480,0 | 500,0 | 1,2 | (32,4) |
Brasil | 289,0 | 300,0 | 306,0 | 201,0 | 0,5 | (30,4) |
Outros países | 1.641,0 | 1.480,0 | 1.314,0 | 1.799,0 | 4,3 | 9,6 |
Mundial | 40.700,0 | 29.280,0 | 41.400,0 | 42.000,0 | 100,0 | 3,2 |
Fonte: Anda, DNPM e USGS – 2018 |
Nada menos de 95% da produção mundial de potássio é consumida na agricultura e o restante é consumido pela indústria química com aplicações diversificadas. Do volume utilizado pela agricultura, 90% desse total é na forma de cloreto de potássio, 5% como sulfato de potássio e os outros 5% como sulfato duplo de potássio e magnésio.
No Brasil, a primeira mina-usina de potássio, foi inaugurada em 1985 pela Petromisa (Petrobrás Mineradora S.A.), sendo até hoje a única em operação no Brasil; está localizada no município de Rosário do Catete/Sergipe sendo que a usina de beneficiamento tem capacidade instalada para produção de 620 mil ton/ano de cloreto de potássio, tendo sido desenvolvida e implantada à época através de complexa tecnologia de lavra subterrânea, por técnicos brasileiros e franceses. A produção da empresa chegou a cerca de 720 mil/ton em 2009.
Consumo de Potássio (t mil de K²O) | |||||||
Fornecedores | 2014 | 2015 | 2016 | 2017 | 2018 | 2014=100 | |
Produção Nacional | 350,0 | 288,0 | 300,0 | 306,3 | 201,2 | (42,5) | |
Importação | 5.430,8 | 4.692,9 | 5.227,9 | 5.804,2 | 6.312,5 | 16,2 | |
Consumo nacional | 5.780,8 | 4.980,9 | 5.527,9 | 6.110,5 | 6.513,7 | 12,7 | |
Prod. Nac./Consumo = % | 6,05 | 5,78 | 5,43 | 5,01 | 3,09 | ||
Cloreto de Potássio com 60% de K²O | |||||||
Fontes: ANM e Comexstat/Mdic | |||||||
Observa-se, porém, que a produção em 2014 equivalia a 56,5% da capacidade existente e vem se reduzindo, tendo caído 42,5% desde 2014, sendo em 2018 equivalente a 32,3% da capacidade instalada; produz hoje o equivalente a menos de 40% de sua capacidade inicial. Em sentido inverso, o consumo nacional de potássio cresceu 12,7%, dependendo hoje de 97% de potássio importado, dado o aumento do consumo nacional à taxa anual de 3,82%.
Segundo dados do IBRAM-Instituto Brasileiro de Mineração (2021), as importações brasileiras de potássio foram de 10,45 milhões de toneladas em 2019 e de 11,5 milhões de toneladas em 2021, evidenciando a crescente necessidade do nutriente para uso da agricultura e a incapacidade interna atual de aumento de sua produção.
Em 2020, informe do Serviço Geológico do Brasil apresentou avaliação do potencial de potássio na Bacia do Amazonas. A descoberta de novos depósitos com boa possibilidade de extração de potássio na bacia do Amazonas que segundo divulgado consta já com 8 concessões de lavra, encontrando-se um projeto em fase de implantação em Autazes, no Amazonas, cuja produção se estima possa atender por 30 anos de 20 a 30% do potássio utilizado no Brasil.
Segundo o Informe Avaliação do Potencial de Potássio no Brasil – Área Bacia do Amazonas, setor Centro Oeste, Estados do Amazonas e Pará, até o momento pode-se afirmar a existência de depósitos em Nova Olinda do Norte, Autazes e Itacoatiara, com reservas em torno de 3,2 bilhões de toneladas de minério, além de ocorrências em outras localidades. Na região do Autazes o minério se encontra a profundidades entre 650 a 850 m, com teor de 30% de KCl; já em Nova Olinda a profundidade varia entre 980 a 1200 m, com teor médio de 32,59% KCl.
De acordo com Serviço Geológico do Brasil, “a expectativa é de, ao reduzir a importação do fertilizante, o insumo tornar-se mais barato e acessível, eliminando custos de transporte e de logística”.
Para se ter uma idéia das atuais fontes de suprimento do potássio ao Brasil, seguem dados sobre as reservas, em 2004, dos principais países fornecedores do mundo bem como a produção ocorrida no ano de 2003.
Reservas e produção mundiais de Potássio | |||||
Toneladas de K2O – 2003 | Reservas 2004 | Produção 2003 | |||
Países | Milhão T | Part. % | Ton mil | Part. % | |
Canadá | 9.700 | 57,0 | 8.500,0 | 31,1 | |
Rússia | 2.200 | 12,9 | 4.600,0 | 16,8 | |
Bielorússia | 1.450 | 8,5 | 4.000,0 | 14,6 | |
Alemanha | 850 | 5,0 | 3.600,0 | 13,2 | |
Brasil | 600 | 3,5 | 380,0 | 1,4 | |
Israel | 580 | 3,4 | 2.000,0 | 7,3 | |
Jordânia | 580 | 3,4 | 1.200,0 | 4,4 | |
China | 450 | 2,6 | 450,0 | 1,6 | |
EUA | 300 | 1,8 | 1.100,0 | 4,0 | |
Outros países | 295 | 1,7 | – | ||
Reino Unido | – | 610,0 | 2,2 | ||
Espanha | – | 470,0 | 1,7 | ||
Chile | – | 420,0 | 1,5 | ||
Bases mundiais | 17.005 | 100,0 | 27.330,0 | 100,0 | |
Fonte: US Geological Survey, 2004. Simpósio sobre Potássio na | |||||
Agricultura Brasileira, 24/9/2004. Eng.Agr.PhD.Alfredo Scheid Lopes |
Na tabela acima estão expostas quais eram as bases minerais mundiais em milhões de toneladas e qual a produção de potássio em mil toneladas de K²O no ano de 2004. (“Simpósio sobre Potássio na agricultura brasileira”, set/2004, Engº Agrº Phd Alfredo Scheid Lopes, Professor Emérito da UFLA-Universidade Federal de Lavras/MG).
As reservas mundiais de potássio já identificadas se concentram no Canadá e na Europa Ocidental nos países, Rússia, Bielorússia e Alemanha, detendo os 4 países cerca de 83,5% das bases de reservas mapeadas no mundo todo, sendo 57% no Canadá e os 26,5% nos 3 países europeus citados.
Já a produção mundial em 2003 apresentava distribuição pouco maior sendo que 38% dela por países da América – Canadá, EUA, Chile e Brasil -, 48,5% de países localizados na Europa Ocidental – Rússia, Bielorússia, Alemanha, Reino Unido e Espanha -, Israel e Jordânia com 12,1% e a China com 1,6%.
- Fósforo ( P )
A análise das terras originais do cerrado tinha como características básicas: elevado percentual de alumínio, ausência ou traço de N (nitrogênio), ausência ou traços de P (fósforo), muito baixo nível de potássio, e também baixo nível de enxofre.
Assim, na década de 70 e 80 quando da abertura das terras na região centro-oeste e no oeste da Bahia para cultivo agrícola, a primeira fase de tratamento do solo era “sua recuperação”, o que incluía preliminarmente a aplicação de mais de seis (6) toneladas de calcário, elevado volume de supersimples (acima de 500 a 600 kg/há), fósforo, este da mineração explorada na região de Catalão e municípios do sul de Minas Gerais. Essas aplicações constituíam e constituem ainda o requisito indispensável para transformar uma terra virgem de cerrado e terras de pastagens degradadas, em áreas cultiváveis. Após esses cuidados iniciais que podem exigir também potássio, se dava início ao cultivo com a adubação necessária e pertinente para o tipo de cultivar plantado, sendo na maior parte a da soja por ser a mais adequada.
A seguir a tabela apresenta a evolução do consumo brasileiro de fósforo segundo a origem de sua produção – nacional ou importada.
Consumo nacional -ton mil | 2014 | 2015 | 2016 | 2017 | 2018 | 2018/2014 | |
Nacional | 7.392,0 | 6.817,0 | 7.141,0 | 7.545,7 | 6.726,8 | (9,0) | |
Fósforo (P) | Importado | 10.801,2 | 10.384,1 | 11.477,1 | 12.121,8 | 12.198,5 | 12,9 |
Total | 18.193,2 | 17.201,1 | 18.618,1 | 19.667,5 | 18.925,3 | 4,0 | |
% da | Nacional | 40,6 | 39,6 | 38,4 | 38,4 | 35,5 | |
produção | Importado | 59,4 | 60,4 | 61,6 | 61,6 | 64,5 |
Fontes: ANM e Comexstat/Mdic
Os três (3) macronutrientes – N, P, K – são utilizados nos cultivos segundo necessidades de cada cultura, tipo de solo, disponibilidade dos mesmos no solo e produtividade que se objetiva para cada tipo de cultivar. O tipo de fósforo também – contendo enxofre ou outro nutriente – é escolhido segundo as necessidades da terra e do cultivar plantado.
O fósforo aqui produzido ao longo da década de 80 era praticamente suficiente para atender às necessidades nacionais, em especial daquelas áreas cultivadas no Sudeste e Centro Oeste. Já para as áreas cultivadas há mais tempo na região sul, com frequência era mais econômica a importação deste mineral em especial da região do Marrocos.
Como se pode verificar pelos dados da Tabela acima, que expôs as fontes de produção – nacional e importada – para suprimento do consumo nacional de fósforo, a evolução que se constata é de redução gradual e contínua da produção nacional de fósforo para suprimento das necessidades agrícolas nacionais, que passou de 40,6% em 2014 para 35,5% em 2018. Isto, sem dúvida, serve de forte indicador e alerta a ser registrado para avaliar a viabilidade de ampliação da mineração nacional do nutriente com vistas a evitar que a produção agropecuária nacional tenha excessiva dependência de fornecimento internacional também deste fertilizante.
A exemplo das explorações do potássio, sem dúvida, um mapeamento e avaliação do potencial existente de fósforo em território brasileiro é básico e prioritário uma vez que isto se constitui, sem dúvida, em oportunidade de ampliação industrial, comercial e de oportunidades de trabalho aos profissionais além de trazer mais segurança ao processo da projetada ampliação da agropecuária nacional com vistas a suprir a crescente necessidade alimentar mundial.
Em relação ao consumo nacional de fósforo importado, ou seja mais de 64,4%, as fontes principais do período de 2014 a 2018 estão expostas nas tabelas de importação a seguir:
Fosfatados (P) | ||
Importações brasileiras em 2021 | ||
País | % | |
Marrocos | 38 | |
Rússia | 15 | |
Arábia Saudita | 11 | |
EUA | 8 | |
China | 7 | |
Demais | 21 | |
Total | 100 | |
Fonte: Cogo-inteligência em agronegócio | ||
Estudo recente de pesquisadores da Embrapa Solos e de outras instituições revela que quase metade do fósforo (P) aplicado na agricultura em forma de fertilizante inorgânico continua na terra, estimando-se em 22,8 milhões de toneladas das 45,7 milhões aplicadas desde 1960. Isto porque o fósforo aplicado, principalmente na produção de grãos, aliado a práticas conservacionistas, como o plantio direto gerou um legado, promovendo o acúmulo de um capital natural (grifei). “Nosso solo absorveu esse fósforo. Por isso, precisamos aplicá-lo cada vez em menor quantidade na terra, reduzindo seu uso na adubação”, revela Vinicius Benites, pesquisador da Embrapa Solos e um dos autores de “Transições para o manejo sustentável de fósforo na agricultura brasileira”.
A propósito, a equipe dos agrônomos que participam da iniciativa Agro Connection que realiza tour anual de avaliação das condições das lavouras americanas, destacam que o agricultor brasileiro é visto pelo produtor americano como referência nas práticas de manejo conservacionista adotadas no cultivo das diversas culturas, citando o plantio direto, a diversidade de culturas e o rodízio, além das plantas de cobertura.
- Nitrogenado (N)
Outro macro nutriente é o Nitrogênio (N) que pode vir sob várias formas, amônia, sulfato de amônia, uréia e outras composições. Segundo registro da ANDA em seu relatório de 2018, “a produção brasileira de fertilizantes é insuficiente para atender a sua própria demanda e há necessidade de se recorrer à importação para suprir o mercado interno. Em 2018, a importação de compostos químicos para fins fertilizantes (sulfato de amônio, nitrato de amônio, DAP, MAP, uréia, superfosfato simples, superfosfato duplo, fosfato natural de aplicação direta, KCl (Cloreto de Potássio) e complexos) foi de 8 milhões de toneladas e a importação de 27,5 milhões de toneladas” para atender o consumo da ordem de 35,5 milhões de toneladas.
O consumo nacional também do nitrogenado é dependente de produtos importados, tendo sido observado também um aumento gradual da necessidade de maior volume de importados para atender às necessidades agropecuárias, cuja produção vem crescendo a taxas da ordem de 3% ao ano e que segundo projeções do MAPA até 2030 assim continuará ocorrendo prevendo-se plantio de 80 milhões de hectares frente aos atuais 68,9 milhões da safra 20/21.
Além do aumento de consumo em função da ampliação projetada da área plantada é importante registrar que o crescimento da produtividade está diretamente associado ao consumo dos fertilizantes específicos necessários à melhoria da área e das culturas plantadas, em especial à cultura do milho que tem 75% da produção nacional através da safrinha, também chamada de segunda safra de verão nas regiões Centro-Oeste e Sudeste.
Consumo nacional-ton mil | 2014 | 2015 | 2016 | 2017 | 2018 | 2018/2014 | |
Nacional | 1.563,0 | 1.712,0 | 1.674,0 | 1.189,0 | 1.257,0 | (19,6) | |
Nitrogênio (N) | Importado | 7.815,0 | 6.010,0 | 7.782,0 | 9.571,0 | 9.814,0 | 25,6 |
Total | 9.378,0 | 7.722,0 | 9.456,0 | 10.760,0 | 11.071,0 | 18,1 | |
N=% produção | Nacional | 16,7 | 22,2 | 17,7 | 11,1 | 11,4 | |
Importado | 83,3 | 77,8 | 82,3 | 88,9 | 88,6 | ||
Como se verifica, o aumento do consumo nacional de nitrogênio não vem sendo acompanhado pelo ritmo de crescimento de sua produção, ampliando-se, assim, em 18,1% a importação neste período de 5 safras.
“Os fertilizantes nitrogenados são produzidos, importados e comercializados no Brasil em grandes quantidades. Eles provêm da amônia que possui o nitrogênio na sua composição. E todo o nitrogênio vêm da atmosfera; o ar contém 82.000 toneladas de N para cada um hectare de superfície terrestre; é muito N.
O nitrogênio do ar é um gás inerte e insolúvel. Ele não é absorvido diretamente pelas plantas, com exceção das leguminosas e alguns organismos fixadores de N; já existem pesquisas e comercialização de inoculantes para as culturas do milho, sorgo e arroz.” (agronomiacomgismonti.blogspot.com/2010-04. “Os fertilizantes nitrogenados”)
Das cultivares, apenas as plantas leguminosas, como a soja e o feijão, têm menos necessidades de aplicação desse fertilizante, uma vez que essas plantas absorvem diretamente do ar, fixando inclusive o nitrogênio no solo para alimentação das plantas subsequentes, como é o caso do plantio de milho em sequência (safrinha) à soja nas regiões Oeste e Sudeste, além de parte do Paraná.
Assim a produção de grãos de milho e sorgo – culturas plantadas nestas regiões após a colheita da soja – está diretamente vinculada à disponibilidade de nitrogênio (N) ao longo de seu crescimento e formação do grão, além do potássio, razão da importância de os cultivos terem sua sequência organizada segundo as necessidades de nutrientes de cada tipo de planta.
Nitrogenados (N) | ||
Importações brasileiras em 2021 | ||
País | % | |
Rússia | 22 | |
China | 21 | |
Argélia | 20 | |
Catar | 17 | |
Irã | 5 | |
Demais | 15 | |
Total | 100 | |
Fonte: Cogo-inteligência | ||
em agronegócio |
- Enxofre (S)
O uso de enxofre em fertilizantes iniciou na década de 1970, nos Estados Unidos. Além dos 3 nutrientes fundamentais (N, P, K) e de maior utilização no plantio e cultivo de lavouras e pastagens há ainda um quarto, o enxofre, que “atua na composição de dois importantes aminoácidos – cistina e metionina – que realizam a síntese de proteínas, ajudando na produção e enchimento de grãos, na produção de clorofila e na nodulação de leguminosas.
“O solo fornece enxofre para as plantas por meio de matéria orgânica que chega a representar de 50 a 80% da quantidade necessária para atingir altas produtividades. …Portanto, quanto maior a concentração de matéria orgânica no solo, maior o fornecimento do nutriente. Para grandes produtividades, porém, é necessária a provisão de enxofre por meio de fertilizantes.” (O enxofre como agente fertilizante na linha de plantio, Silvano Abreu, Blog Nutrição de Safras).
Da mesma forma que os nutrientes básicos (N, P, K), a maior parte do enxofre (S) utilizado nos fertilizantes para cultivos agrícolas e para pastagens, tem sua origem na importação de outros países, cuja produção vem ocorrendo a nível mundial nos seguintes países segundo tabela de 2014 a 2018.
Enxofre – Produção mundial, em mil toneladas | |||||||
Fertilizantes | 2.014 | 2.015 | 2.016 | 2.017 | 2.018 | Part.%18 | var.18/14 |
China | 10.500 | 8.800 | 17.750 | 17.400 | 17.000 | 21,3 | 61,9 |
USA | 9.630 | 9.540 | 9.740 | 9.640 | 9.700 | 12,1 | 0,7 |
Rússia | 7.300 | 6.720 | 6.960 | 7.080 | 7.100 | 8,9 | (2,7) |
Canadá | 5.910 | 5.780 | 5.320 | 5.460 | 5.500 | 6,9 | (6,9) |
Alemanha | 3.800 | 3.800 | 3.800 | 888 | 890 | 1,1 | (76,6) |
Arábia Saudita | 3.300 | 4.900 | 4.900 | 6.000 | 6.000 | 7,5 | 81,8 |
Japão | 3.250 | 3.250 | 3.420 | 3.490 | 3.500 | 4,4 | 7,7 |
Cazaquistão | 2.740 | 2.820 | 3.120 | 3.520 | 3.500 | 4,4 | 27,7 |
Emirados Árabes | 1.900 | 2.400 | 5.300 | 3.300 | 3.300 | 4,1 | 73,7 |
Chile | 1.700 | 1.700 | 1.800 | 1.800 | 1.800 | 2,3 | 5,9 |
Irã | 2.100 | 2.200 | 2.200 | 2.200 | 2.200 | 2,8 | 4,8 |
México | 1.840 | 1.410 | 1.160 | 551 | 550 | 0,7 | (70,1) |
Brasil | 540 | 530 | 530 | 530 | 530 | 0,7 | (1,9) |
Outros | 15.490 | 15.550 | 17.000 | 18.341 | 18.430 | 23,0 | 19,0 |
Total | 70.000 | 69.400 | 83.000 | 80.200 | 80.000 | 100,0 | 14,3 |
Fonte: ANDA, Comexstat/Mdic. |
O suprimento mundial do enxofre (S) como se vê tem como protagonistas a China com 21,3%, o Canadá, EUA e o México com outros 21,7%, os países árabes Cazaquistão, Arábia Saudita, Emirados Árabes e Irã com 19,0%, sendo que o Chile e o Brasil com apenas 3,0%. A Alemanha e a Rússia totalizam outros 10,0 %.
Há que se registrar ainda o forte aumento na produção ocorrido no período pelo grupo de países árabes e a China e a estabilidade na produção nacional apesar da gradual e contínua elevação do consumo desse nutriente devido à ampliação de áreas plantadas e à maior aplicação visando à progressiva melhoria da produtividade nacional, conforme a tabela a seguir.
Consumo nacional -ton mil | 2014 | 2015 | 2016 | 2017 | 2018 | 2018/2014 | |
Nacional | 540 | 530 | 530 | 530 | 530 | (1,9) | |
Enxofre (S) | Importado | 2.490 | 2.635 | 2356 | 2.651 | 2.927 | 17,6 |
Total | 3.030 | 3.165 | 2.886 | 3.181 | 3.457 | 14,1 | |
% da | Nacional | 17,8 | 16,7 | 18,4 | 16,7 | 15,3 | |
produção | Importado | 82,2 | 83,3 | 81,6 | 83,3 | 84,7 | |
Fonte: ANDA, Comexstat/Mdic. |
Enquanto o consumo cresce a mais de 2% ao ano, a produção apresenta redução de – 1,9% do nível de 2014. Assim, a projeção de ampliação de área cultivada e de gradual e contínua melhoria na produtividade da agricultura nacional indica a crescente ampliação de importação desse fertilizante, na hipótese de continuidade da estagnação de sua produção em solo brasileiro.
Considerações finais
Os fertilizantes são produtos mínero-químicos, nutrientes indispensáveis ao cultivo das diversas culturas, como grãos e cereais, plantas permanentes, hortigranjeiras e frutíferas. Integram cadeia produtiva diversificada que contempla a extração e beneficiamento da matéria-prima, a produção de componentes intermediários, os fertilizantes básicos e os produtos finais de fertilizantes simples, mistos e granulados complexos (NPK).
“Já os nutrientes fornecidos pelos fertilizantes são classificados, segundo sua importância no processo de desenvolvimento da produção agrícola, em:
- macronutrientes primários: nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K);
- macronutrientes secundários: cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S); e
- micronutrientes: boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mb), zinco (Zn) e cobalto (Co).” (ANDA, Anuário Estatístico 20/21)
A agropecuária brasileira é o setor que apresenta demanda nacional e mundial crescente por esses insumos para viabilizar o cultivo e a produção de produtos alimentares para a humanidade como para os animais.
Segundo projeções da FAO/ONU, na presente década de 2020 a 2030, o número de habitantes aumentará 750,0 milhões, ou 75,0 milhões/ano, sendo em maior proporção nos países do continente africano e asiático; e até 2050 serão 1,9 bilhões de pessoas a mais que habitarão nosso planeta.
A atual produção agropecuária nacional, está baseada em tecnologias voltadas à preservação ambiental como o plantio direto, a cobertura do solo com plantas visando o aumento contínuo na produtividade e a aplicação dos fertilizantes necessários e indicados para cada solo, cultura e produtividade buscada. Produzir mais alimentos com menos área configura o “poupa-terra”, e reduzir os efeitos ambientais nocivos, é o grande desafio de todo produtor, em especial do brasileiro.
Conforme os fundamentos básicos difundidos pelos técnicos do agronegócio, cabe a cada produtor colocar os insumos e criar as condições indispensáveis a fim de que a mesma área consiga produzir, de forma sustentável, cada vez maior quantidade e melhor qualidade.
Como se verifica a cadeia produtiva ex ante da agricultura brasileira – envolvendo insumos e tecnologias associadas desde agronômicas a químicas até de processos industriais – constitui requisito indispensável e insubstituível para assegurar o crescimento da produção e da produtividade agropecuárias brasileiras, e assim continuar a atender a forte e crescente demanda alimentar mundial com produção sustentável.
É urgente, pois, que seja feita avaliação técnica-econômica sobre a oportunidade e a viabilidade de investimentos nacionais na cadeia produtiva dos insumos minerais e químico-agronômicos, a fim de assegurar os insumos necessários à produção agropecuária nacional e ampliar as oportunidades de trabalho que se fazem necessárias para a ampliação das áreas e da produtividade, além da viabilização de processos produtivos sustentáveis para novos biomas e novos cultivares como na região do nordeste e norte do país.
Bibliografia e dados.
- Primavesi, A. – 1980 – Manejo ecológico dos solos, Editora Nobel, 1980, pg. 13
- MALAVOLTA, E., VITTI, G.C., OLIVEIRA, S.A. – Avaliação do estado nutricional das plantas, princípios e aplicações. 2ec.Piracicaba: POTAFOS, 1997.
- “Simpósio sobre Potássio na agricultura brasileira”, set/2004, Engº Agrº Phd Alfredo Scheid Lopes, Professor Emérito da UFLA-Universidade Federal de Lavras/MG.
- “Os fertilizantes nitrogenados”, agronomiacomgismonti.blogspot.com/2010-04.
- “Transições para o manejo sustentável de fósforo na agricultura brasileira”, Vinicius Benites, pesquisador da Embrapa Solos.
- O enxofre como agente fertilizante na linha de plantio, Silvano Abreu, Blog Nutrição de Safras.
- ANDA, Comexstat/Mdic.
Eloy Corazza, entrou em julho/1970 como AFTF no Ministério da Fazenda, primeiro Coordenador de Cursos da ESAF (1976-79); Diretor Geral de Pessoal, Secretário de Controle Interno do Min dos Transportes, Secretário de Normas da STN – Secretaria do Tesouro Nacional, Secretário Geral-Adjunto de Administração do MF, Secretário de Recursos Humanos do Poder Executivo, Secretário Executivo do Min. de Transportes e Comunicações (1992); Secretário de Controle Interno do Ministério do Planejamento e, após aposentado, Diretor Financeiro da Rede Sarah de Hospitais e Presidente do Sarahprev; além de Secretário Geral do Conselho de Arquitetura (CAU) e Diretor Financeiro da CODHAB/DF. Formado em Economia, Filosofia e Pedagogia. Professor de Economia, da Faculdade Católica/Bsb e da Unisinos, no período de 1972 a 1985.
“Os conteúdos dos textos publicados, artigos e notas, além dos comentários do público, são de responsabilidade exclusiva de seus autores e signatários, não envolvendo ou refletindo posicionamentos ou opiniões do CORECON-DF.”
Ótimo artigo. Bastante didático, facilitando a leitura e compreensão. O autor possui conhecimento teórico e prático.