Eloy Corazza
Corecon-DF nº 4103
O objetivo é apresentar a evolução da agricultura brasileira nos últimos 40 anos, tendo como base os dados divulgados pela Conab na projeção de março para a safra 2019/20 da área plantada, produção e produtividade dos principais cereais cultivados no país.
O desenvolvimento e integração das atividades do setor em todo território brasileiro são bem diferentes daqueles existentes ao final da década de 1970. O contínuo melhoramento da produtividade evidencia também os principais vetores responsáveis por ser hoje o Brasil considerado um dos celeiros do mundo para alimentar a crescente população mundial.
A produtividade, eixo desse crescimento, decorre das tecnologias desenvolvidas pela Embrapa a partir da década de setenta e que foram progressivamente introduzidas na melhoria do processo produtivo do setor, concomitantemente com a incorporação das novas tecnologias utilizadas pelos países mais desenvolvidos, em especial nas máquinas e equipamentos e na incorporação dos sistemas utilizados em todo processo produtivo.
Significativa parcela da população mundial e a quase totalidade dos países dependerão cada vez mais da atividade agrícola e pecuária desenvolvida em nosso País para sua segurança alimentar.
De agricultura de subsistência passou o setor agropecuário brasileiro, em menos de meio século, a ser considerado um dos celeiros do mundo. Hoje as atividades do setor da agropecuária e cadeias produtivas “ex ante” e “ex post” assumiram uma função estratégica vital para o desenvolvimento econômico e social da sociedade brasileira, liderando o crescimento, e, ao mesmo tempo, passando a ser a base para a segurança alimentar mundial.
Contrariamente a presunções em contrário, o forte crescimento da produção tem ocorrido em função da elevação da produtividade do setor agrícola brasileiro, e isto nada tem a ver com problemas ambientais; ao contrário, esse crescimento é resultado de um processo virtuoso de melhoria química, física e biológica do solo com manejo ambiental sustentável.
Esta última – a proteção e melhoria biológica dos solos – é, hoje, requisito imprescindível para lograr melhores resultados de produtividade e com geração dessas melhorias por pesquisas, trabalhos e tecnologias aqui desenvolvidas.
- Área cultivada.
Até a década de 70 a produção dos cereais, com grande participação da região sul, era praticamente toda feita por pequenos produtores, boa parte descendentes de imigrantes de países da Europa, grande parte da Alemanha e da Itália.
As práticas de produção utilizadas por essas famílias, de baixa renda e em sua maioria quase sem recursos, tinham por finalidade a sua manutenção, sendo também denominada de agricultura de subsistência. Inexistia então qualquer indústria de máquinas, na região sul do país, onde a agricultura era desenvolvida pelos descendentes dos imigrantes. Os equipamentos e ferramentas utilizados eram para uso de propriedade familiar.
Foi com o programa de crédito orientado, implantado na segunda parte da década de 60, que iniciou a mecanização dessas propriedades rurais, com tratores, plantadeiras, arados e grades para produtores familiares cuja área, muito raramente, chegava a 50 ha.
As migrações a partir do fim da década dos anos 70 da região Sul para o Centro-Oeste eram de famílias ou filhos desses produtores e que migraram à busca de oportunidades para a família manter o padrão de vida ou buscar ampliação da sua área cultivada.
O PAD (programa de assentamento do distrito federal) operacionalizado na segunda metade da década de setenta foi decisivo para viabilizar a implantação da agricultura no Centro Oeste. As famílias dos pequenos produtores que para ali se mudaram, oriundas quase todas do Rio Grande do Sul e do Paraná fundaram a cooperativa dos produtores (COOPA-DF) que passou a prover os meios básicos, como adubos, sementes e demais insumos, para desenvolver a produção de acordo com padrões técnicos, manejo adequado e plantio de cultivares adaptadas ao clima e às condições de solo da região.
Foram fundamentais e decisivos também os investimentos para desenvolvimento de sementes adequadas à região, como a soja Cristalina e as cultivares Emgopa, ambas pela Embrapa. A viabilização dessas cultivares adaptadas ao clima e às condições regionais foram decisivas para a rápida ampliação da migração para essa região e o Oeste da Bahia, viabilizando o aumento do cultivo da soja em toda a região.
- Área cultivada por Regiões.
Na década de 70, 45% da área cultivada com cereais estava localizada na região Sul, 24% na região Nordeste, 18,1% no sudeste, 11,8% no centro oeste e 9% na região norte. O cultivo na região Centro Oeste, que hoje reúne 43,2% da área plantada, era então metade da área cultivada da região Nordeste, bem menor daquela da região Sudeste e apenas 25% da área da região Sul (Conab, setembro/2020).
Tabela1. Área plantada por Regiões | ||||||
Em Mil hectares | ||||||
Área Plantada | 1976/77 | 1979/80 | 1989/90 | 1999/00 | 2009/10 | 2019/20 |
Sul | 16.901,6 | 17.909,1 | 17.008,1 | 15.036,5 | 17.501,5 | 19.666,9 |
Sudeste | 6.746,1 | 6.444,3 | 6.508,6 | 4.909,6 | 4.750,7 | 5.795,2 |
Centro oeste | 4.387,2 | 5.384,4 | 6.859,6 | 9.340,1 | 15.936,8 | 27.947,5 |
Nordeste | 8.940,8 | 9.891,9 | 7.453,6 | 6.992,2 | 7.579,3 | 8.148,4 |
Norte | 343,2 | 528,5 | 1.115,1 | 1.545,9 | 1.647,4 | 3.220,8 |
BRASIL | 37.318,9 | 40.158,2 | 38.945,0 | 37.824,3 | 47.415,7 | 64.778,8 |
Fonte: Conab, set/2020
Ao longo desses 40 anos, até a safra 19/20, a área nacional destinada aos cereais foi se alterando, com oscilações em cada uma das regiões. Três são as regiões que tiveram aumento da área cultivada com cereais: Sul, Centro Oeste e Norte. As regiões Sudeste e Nordeste apresentaram reduções, respectivamente, de 17,2 % e 9,2 % da área cultivada.
Nesse período de 40 anos, os dados indicam taxas anuais moderadas de crescimento da área plantada, com oscilações e reduções ao longo do período, algumas inclusive que afetaram negativamente a ampliação do setor.
Neste sentido, é importante registrar as crises econômicas nacionais e internacionais que mais afetaram a evolução da área plantada, e mais impactaram o setor agrícola brasileiro.
Crise externa de 1982. A área nacional da safra 81/82 já superava em 10,3% a área de 76/77; a crise provocou redução de 9,6% no plantio subseqüente da safra 82/83 que foi pouco inferior à de 76/77. Na região Nordeste, porém, a queda foi de 16,5% sendo no Sul de 8,1%. A recuperação, porém, se deu em 2 safras, sendo que na de 85/86 já superava em 3,3% a área da safra 81/82.
Plano e cassação de Collor (90-92). Comparada a 76/77 a área de plantio na safra 92/93 caiu 4,55%. Já comparada a 87/88 que foi a maior área plantada desde o início da série, a queda da área plantada foi de 16,8%;
Plano Real (94/95 a 97/98). A mudança que, nestes 40 anos, mais impactou de forma negativa foi a decorrente da implantação do Plano Real, expresso na safra 97/98 que apresentou a menor área desses 40 anos, em decorrência do impacto da política cambial sobre os preços dos produtos e das regras de atualização dos financiamentos agrícolas, que levaram à perda de propriedade por milhares de produtores pequenos e médios. Em relação a 76/77 a redução de área na safra 97/98 alcançou 6,2%, sendo 13,3% na região Sul e 35,3% no Nordeste; comparando com a maior área plantada de 87/88 a queda alcançou a 18,2%.
A menor área plantada ocorreu na safra 97/98 quando caiu para 35,0 milhões de hectares, contra 37,3 milhões da safra inicial de 76/77 da presente série.
Controlada a inflação e abandonada a política de câmbio fixo (correção cambial, 1999) a área plantada retoma seu aumento anual e gradual, apresentando a partir de então pequena redução apenas nas safras 2006/07 até 2010/11 mais uma vez em decorrência da crise financeira internacional. Quando, porém, em contrapartida as commodities passaram a ter forte elevação, a resposta do setor ocorreu por aumento do crescimento das áreas plantadas a uma taxa bem superior à média até então existente.
O registro comparativo da resposta do setor agropecuário às medidas de combate às diversas crises econômicas do país evidencia e comprova a importância da estabilidade das políticas fiscal, financeira e cambial para a sadia e contínua evolução das atividades do setor, além, é claro, da urgente e indispensável ampliação e melhoria da infra-estrutura e da simplificação dos processos burocrático, administrativo e fiscal.
1.2 Área plantada – Participação regional
O aumento da área plantada dos 40 anos, da safra 79/80 com 40,1 milhões de hectares para 64,7 milhões na safra 2019/20, foi de 24,6 milhões de hectares ou seja de 61,3%, o que representa um acréscimo médio da área plantada de 1,0 milhão de hectare ano, ou seja a uma taxa anual de crescimento de 1,6%.
Já a análise quanto à evolução da participação percentual regional na área plantada nacional, neste período de 1979/80 a 2019/20, mostra o aumento gradual da participação das regiões Centro Oeste e Norte, e reduções percentuais observadas na participação das outras regiões: o Sul, – 14,2%; – 12,1% na região Nordeste e – 7,1% na região Sudeste.
Neste período de 40 anos, não obstante a menor participação percentual, a área plantada aumentou em 9,8 % na Região Sul, enquanto as áreas plantadas reduziram em – 10,1% no Sudeste e – 17,6% no Nordeste.
Tabela 2. Área plantada por Regiões | ||||||
Distribuição percentual | ||||||
Área Plantada | 1976/77 | 1979/80 | 1980/90 | 1999/00 | 2009/10 | 2019/20 |
Sul | 45,3 | 44,6 | 43,7 | 39,8 | 36,9 | 30,4 |
Sudeste | 18,1 | 16,0 | 16,7 | 13,0 | 10,0 | 8,9 |
Centro oeste | 11,8 | 13,4 | 17,6 | 24,7 | 33,6 | 43,1 |
Nordeste | 24,0 | 24,6 | 19,1 | 18,5 | 16,0 | 12,6 |
Norte | 0,9 | 1,3 | 2,9 | 4,1 | 3,5 | 5,0 |
BRASIL- há mil | 37.318,9 | 40.158,2 | 38.945,0 | 37.824,3 | 47.415,7 | 64.778,8 |
- Área plantada por safras – verão e inverno.
Outro aspecto importante a considerar é a composição dessas áreas plantadas segundo as safras, isto é, a 1ª safra, 2ª e 3ª safras de verão e a safra de inverno. A designação de safras de verão e inverno tem mais relação com as culturas: assim safra de inverno (trigo, aveia, cevada….) é o período climático de plantio das culturas que suportam ou necessitam de frio; e as culturas de verão aquelas de plantio em estações de temperaturas mais elevadas, adequadas a cada cultura.
Compõem a safra de inverno nas estatísticas de produção: aveia, canola, centeio, cevada, trigo e triticale.
Já a safra verão é composta das seguintes 12 culturas: algodão, amendoim, arroz, feijão, gergelim, girassol, mamona, milho, soja e sorgo. Dessas culturas hoje 3 são cultivadas também no período outono-inverno, nas regiões equatorial, subtropical e tropical, e por isto conhecidas como safrinha ou segunda safra.
Assim, das 12 culturas de safras de verão, integram a safrinha (2ª e 3ª safras de verão) no sistema de estatísticas da Conab, o amendoim, o feijão e o milho (embora existam plantios de outras culturas como girassol e sorgo). Assim, essas três culturas são hoje cultivadas na mesma época de cultivo daquelas de inverno, estando as culturas da safrinha localizadas em regiões em que não haja ocorrência de geadas.
Cabe registrar, porém, que a aveia e o trigo da safra de inverno, são também plantados como safrinha em áreas do Centro Oeste, inclusive no DF; o mesmo ocorre com o sorgo constante como cultura da 1ª safra de verão, mas plantado na safrinha desta região central.
O que mais se modificou e aperfeiçoou neste período, sem dúvida, foi o processo produtivo brasileiro que viabilizou o plantio mais intensivo (mais de um cultivo no verão) das áreas nas regiões sul, sudeste e centro oeste, além de viabilizar o cultivo nas regiões Nordeste e Norte.
A ocupação dessas áreas cultiváveis foi gradualmente viabilizada pelos estudos e pesquisas desenvolvidas pela Embrapa e por outras instituições, universidades e institutos de pesquisa, com as conseqüentes adequações das práticas agropecuárias, como, de correção da acidez e da fertilidade do solo, sistema de cultivo de plantio direto, o melhoramento genético para criação de cultivares adaptadas às condições climáticas e de solo, além do concomitante e fundamental crescimento da rede privada da cadeia de suprimento dos insumos, desde as sementes, máquinas e equipamentos, assistência técnica, provimento de herbicidas, inseticidas, fungicidas, adubos foliares etc e ultimamente com a universalização do uso de sistemas GPS, via satélite, nas máquinas para semeadura, tratos culturais, aplicações de produtos e colheita das diversas culturas. Boa parte dessas áreas plantadas com monitoramento por GPS, sequer tem acesso a telefone ou outras linhas do sistema de comunicação do país.
1.2.1 Safra de inverno.
A safra de inverno ocorre na região Sul, com os produtos: aveia, canola mais plantada no Paraná, centeio, cevada, trigo e triticale. Em 1977/78 foram plantados 3.290,8 ha tendo se reduzido na safra 2019/20 para 2.610,9 ha.
Tabela 3. SAFRA DE INVERNO – 1976/77 a 2019/20 | |||||||
Área plantada – Mil hectares | |||||||
De inverno – produtos | 1976/77 | 1979/80 | 1989/90 | 1999/00 | 2009/10 | 2019/20 | |
Aveia | 39,8 | 75,5 | 195,5 | 221,9 | 126,4 | 398,0 | |
Canola | – | – | – | – | 31,0 | 34,0 | |
Centeio | 4,1 | 12,2 | 4,1 | 7,0 | 3,6 | 4,0 | |
Cevada | 93,6 | 74,0 | 105,0 | 150,8 | 77,5 | 118,8 | |
Trigo | 3.153,3 | 3.105,2 | 3.283,3 | 1.468,1 | 2.428,0 | 2.040,5 | |
Triticale | – | – | – | – | 67,5 | 15,6 | |
Área de Inverno | 3.290,8 | 3.266,9 | 3.587,9 | 1.847,8 | 2.734,0 | 2.610,9 | |
79/80=100 | 100,7 | 100,0 | 109,8 | 56,6 | 83,7 | 79,9 |
A cultura de trigo representa 79,8 % da área plantada de culturas de inverno, não obstante tenha se reduzido em 26,2 % frente à da safra 76/77.
1.2.2 Safra de verão.
A safra de verão de 1977/78 era formada por áreas plantadas na 1ª safra e na 2ª safra, sendo que na 2ª safra eram apenas as culturas de amendoim e de feijão; ainda não era cultivada a segunda safra de milho, cujo primeiro registro é na safra 79/80.
Da mesma forma a 3ª safra de feijão tem seu primeiro registro apenas na safra 85/86.
1.2.3 Área da 1ª safra de verão.
As culturas plantadas na 1ª safra de verão totalizam 10, a saber: algodão, amendoim, arroz, feijão, gergelim, girassol, mamona, milho, soja e sorgo.
A área cultivada da 1ª safra de verão de 1976/77 somou 30,8 milhões de hectares, correspondendo a 82,6% da área total plantada de verão e de inverno. Já em 1979/80 a área de 1ª safra elevou-se para 33,4 milhões de hectares equivalentes a 83,2% da área total plantada, e a 2ª safra ocupava 8,7% da área plantada.
Tabela 4. Safra 79/80 | |||||
Área plantada | safra 1976/77 | safra 79/80 | |||
há | % | há | % | ||
inverno | 3.290,8 | 8,8 | 3.266,9 | 8,1 | |
verão – 1ª | 30.821,3 | 82,6 | 33.396,6 | 83,2 | |
verão – 2ª e 3ª | 3.201,8 | 8,6 | 3.494,7 | 8,7 | |
TOTAL | 37.313,9 | 100,0 | 40.158,2 | 100,0 |
Na safra 2019/2020, a área total plantada no país incluindo de inverno e de verão, e a área total plantada nas safras de verão (1ª, 2ª e 3ª) apresentam a posição que a seguir se detalha.
A área total plantada no país (verão e inverno) soma 64,7 milhões de hectares. Já a área plantada na 1ª safra de verão totaliza 45,7 milhões, ou seja, 70,6% da área total plantada na safra.
A área física real plantada na safra 2019/20 é, pois, de 45,7 milhões de hectares, equivalente sempre à área da 1ª safra de verão. Isso porque todas as culturas de inverno e as da 2ª e 3ª safra de verão, são cultivadas como rotação da área plantada na 1ª safra de verão. Somam 19 milhões de hectares as áreas cultivadas duas ou três vezes no mesmo ano agrícola, pois as culturas de inverno e as culturas de 2ª e 3ª safra de verão ocorrem na mesma área física onde foram plantadas e colhidas as culturas da 1ª safra de verão.
Portanto, a área física real cultivada em todo País, nas diversas estações do ano, ou seja, nos diversos plantios, das 3 safras de verão e a safra de inverno, soma 45.723,0 mil hectares.
Tabela 5. Área Plantada 2019/20 – comparação com 1979/80
SAFRA 2019-20 | Var. sobre 79/80 | ||||
Área plantada | há | % do total | há | Var. % | |
inverno | 2.610,9 | 4,0 | (656,0) | (20,1) | |
verão – 1ª | 45.723,0 | 70,6 | 12.326,4 | 36,9 | |
verão – 2ª e 3ª | 16.444,9 | 25,4 | 12.950,2 | 370,6 | |
TOTAL | 64.778,8 | 100,0 | 24.620,6 | 61,3 |
A comparação da área plantada de 2019/20 com a área da safra 1979/80 evidencia que, com o desenvolvimento da agricultura subtropical e tropical, nestes 40 anos os produtores passaram a fazer uso mais intensivo de cada área com mais áreas cultivadas na 2ª e 3ª safras de verão, em especial na região do Centro Oeste, parte do Sul e Sudeste.
O aumento da área física real plantada na safra 2019/20 sobre a de 1979/80 corresponde a 12.326,4 mil hectares (1ª safra de verão + inverno), o que representa aumento real de 36,9 % da área física plantada na safra 1979/80 que foi 33,39 milhões de hectares abertos e cultivados.
Assim, o aumento na área física plantada nestes 40 anos é de 12,326 milhões, enquanto o aumento na área plantada foi de 24,6 milhões de hectares na safra 2019/20, contra o comparativo apenas da área plantada total que foi de 61,3%. Ou seja, enquanto nestes 40 anos a área aberta para lavoura foi de 12,3 milhões de hectares, essa área passou a ter duas culturas por ano, crescendo, por isto, em 24,6 milhões a área plantada.
Ou seja, a maior intensidade de uso da área decorreu da ampliação em 12,95 milhões de hectares plantados na 2ª e 3ª safras de verão neste período de 40 anos, para o que constituem requisitos a prática do plantio direto, a rotação de culturas e gradativamente a manutenção da cobertura do solo no período de seca, a melhor forma para melhorar a biologia, manutenção de umidade e qualidade do solo.
1.2.4 Área de 2ª e 3ª safras de verão.
O plantio de 2ª e 3ª safras de culturas de verão é uma das diferenças do processo produtivo brasileiro frente aos demais grandes produtores mundiais cuja agricultura é em clima frio ou temperado e se compõe apenas de uma safra de verão e outra de inverno.
No Brasil, de parte do Paraná em direção às regiões centrais rumo ao equador, com destaque ao Centro Oeste e Sudeste, o plantio da 1ª safra de verão se dá com a chegada da chuva, em setembro/outubro nos Estados de Mato Grosso e em outubro/novembro em Goiás, norte de Minas Gerais e oeste da Bahia.
No início da ocupação dessas regiões, quando ainda inexistia o plantio direto, o ciclo da cultura de soja tinha que superar 120 dias, chegando até 140 dias. Nestas regiões inexistia safrinha; a rotação ocorria de ano para ano: um ano com plantio de soja e na safra seguinte o plantio de milho na mesma área física.
A geração de sementes de soja com menor ciclo – 100 a 110 dias – viabilizou o aumento do plantio da área de soja na 1ª safra de verão das regiões “subtropicais e tropicais” em substituição ao milho que passou a ser gradualmente plantado como “safrinha”, na 2ª safra, cujo plantio ocorre no lugar da soja precoce colhida, a partir do mês de fevereiro. Assim a cultura da soja nas regiões centro oeste e sudeste que dividia a área com a de milho, foi gradativamente aumentando sua participação na 1ª safra de verão, enquanto a de milho, à medida da redução do ciclo da soja foi deslocada para a 2ª safra e representa hoje uma área superior a toda a área plantada de milho do início até a década de 90.
Tabela 6. Área plantada – Mil há. | |||||||
Safra e produtos | 1976/77 | 1979/80 | 1989/90 | 1999/00 | 2009/10 | 2019/20 | |
2ª safra | 3.024,2 | 3.416,1 | 3.668,6 | 5.482,9 | 6.735,3 | 14.599,7 | |
amendoim | 67,5 | 87,0 | 21,9 | 27,3 | 20,5 | 7,4 | |
feijão | 2.956,7 | 3.183,1 | 3.128,3 | 2.547,5 | 1.444,9 | 1.442,3 | |
milho | – | 146,0 | 518,4 | 2.908,1 | 5.269,9 | 13.150,0 | |
3ª safra | – | – | 213,9 | 148,8 | 753,8 | 1.108,8 | |
feijão | – | – | 213,9 | 148,8 | 753,8 | 597,8 | |
milho | – | – | – | – | – | 511,0 | |
2ª e 3ª safras | 3.024,2 | 3.416,1 | 3.882,5 | 5.631,7 | 7.489,1 | 15.708,5 | |
Safras de verão | 33.845,5 | 36.812,7 | 34.899,5 | 35.166,0 | 33.492,4 | 32.920,4 | |
Nota: evolução com base no 1º ano de área plantada. |
A denominada 3ª safra de milho se refere às produções de Estados do Nordeste como Sergipe e Alagoas cujo plantio se ajusta ao regime de chuvas regional e ocorre mais tarde.
Já a cultura do feijão, cujo ciclo é de 90 a 100 dias, costuma ser o primeiro cultivo em algumas áreas das regiões centrais do país e o seu segundo plantio é em sucessão a outra cultura; o terceiro plantio na região ocorre em áreas irrigadas.
Embora concentrado o plantio em soja e milho, são freqüentes o plantio de pequenas áreas com outras culturas, como trigo, aveia, feijão caupi e outras.
- Área plantada por produtos.
A área plantada se distribui por 16 produtos nas seguintes safras:
- Safra de inverno: aveia, canola, centeio, cevada, trigo e triticale;
- Safras de verão:
- 1ª safra: Algodão, amendoim, arroz, feijão, gergelim, girassol, mamona, milho, soja e sorgo.
- 2ª safra: amendoim, feijão, milho. Embora não constem, sorgo e girassol também são cultivados.
A área plantada das seis principais culturas – algodão, arroz, feijão, milho, soja e trigo – mantém elevada participação: 97,5% da área total, em 1979/80, 95,6% na safra 1999/00 e 97,3% na safra de 2019/20. Destas seis, 3 destinam-se exclusivamente à alimentação humana; e o milho é essencial para a alimentação humana e dos animais.
As duas culturas que apresentaram maior crescimento, no período, da área plantada são o milho e a soja, que passaram de 50,9% da área plantada na safra 79/80 para 71,2% na safra 99/00, e agora 84,5% na safra de 2019/20.
Tabela 7. Área plantada – 1979/80 | |||
Seis principais culturas | |||
1979/80 | 1999/00 | 2019/20 | |
ALGODÃO | 4.070,9 | 868,4 | 1.670,8 |
ARROZ | 6.471,8 | 2.764,8 | 1.656,8 |
FEIJÃO TOTAL | 5.068,1 | 3.878,7 | 2.964,9 |
MILHO TOTAL | 11.669,9 | 12.972,5 | 17.894,2 |
SOJA | 8.755,9 | 13.969,8 | 36.820,8 |
TRIGO | 3.105,2 | 1.710,2 | 2.040,5 |
sub-1= 6 maiores | 39.141,8 | 36.164,4 | 63.048,0 |
Área total | 40.158,2 | 37.847,3 | 64.778,8 |
Relação = 6 / total | 97,5 | 95,6 | 97,3 |
Milho e Soja | 20.425,8 | 26.942,3 | 54.715,0 |
Relação = M+S / Total da área | 50,9 | 71,2 | 84,5 |
Outro aspecto importante a constatar é a evolução da área plantada de arroz, feijão e trigo, uma vez que são culturas diretamente relacionadas ao consumo humano. Contrariamente às culturas de soja e milho, a cada safra tem sido proporcionalmente menor a área destinada a tais culturas, embora suficiente para atender ao abastecimento da demanda interna e ainda atender pequena proporção da demanda externa, conforme a seguir.
Tabela 8. Área plantada – Há mil | |||
1979/80 | 1999/00 | 2019/20 | |
Arroz,Feijão,Trigo | 14.645,1 | 8.353,7 | 6.662,2 |
% sobre total | 36,5 | 22,1 | 10,3 |
% sobre seis | 37,4 | 23,1 | 10,6 |
A área dessas três culturas – arroz, feijão e trigo – que era 36,5% do total plantado em 79/80, foi reduzida gradativamente, alcançando na presente safra apenas a 10,3% da área plantada, com simultânea manutenção ou aumento de sua produção.
- PRODUÇÃO – 1979/80 a 2019/20.
Nestes 40 anos a produção brasileira de cereais passou de 50,8 para 251,9 milhões de toneladas, um aumento de 201,0 milhões de toneladas.
Além da evolução segundo as regiões do país, será também apresentada sua evolução segundo as safras e os produtos, a fim de possibilitar um melhor conhecimento do potencial da agricultura brasileira que, além de assegurar o abastecimento da alimentação do país, passou a ser e daqui pra frente será, cada vez mais, uma das poucas alternativas mundiais disponíveis para assegurar alimentos para o restante do mundo.
A demanda mundial crescente por alimentos para os humanos e também para os animais tem no Brasil uma das poucas alternativas de suprimento. Segundo informações, hoje cerca de 1,5 bilhões de pessoas se alimentam com produtos exportados pelo Brasil. Neste contexto, vale trazer as palavras da Ministra Tereza Cristina do Ministério da Agricultura (in, Valor de 29-4-2020, B10):
“Temos que diversificar os produtos e os países. O tamanho da nossa agricultura não nos permite ficar fechados, temos muita coisa para prospectar”. Neste sentido complementa a Ministra que o país pode ser ainda mais protagonista pois: “Mas, comida todo mundo precisa, e o Brasil tem que aproveitar esse momento para mostrar a qualidade e a sanidade dos seus produtos”.
- Produção segundo as regiões.
Tabela 9. Produção das Regiões – Ton mil | ||||||
Produção – Ton mil | 1976/77 | 1979/80 | 1989/90 | 1999/00 | 2009/10 | 2019/20 |
Sul | 27.509,5 | 29.645,0 | 32.604,4 | 35.813,7 | 63.412,7 | 78.739,4 |
Sudeste | 9.012,6 | 9.889,8 | 10.161,6 | 11.415,3 | 17.323,2 | 24.264,0 |
Centro oeste | 5.572,7 | 7.246,0 | 11.253,5 | 25.474,2 | 52.408,2 | 118.185,7 |
NORDESTE | 4.419,9 | 3.421,3 | 2.940,0 | 7.850,9 | 11.973,5 | 19.987,4 |
Norte | 428,4 | 669,1 | 2.192,0 | 2.475,8 | 4.137,3 | 10.727,7 |
BRASIL | 46.943,1 | 50.871,2 | 58.280,3 | 83.029,9 | 149.254,9 | 251.904,2 |
Legenda: (¹) Estimativa em março/2020. | ||||||
Fonte: Conab. | ||||||
Há = 1976-77=100 | 100,0 | 108,4 | 124,2 | 176,9 | 317,9 | 536,6 |
Há = 1979-80=100 | 100,0 | 114,6 | 163,2 | 293,4 | 495,2 | |
Há=1997-98=100 | 76.558,7 | 195,0 | 329,0 |
A taxa média anual de crescimento da produção foi de 3,39%, variando segundo as regiões. As regiões Centro Oeste e Norte apresentaram crescimento da produção acima de 1500%, seguidas do Nordeste com 484,2%, o Sul com 165,6% e o Sudeste com 145,3%.
A participação de cada região evoluiu de maneira diferenciada no período, com um crescimento mais rápido nas regiões Centro Oeste e Norte, resultantes da ampliação de áreas plantadas e principalmente na última década pela adoção, nestas regiões, de processos de cultivos de utilização mais intensiva das áreas, através do forte crescimento da safrinha, além de adoção de processos mecanizados de forma mais rápida.
Tabela 10. Participação regional na produção – em % | ||||||
Regiões | 1976/77 | 1979/80 | 1989/90 | 1999/00 | 2009/10 | 2019/20 |
Sul | 58,6 | 58,3 | 55,9 | 43,1 | 42,5 | 31,3 |
Sudeste | 19,2 | 19,4 | 17,4 | 13,7 | 11,6 | 9,6 |
Centro oeste | 11,9 | 14,2 | 19,3 | 30,7 | 35,1 | 46,9 |
Nordeste | 9,4 | 6,7 | 5,0 | 9,5 | 8,0 | 7,9 |
Norte | 0,9 | 1,3 | 3,8 | 3,0 | 2,8 | 4,3 |
BRASIL | 100,0 | 100,0 | 100,0 | 100,0 | 100,0 | 100,0 |
As regiões Sul e Sudeste cuja produção, na safra 1979/80, representava 77,7% da produção nacional, agora na safra 2019/20 passaram a representar 40,9%, em decorrência do avanço e da ampliação das áreas cultivadas nas regiões Centro Oeste e Norte que, juntas, passaram de 12,8% para 51,2% da produção nacional, ocorrendo pequena redução de 9,4% para 7,9% na participação da região Nordeste.
Nestes 40 anos, a produção brasileira de cereais das duas regiões de maior produção – Sul e Centro-Oeste – passou de 36,8 milhões de para 196,9 milhões de toneladas, equivalente hoje a 78,2% da produção nacional, com aumento de 533,8%.
- Produção por safras.
Diversas culturas podem ser plantadas em diferentes momentos do calendário da safra de verão. Assim, amendoim é plantado na 1ª e 2ª safra, enquanto feijão e milho são cultivados na 1ª, 2ª e 3ª safras. E na 1ª safra de verão, além de amendoim, feijão e milho, outras 7 (sete) culturas são plantadas: algodão, arroz, gergelim, girassol, mamona, soja e sorgo. Já na safra de inverno seis culturas são plantadas: aveia, canola, centeio, cevada, trigo e triticale.
As produções registradas nas safras desde 1976/77 até a corrente safra de 2019/20 é a que segue, em Mil toneladas, por safras e pelas principais culturas.
Tabela 11. Produção por safras – Ton. Mil | ||||||
Safras | 1976/77 | 1979/80 | 1989/90 | 1999/00 | 2009/10 | 2019/20 |
De verão | ||||||
1ª safra | 43.373,4 | 46.901,9 | 52.540,0 | 75.215,5 | 120.041,9 | 168.554,0 |
2ª e 3ª safras | 1.362,7 | 1.069,3 | 1.965,8 | 5.635,8 | 23.811,4 | 76.626,9 |
Safras de verão | 44.736,1 | 47.971,2 | 54.505,8 | 80.851,3 | 143.853,3 | 245.180,9 |
Safra de inverno | 2.207,0 | 2.900,0 | 3.774,5 | 2.178,6 | 5.690,8 | 6.723,3 |
TOTAL | 46.943,1 | 50.871,2 | 58.280,3 | 83.029,9 | 149.544,1 | 251.904,2 |
Ao se observar a evolução da produção de cada safra, verifica-se que a 1ª safra de verão aumentou 359,4% e a safra de inverno em 231,8%, de 1979/80 até 2019/20, sendo de 352,0% o aumento da soma de ambas.
Já a segunda e terceira safras apresentaram crescimento bem acima em sua participação, em especial nos últimos 20 anos, e contribuíram de forma decisiva para a maior taxa de aumento da produção da safra nesses 40 anos que foi de 495,2%.
Tabela 12. Evolução da produção – 1979/80= 100 | ||||||
Safras | 1976/77 | 1979/80 | 1989/90 | 1999/00 | 2009/10 | 2019/20 |
De verão | ||||||
1ª safra | 92,5 | 100,0 | 112,0 | 160,4 | 255,9 | 359,4 |
2ª e 3ª safras | 127,4 | 100,0 | 183,8 | 527,1 | 2.226,8 | 7.166,1 |
Safras de verão | 93,3 | 100,0 | 113,6 | 168,5 | 299,9 | 511,1 |
Safra de inverno | 76,1 | 100,0 | 130,2 | 75,1 | 196,2 | 231,8 |
SAFRA TOTAL | 92,3 | 100,0 | 114,6 | 163,2 | 294,0 | 495,2 |
O aumento de 495,2% da produção nacional nestes 40 anos contrasta positivamente com o aumento ocorrido da área física aberta para plantio de apenas 36,2%.
A participação percentual de cada safra na produção total do Brasil tem também importante significância, uma vez que cada safra, além dos aspectos de plantio, cultivo e colheita, está sujeita a diferentes épocas das estações de chuvas e de seca nas diversas regiões do Brasil.
Tabela 13. Participação % | ||||||
Safras | 1976/77 | 1979/80 | 1989/90 | 1999/00 | 2009/10 | 2019/20 |
De verão | ||||||
1ª safra | 92,4 | 92,2 | 90,2 | 90,6 | 80,3 | 66,9 |
2ª e 3ª safras | 2,9 | 2,1 | 3,4 | 6,8 | 15,9 | 30,4 |
Safras de verão | 95,3 | 94,3 | 93,5 | 97,4 | 96,2 | 97,3 |
Safra de inverno | 4,7 | 5,7 | 6,5 | 2,6 | 3,8 | 2,7 |
TOTAL – Mil ton. | 46.943,1 | 50.871,2 | 58.280,3 | 83.029,9 | 149.544,1 | 251.904,2 |
A safra de inverno, cuja participação evoluíra de 4,7% na safra de 1976/77 para 6,5% da produção nacional em 89/90, passou a partir de então a reduzir sua participação na safra total do país até os 2,7% da atual safra 2019/20.
Similar evolução de participação ocorreu também com a 1ª safra de verão, em decorrência da ampliação da produção de milho e feijão na segunda e terceira safras de verão, cuja participação a partir da safra de 1989/90 passou a duplicar a cada 10 anos, alcançando 30,4% da safra brasileira na atual safra de 2019/20.
- Produtos por safras.
3.1 De inverno.
Das culturas de inverno cultivadas desde o início em 1976/77, – aveia, centeio, cevada e trigo -, três delas que somavam 99,6% da safra de inverno de 76/77 somam 98,5% da produção na presente safra, o trigo com 79,5%, a aveia 13,4% e a cevada com 5,6%.
As culturas de canola e triticale cujos registros iniciam na safra 2009/10, além do centeio, tem participação apenas de 1,5% da produção de inverno, estando concentradas nos 3 Estados da região Sul.
- De verão
- Produtos da 1ª safra de verão.
O cultivo da safra de verão (1ª) ocorre em toda a área disponível de 45,7 milhões de hectares para plantio, e serve de parâmetro para indicar a área física real que é utilizada para plantio de todas as safras, de verão e de inverno. Esta área plantada total da 1ª safra representa 70,6% da área total, sendo a participação das safrinhas de verão (2ª e 3ª) de 25,4% e a de inverno de 4%.
Os produtos cultivados na 1ª safra de verão estão elencados a seguir, bem assim a evolução de sua produção neste período de 40 anos, o que possibilita a melhor avaliação de quais foram os produtos que mais contribuíram para a ampliação do cultivo em especial nas regiões tropicais.
Tabela 14. PRODUÇÃO, Ton mil, 1ª safra de verão | ||||||
Produtos | 1976/77 | 1979/80 | 1989/90 | 1999/00 | 2009/10 | 2019/20 |
1ª safra | ||||||
ALGODÃO | 1.176,0 | 1.105,7 | 1.228,5 | 1.187,4 | 1.843,1 | 4.278,1 |
AMENDOIM | 231,8 | 429,4 | 113,6 | 146,5 | 191,9 | 502,0 |
ARROZ | 8.993,3 | 9.638,3 | 7.967,9 | 11.423,1 | 11.660,9 | 10.524,5 |
FEIJÃO | 935,0 | 1.000,0 | 911,0 | 1.412,4 | 1.463,1 | 1.049,5 |
GERGILIM | – | – | – | – | – | 127,8 |
GIRASSOL | – | – | – | 97,4 | 80,6 | 94,6 |
MAMONA | 201,5 | 302,3 | 118,2 | 107,4 | 100,6 | 30,0 |
MILHO | 19.255,7 | 19.356,5 | 21.757,0 | 27.715,3 | 34.079,2 | 25.560,5 |
SOJA | 12.145,0 | 14.887,4 | 20.101,3 | 32.344,6 | 68.688,2 | 124.205,1 |
SORGO | 435,1 | 182,3 | 342,5 | 781,4 | 1.624,2 | 2.181,9 |
TOTAL | 43.373,4 | 46.901,9 | 52.540,0 | 75.215,5 | 119.731,8 | 168.554,0 |
soja/total | 28,0 | 31,7 | 38,3 | 43,0 | 57,4 | 73,7 |
milho/total | 44,4 | 41,3 | 41,4 | 36,8 | 28,5 | 15,2 |
arroz/total | 20,7 | 20,5 | 15,2 | 15,2 | 9,7 | 6,2 |
Os dois produtos que alavancaram a produção nas regiões tropicais, em particular aquelas em que é viável mais do que uma safra de verão, são a soja e o milho.
Na 1ª safra de verão, o destaque é a cultura da soja, que participava com 28,7% da produção na safra em 76/77 e passou para 73,7% da produção nacional da 1ª safra, impulsionada que foi, neste milênio, pelo forte crescimento da demanda interna para alimentação animal de aves, suínos e bovinos, e capitaneada pelo forte aumento da demanda externa da soja e também das carnes.
Na 1ª safra, a área plantada da cultura do milho reduziu de 11,5 milhões na safra 79/80 para 4,2 milhões de há nesta safra 2019/20, ou seja, 63,5% a menos; da mesma forma sua participação de 44,4% na produção nacional em 79/80 caiu para 15,2% na corrente safra de 2019/20. Mesmo com esta forte redução na área da 1ª safra, a produção aumentou em 32% neste mesmo período de 40 anos.
- Produtos de 2ª e 3ª safras de verão
A viabilização da soja nas áreas de cerrado do Centro Oeste e mais recentemente de áreas da região Norte, além de áreas no Sudeste, foi e continua sendo a mola propulsora do crescimento da produção de cereais nestas regiões, de clima subtropical e tropical. Nestas regiões, sem o plantio da soja não existiria cultivo de milho; e a produção bovina não teria o papel que hoje tem e representa na economia do país e da alimentação mundial.
Na raiz de todo processo de plantio em regiões semi e tropicais e em estações de seca está o trabalho de pesquisa desenvolvido a partir de 1973 com a criação e organização da Embrapa que após capacitar seus profissionais nas melhores universidades dos países com agricultura mais avançada, focou o trabalho de seus recursos humanos para a viabilização das sementes da oleaginosa e de todas as outras culturas, assim como dando suporte para as respectivas práticas agrícolas de seu cultivo nas áreas desta região, desde a correção e melhoria de solo, até a integração com atividades pecuárias e melhoria do perfil dos solos, bem como dando suporte técnico às migrações de produtores de outras regiões.
A comparação da produção das 2ª e 3ª safras com a safra total de cada ano e com a 1ª safra de verão demonstram os eixos dessa evolução:
- evolução gradativa até o fim do século passado;
- aceleração do ritmo de crescimento dessas safras de verão, com deslocamento do eixo produtivo da agricultura da região Sul e Sudeste para a região Centro Oeste e na atual década 2010/20 também para a região Norte e parte do Nordeste.
Tabela 15. Participação % da 2ª e 3ª safras | ||||||
1976/77 | 1979/80 | 1989/90 | 1999/00 | 2009/10 | 2019/20 | |
2ª e 3ª safra/ 1ª safra | 3,1 | 2,3 | 3,7 | 7,5 | 19,9 | 45,5 |
2ª e 3ª safra/ TOTAL | 2,9 | 2,1 | 3,4 | 6,8 | 16,0 | 30,4 |
Enquanto na 1ª safra de verão, a soja tem sido a cultura que acelerou sua participação na safra brasileira, sendo cultivada desde a safra 76/77 nas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste, a cultura do milho representa mais de 97% das 2ª e 3ª safras de verão, tendo sua produção se deslocado igualmente da região Sul para o Centro Oeste.
A tabela a seguir mostra que a produção de milho triplicou em 10 anos para responder ao forte aumento da demanda nacional, com cerca de 2/3 da produção, e a crescente demanda internacional. De forma similar, a soja duplicou sua produção em igual período, sendo, porém, 2/3 dela destinada ao atendimento da demanda externa.
O desenvolvimento do plantio de milho na safrinha se deu ao longo de 30 anos. Os registros da produção de milho na 2ª safra iniciaram com a Bahia na safra 79/80, Paraná na safra 83/84 e na safra 88/89 em São Paulo e Mato Grosso do Sul. Somente na safra 91/92 ocorre a produção nos Estados de Goiás e Mato Grosso e na safra 93/94 em Rondônia e Tocantins.
Já a produção nos Estados do Nordeste, Sergipe e Alagoas iniciam na safra 2010/11 e nos Estados do Piauí e Maranhão na safra seguinte de 2011/12.
Tabela 16. PRODUÇÃO, | ||||||
2ª e 3ª de verão – mil Ton | ||||||
Produtos | 1976/77 | 1979/80 | 1989/90 | 1999/00 | 2009/10 | 2019/20 |
Amendoim | 82,5 | 95,2 | 30,3 | 25,1 | 34,1 | 13,2 |
Feijão | 1.280,2 | 895,3 | 1.434,7 | 1.685,5 | 1.859,4 | 2.090,9 |
Milho | – | 78,8 | 500,8 | 3.925,2 | 21.938,8 | 74.522,8 |
1.362,7 | 1.069,3 | 1.965,8 | 5.635,8 | 23.832,3 | 76.626,9 | |
2ª e 3ª/ 1ª safra | 3,1 | 2,3 | 3,7 | 7,5 | 19,9 | 45,5 |
- As seis culturas de maior produção.
No período em análise, as duas culturas que apresentaram maior aumento de produção foram a soja e o milho. Ambas constituem as bases da produção agrícola brasileira, das safras de verão da região Sul, da 2ª safra de verão das demais regiões e foram as culturas que viabilizaram a produção agrícola nas regiões tropicais e semi tropicais, tanto na região Centro-Oeste e Sudeste como nas áreas do MATOPIBA: sul do Maranhão, Tocantins, sul do Piauí e oeste da Bahia.
A abertura de áreas foi feita com o cultivo da soja que, após algumas safras, passa criar no solo condições para alternar com o plantio do milho das safrinhas, 2ª e 3ª, passando ser a rotação habitual dessas regiões, devido aos benefícios trazidos pela soja na nutrição do solo para a cultura do milho e pela importância da palha de milho para manter coberto o solo na seca e assim melhorar gradativamente a fertilidade e a qualidade do solo.
Uma prática bastante freqüente na região é plantar capim braquiária na linha de plantio do milho safrinha, pois o capim gera forte proteção e melhoria da qualidade do solo, além de aprofundar as raízes no subsolo e servir de alimentação e engorda do gado juntamente com os restos do milho já colhido e no período da seca em que há redução do pasto disponível.
Tabela 17. PRODUÇÃO – 1976/77 a 2019/20 | ||||||
Seis principais culturas | ||||||
Culturas | 1976/77 | 1979/80 | 1989/90 | 1999/00 | 2009/10 | 2019/20 |
ALGODÃO | 1.176 | 1.106 | 1.229 | 1.187 | 1.891 | 4.278 |
ARROZ | 8.993 | 9.638 | 7.968 | 11.423 | 11.661 | 10.525 |
FEIJÃO TOTAL | 2.215 | 1.895 | 2.346 | 3.098 | 3.098 | 3.140 |
MILHO TOTAL | 19.256 | 19.435 | 22.258 | 31.641 | 56.018 | 100.083 |
SOJA | 12.145 | 14.887 | 20.101 | 32.345 | 68.688 | 124.205 |
TRIGO | 2.066 | 2.861 | 3.304 | 1.658 | 5.026 | 5.347 |
sub-1= 6 maiores | 45.851 | 49.823 | 57.205 | 81.352 | 146.382 | 247.578 |
Produção total | 46.943 | 50.871 | 58.280 | 83.030 | 149.255 | 251.904 |
Sub-1 / total | 97,7 | 97,9 | 98,2 | 98,0 | 98,1 | 98,3 |
Milho e Soja | 31.401 | 34.323 | 42.359 | 63.985 | 124.706 | 224.288 |
Milho+Soja/Total | 66,9 | 67,5 | 72,7 | 77,1 | 83,6 | 89,0 |
Milho/Total | 41,0 | 38,2 | 38,2 | 38,1 | 37,5 | 39,7 |
Soja/Total | 25,9 | 29,3 | 34,5 | 39,0 | 46,0 | 49,3 |
As duas culturas, milho e soja, cuja produção era de 66,9% da produção cereais no país, na safra 76/77 ampliaram gradualmente sua produção, aumentando expressivamente sua participação na corrente safra para 89% de toda produção brasileira de verão e de inverno da corrente safra 2019/2020.
As seis maiores culturas – algodão, arroz, feijão, milho, soja e trigo – mantém nestes 40 anos praticamente a mesma proporção na produção do país, embora as culturas de milho e soja tiveram área plantada e a produção muito acima das demais. As quatro outras – algodão, arroz, feijão e trigo – embora tenham reduzido de 18,7 para 8,3 milhões de hectares a área plantada, ou seja, em 55,5%, apresentaram aumento na produção de 50,2% passando de 15,5 para 23,3 milhões de toneladas.
Outro aspecto a considerar é que três das culturas – arroz, feijão e trigo – são, por assim dizer, os ingredientes para a alimentação dos brasileiros de todas as regiões, e cujos produtos raramente registram alguma exportação. Das três, apenas parte do trigo é importada para completar a necessidade interna.
O arroz, cujo consumo é destinado basicamente ao mercado interno, apresentou aumento de 10% na produção, suficiente para abastecer o mercado nacional, com redução de 74% da área plantada, com a contínua melhoria do processo produtivo e da produtividade que cresceu no período 426,7%.
- PRODUTIVIDADE – 1979/80 a 2019/20.
Antes de analisar os resultados alcançados na produção das diversas regiões, diversas safras e culturas, um breve registro do processo de cultivo e das práticas e cuidados adotados para tornar o solo de cerrado apto a produzir cereais, tornando-o a cada ano melhor.
È fundamental ter conhecimento e consciência que o resultado buscado pelo produtor, pequeno, médio ou grande, é um só: produzir mais na mesma área, com cada vez menor gasto com insumos; e para isto seguir as melhores práticas recomendadas pela assistência técnica, por vizinhos, conhecidos ou familiares.
Inicialmente, antes do sistema hoje utilizado de plantio direto, a abertura das áreas nativas ou de pastagem degradada do cerrado, iniciava com aração do solo, limpeza e gradagem, sendo então feitas curvas de nível para evitar erosão. A seguir se fazia a correção da acidez do solo (elevação do pH do solo nativo) que é: muito ácido, contém muito alumínio que impede o desenvolvimento das plantas e de muito baixa fertilidade. Após, era corrigida a fertilidade do solo, com aplicação de fertilizantes à base de fósforo, potássio e demais macro e micronutrientes, processo que é continuado ao longo de muitos anos de plantio.
O plantio no cerrado ocorre com o início das chuvas, em geral em outubro e novembro. Antes da adoção do plantio direto, era necessário arar e gradear após as primeiras chuvas, para só então plantar. Agora, com o plantio direto, após as chuvas iniciais é aplicado herbicida para ervas daninhas e imediatamente feito o plantio. Chama-se plantio direto porque é feito sem mexer o solo: a semente com adubo é plantada sobre os restos que estão secando por força da dessecação dos capins e demais ervas daninhas dessecadas pelos herbicidas aplicados.
As pesquisas desenvolveram cultivares de soja de menor ciclo. Das sementes inicialmente cultivadas com ciclo de 130 a 150 dias, passou o cultivo soja no cerrado a ser feito com sementes de ciclo precoce de até 110 dias e semi precoce de 110/120 dias, áreas estas que após colheita da soja receberão o plantio do milho safrinha.
Esses avanços na genética da soja, que é uma leguminosa, viabilizaram o plantio de milho na safrinha, uma gramínea, em sucessão à leguminosa soja. Dessa conjugação de esforços e investimentos em pesquisa em cultivares de soja e de milho, é que a redução no ciclo da soja, alavancou o rápido crescimento das áreas de milho 2ª safra, em parte do Paraná, Centro Oeste, Sudeste e agora Nordeste e Norte. De 11,9 milhões de hectares de milho plantados na safra 1976/77, a cultura do milho avançou na corrente safra de 2019/20 para 4,2 milhões na 1ª safra de milho e para 13,6 milhões de hectares na 2ª e 3ª safras, em sucessão às áreas cultivadas com soja precoce.
O uso intensivo do solo na região do cerrado com a safrinha de milho, que é colhida até setembro, além de manter o solo protegido da insolação deixa elevada quantidade de palha que mantém a terra coberta, protegendo-a, e que se decompõe passando a enriquecer o solo, a melhorar a infiltração da água de chuvas, a reduzir erosão e a melhorar a fertilidade.
- Produtividade por Regiões.
O questionamento que alguns estudiosos se fazem: porque o setor agropecuário do Brasil apresenta aumento gradual e contínuo da produtividade, enquanto isto não vem ocorrendo com outros setores econômicos?
Independentemente das condições de cada um e de qualquer região, todos os produtores são empreendedores naturais, cuja família sobrevive e consegue viver melhor apenas se o resultado colhido for cada vez melhor, tanto em produção como em redução de custos: produtividade e eficiência.
O produtor não pode escolher preços dos insumos, essenciais ao plantio – semente, adubo, diesel, herbicida, fungicida, inseticida, etc… Para poder continuar, precisará ter ao menos a média do rendimento observado em sua região.
O produtor é um empreendedor e um pesquisador nato.
O produtor busca saber e se informar sobre quais as sementes que geraram mais produção em sua região, quais as práticas adotadas em propriedades que apresentaram melhor produtividade. E, a cada safra, os principais fornecedores de insumos, a partir das informações obtidas junto aos produtores divulgam os melhores resultados por sementes, manejos e práticas utilizadas e que deram melhor resultado.
Os registros mostram a produtividade desde a safra 76/77 até a corrente de 2019/20. As regiões Norte e Nordeste ao longo do período apresentaram média anual inferior à média nacional. Mas, a região Norte que em 89/90 teve produtividade de 26% apenas da média nacional, na corrente safra tem produtividade equivalente a 63% da safra brasileira.
Tabela 18. Produtividade – Kg/Há – Por Região | ||||||
Kg / há | 1976/77 | 1979/80 | 1989/90 | 1999/00 | 2009/10 | 2019/20 |
Sul | 1.628 | 1.655 | 1.917 | 2.382 | 3.623 | 4.004 |
Sudeste | 1.336 | 1.535 | 1.561 | 2.325 | 3.646 | 4.187 |
Centro oeste | 1.270 | 1.346 | 1.641 | 2.727 | 3.289 | 4.229 |
Nordeste | 494 | 346 | 394 | 1.123 | 1.580 | 2.453 |
Norte | 1.248 | 1.266 | 1.602 | 1.602 | 2.511 | 3.331 |
BRASIL | 1.258 | 1.267 | 1.496 | 2.195 | 3.148 | 3.889 |
Legenda: (¹) Estimativa em março/2020. | ||||||
Fonte: Conab. |
As regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste tem produtividades acima da média nacional, tendo a região Sul a melhor produtividade até 1999/00; a região Sudeste apresentou o melhor rendimento na safra 2009/10 e na safra atual de 2019/20 a produtividade do Centro Oeste caminha 8,7% acima da nacional, 1% acima daquela da região Sudeste, e 5,6% acima do Sul, devido à forte quebra havida no Rio Grande do Sul por longa seca.
A série de dados desses 40 anos, porém, mostra que o crescimento da produção brasileira de cereais esteve e está alicerçado na contínua melhoria do processo produtivo em todas as regiões do país e na conseqüente melhoria contínua da produtividade. O aumento da produtividade nestas 4 décadas foi de 307,0%, sendo que a região Norte e Nordeste apresentam ainda nível de produtividade abaixo das demais regiões, como Sudeste e Centro Oeste, o que indica a continuidade de crescimento da produtividade em taxas próximas às ocorridas na corrente década.
O processo produtivo e comercial de insumos, em especial das sementes, é baseado em produtividade. O melhor resultado obtido por cada cultivar serve de instrumento para escolher as cultivares da safra seguinte. Há organizações que acompanham as fazendas que geram a melhor produtividade de cada região. Assim, a soja cuja produtividade na safra 2019/20 foi de 56,2 sc/há ou 3.373 kg/ha, teve como campeão de produtividade produtor com 127 sc/há, ou seja, com 7.620 kg/há.
Tabela 19. Produtividade – evolução por Região | ||||||
Variação: 1979/80=100 | ||||||
Kg / há | 1976/77 | 1979/80 | 1989/90 | 1999/00 | 2009/10 | 2019/20 |
Sul | 98,3 | 100,0 | 115,8 | 143,9 | 218,9 | 241,9 |
Sudeste | 87,1 | 100,0 | 101,7 | 151,5 | 237,6 | 272,8 |
Centro oeste | 94,4 | 100,0 | 121,9 | 202,7 | 244,4 | 314,2 |
Nordeste | 142,9 | 100,0 | 114,0 | 324,6 | 456,8 | 709,2 |
Norte | 98,6 | 100,0 | 93,6 | 126,5 | 198,3 | 263,1 |
BRASIL | 99,3 | 100,0 | 118,1 | 173,3 | 248,5 | 307,0 |
4.2 Produtividade por Safras.
Outro aspecto relevante a ser mais detalhado é a diferença entre as regiões em função de sua área plantada segundo as safras e os produtos. Assim, as culturas plantadas na safra de inverno se concentram na região Sul. De outro lado, dos produtos da segunda e terceira safras de verão, feijão e milho, tem uma segunda safra no Paraná e em outras regiões, mas as 2ª e 3ª safras estão concentradas no Sudeste e Centro Oeste, mais a região do MATOPIBA. O amendoim com pequena área é mais plantado na região Sudeste.
Tabela 20. Produtividade -Kg/há | ||||||
Produtos | 1976/77 | 1979/80 | 1989/90 | 1999/00 | 2009/10 | 2019/20 |
BRASIL – de verão | 1.314,9 | 1.300,3 | 1.541,6 | 2.247,5 | 3.213,0 | 3.943,9 |
BRASIL – de inverno | 670,7 | 887,7 | 1.052,0 | 1.179,0 | 2.081,5 | 2.575,1 |
Área física: 1ª+Outros | 1.399,2 | 1.401,1 | 1.669,3 | 2.478,7 | 3.219,2 | 3.628,0 |
BRASIL-PLANTIO total | 1.258,1 | 1.266,8 | 1.496,5 | 2.195,3 | 3.147,8 | 3.888,7 |
Os produtos plantados nas 3 safras de verão são os denominados “BRASIL – de verão”, excetuados pois apenas aqueles seis produtos de inverno que estão em “BRASIL – de inverno”. Já a produtividade de “Área física: 1ª + outros” reúne a produtividade dos produtos da 1ª safra de verão + os demais produtos cultivados apenas no verão, e correspondem à produtividade da área física plantada em todo país.
Os dados de “BRASIL-PLANTIO total” são os dados da produtividade média em Kg por hectare plantado nesta safra 2019/20 cuja produção total prevista é de 251,9 milhões de ton utilizando 45,7 milhões de há.
Na safra 2019/20, a produtividade da safra de inverno é menor em kg/há, sendo de 2.575,1; a produtividade de todas as culturas da 1ª safra de verão incluindo todos os produtos foi de 3.628 Kg/há; e a produtividade de todas as safras de verão foi a maior, alcançando 3.943,9 kg/há; a produtividade da safra total de 2019/20 alcança a 3.888,7 kg/há, sendo a soma do resultado da safra de inverno com as safras de verão.
Na corrente safra 2019/20 a maior produtividade é da segunda e terceira safras de verão, ambas plantadas na área da colheita da soja e outras culturas da 1ª safra de verão. Portanto, a ampliação da cultura de milho que representa nesta safra 97,2%0 da produção da safrinha – ou seja 2ª e 3ª safra de verão -, é o principal fator da elevação da produtividade dos cereais do Brasil na corrente safra.
Esta mudança da produtividade decorre do aumento de 150% na área de milho na 2ª e 3ª safra ao longo da década de 2009/10 a 2019/20 com simultânea redução de 45,2% do milho plantado na 1ª safra neste período.
Tabela 21. BRASIL – Produção de milho | ||||||
Em Ton mil | 1976/77 | 1979/80 | 1989/90 | 1999/00 | 2009/10 | 2019/20 |
1ª safra | 19.255,7 | 19.356,5 | 21.757,0 | 27.715,3 | 34.079,2 | 25.560,5 |
Safra TOTAL | 19.255,7 | 19.435,3 | 22.257,8 | 31.640,5 | 56.018,1 | 101.000,0 |
Safra Total/ 1ª safra | 100,0 | 100,4 | 102,3 | 114,2 | 164,4 | 395,1 |
Embora a corrente safra de milho tenha sofrido forte quebra no Rio Grande do Sul, a duplicação da produção de milho em 10 anos deixa evidente a forte ampliação de sua área plantada na 2ª e 3ª safras, que ocorreu na região Centro Oeste, cuja produtividade é praticamente igual àquela da 1ª safra de milho, concentrada na região Sul.
O aumento, em 2019/20, de 4.088,5 mil hectares da área de milho no Centro-Oeste, sobre aquela plantada em 2009/10 na região, equivale a 25% de toda a área plantada de milho no país na corrente safra.
- Agricultura brasileira: alimentação sustentável para o Brasil e o mundo.
Nos últimos anos muitas informações incompletas, equivocadas e até sem qualquer base na realidade tem sido divulgadas na mídia nacional e internacional sobre a agricultura brasileira, tanto em relação à área plantada, quanto sobre práticas adotadas e operacionalizadas, em especial no que se relaciona ao tratamento dado ao solo e efeitos ao meio ambiente.
A seguir serão trazidas algumas informações baseadas na realidade das práticas agrícolas utilizadas por produtores, que em sua maioria são os pioneiros na região do DF e áreas próximas no Estado de Goiás, aqui chegados na década de 70 e início de 80, região onde hoje estão instaladas as UBS (Unidades Básicas de Semente) das maiores sementeiras de soja e de milho do mundo que atuam no Brasil, e que cuidam do desenvolvimento e da produção de sementes de soja e de milho do melhor padrão de qualidade para o mercado nacional e nestas regiões do Centro Oeste, Sudeste, Norte e Nordeste.
Após os trabalhos de genética desenvolvidos em laboratórios e experimentos conduzidos pela sementeira, as sementes básicas passam a ser cultivadas por cooperantes escolhidos dentre produtores rurais, e que plantam a semente básica, sendo o plantio e manejo monitorados diretamente por profissional da sementeira. Assim, a escolha da área, o manejo e todas as práticas são orientadas e monitoradas por profissional, no plantio, no trato da planta, na aplicação dos insumos para combater as pragas, ervas daninhas, doenças e para estimular e complementar a adubação.
O foco da sementeira é: produzir sementes de qualidade, medida por vigor, viabilidade de germinação e outros indicadores, sempre buscando uma produtividade superior às sementes já existentes, com indicação do grau de resistência a pragas, doenças e outros fatores. Uma semente de qualidade tem potencial para dar maior produtividade.
Uma das linhas de melhoria da produtividade dessas áreas passou há muito tempo a incluir as práticas de proteção do solo, como rotação de diferentes culturas (feijão-milho, soja-milho), cobertura do solo, também em rodízio, por outras plantas como capim braquiária, crotalária, ervilhaca, nabo forrageiro, milheto, etc….. plantas essas com propriedades de reciclar fertilizantes no solo, aprofundar raízes, combater nematóides do solo etc….. A disseminação dos conhecimentos e práticas é feita através de “dias de campo” mostrando aos produtores os diferentes experimentos e respectivos resultados, reforçados por palestras de profissionais nacionais renomados, os pesquisadores dos institutos de agricultura das universidades.
A seguir alguns pontos importantes para poder entender porque a agricultura brasileira é diferenciada, e adota as práticas mais sustentáveis hoje disponíveis no mercado mundial, sendo a metodologia existente responsável por criação, desenvolvimento e incorporação aos produtores.
- Inoculação da semente. O informe “Embrapa inoculante soja” expõe os seguintes resultados e efeitos de um insumo hoje de uso da maioria dos produtores que o utilizam no preparo da semente a ser plantada:
- o Nitrogênio (N) é o fertilizante mais necessário para a cultura da soja;
- Para produzir 1 ton de grãos de soja, a planta soja precisa de 80 kg de N (nitrogênio) no solo;
- Esse nutriente pode ser obtido gratuitamente da natureza, utilizando a bactéria “que é inoculada na semente antes de plantar e que gera acréscimo de 8 a 10% na produtividade da soja” (“bradyrhyzobium”);
- A bactéria é a fábrica de fertilizante biológico hoje disponível e utilizado por produtores brasileiros em todas as regiões, em substituição ao N oriundo da Uréia que é sub-produto do petróleo;
- O processo é chamado de “fixação biológica do nitrogênio” na soja e é capaz de atender e ajudar a planta para atingir maior produtividade.
- Co-inoculação. A Embrapa Agrobiologia, após 6 anos de coleção de bactérias naturais, gerou bactéria que reforça a inoculação, denominada azospirilum e que tem potencial para dobrar o efeito do “bradyrhyzobium”. Geram aumento da área foliar da planta, aumento das raízes e de seu volume radicular e do colmo do milho. Essa nova bactéria também é capaz de atender a metade da necessidade de Nitrogênio pelo milho, reduzindo assim em 25% o gasto com uréia originada de petróleo. Diversas empresas multiplicam essas bactérias e asseguram o seu fornecimento aos produtores;
- A produtividade média da soja nesta safra de 2019/20 é de 3.373 kg/há, sendo, portanto, necessários 270 kg de N para essa produtividade da soja;
- A aplicação de N através do inoculante gera uma economia de US$ 15 bilhões de dólares por ano para o país. Isto é desenvolvimento sustentável, que além de reduzir gastos da sociedade deixa de consumir um insumo (uréia) derivado do petróleo e ao incorporar bactérias ajuda a estabelecer processo contínuo da melhoria do solo.
- Rotação de culturas: primeiro, uma leguminosa (soja, feijão) e a seguir uma gramínea (milho, trigo, aveia, cevada). Este o processo utilizado hoje em todas as regiões de safrinha – segunda e terceira safras de verão. A soja, plantada na 1ª safra de verão, importa do ar para o solo mais de 200 kg/há de N – nitrogênio.
A produtividade do milho está diretamente relacionada à disponibilidade de N- Nitrogênio e a produção final é derivada da quantidade de N disponibilizada para a planta de milho. Quanto maior nível de N maior a produtividade de milho por hectare; e, sendo a área onde fora cultivada soja, lá já haverá disponibilidade de N deixada pela soja. Adicionalmente, a prática de cultivo de plantas de coberturas do solo durante o período seco, com crotalária, ervilhaca e outras também importam e incorporam N no solo. E, por fim, a bactéria que gera o Azospirillum reforça o Nitrogênio para o milho.
- Palhada da rotação de plantio e da cobertura de solo, em especial de soja-milho e os restos das plantas de cobertura protegem e melhoram a fertilidade do solo com o gradativo aumento de húmus, absorvem melhor a água das chuvas e, com o tempo, reduzem a necessidade de fertilizantes para gerar igual produtividade.
Outro ponto importante a ser destacado é a redução das queimadas da região do cerrado, como resultado da implantação da agricultura na região. Todos os produtores aqui chegados sabem que a queimada que se iniciava em agosto tinha uma finalidade, que era dar condições para a rebrota do capim a fim de atender a alimentação do gado, além de eliminar o carrapato.
Com a adoção da safrinha pelos produtores de grãos, a queimada passa a ser o maior perigo da cultura de milho, pois nesta época o milho safrinha está seco e sua queimada é muito fácil. Afora isto, onde após a queimada nasceria o capim, passa agora a ter a palhada da colheita do milho com algumas espigas e o capim braquiária que servem para engorda do gado no período de seca, ou seja, no momento em que a carne atinge os melhores preços para o produtor.
Finalmente, todos esses resultados com certeza não existiriam se não houvesse um elo de ligação no tempo e no dia a dia em cada área de cultivo: o recurso estratégico é e continua sendo o produtor e o seu contínuo e permanente avanço à busca de melhores práticas para melhoria do solo, que é sua fertilidade biológica.
A agricultura brasileira transformou essas regiões inóspitas, de terras inférteis, sequer em condições de manter o pequeno plantel de animais aí existentes então, sem a necessidade de queimar a área para assegurar brota do capim, a comida dos animais.
Hoje esse mesmo solo apresenta produtividade que lidera a produtividade observada nas regiões do país; contribui decisivamente para assegurar a alimentação do país e alimentar mais de 1,5 bilhões de pessoas de outros países, bem como para suprir as matérias fundamentais e básicas da alimentação animal de bovinos, aves e suínos – milho e farelo de soja – e que asseguram ao país ainda a liderança como exportador de carnes de frango, e segundo maior de carne bovina e quinto de carne suína.
O recurso estratégico que preparou o solo e plantou essas sementes são as famílias e/ou filhos de agricultores familiares que, sem recursos, e apenas com o aprendizado e as práticas utilizadas no cultivo dos locais de onde vieram, passaram a abrir as áreas de cerrado e por último as áreas de pastagem já degradadas, sempre apoiadas pela Embrapa e o sistema de assistência técnica do país.
Outro eixo fundamental foi o apoio público através de financiamento tanto para recuperação dos solos e de áreas degradadas, como para aquisição dos equipamentos e para custeio dos insumos. Por serem recursos direcionados a quem sobrevive e vive com o produto que é capaz de gerar em seu solo, fez desenvolver as fábricas de máquinas e equipamentos agrícolas, desenvolver pesquisas de genética, que, atualmente passam a ser as bases para um desenvolvimento de sistemas automatizados e operacionalizados através de GPS, de drones e de outros avanços da tecnologia.
Eloy Corazza, entrou em julho/1970 como AFTF no Ministério da Fazenda, primeiro Coordenador de Cursos da ESAF (1976-79); Diretor Geral de Pessoal, Secretário de Controle Interno do Min dos Transportes, Secretário de Normas da STN – Secretaria do Tesouro Nacional, Secretário Geral-Adjunto de Administração do MF, Secretário de Recursos Humanos do Poder Executivo, Secretário Executivo do Min. de Transportes e Comunicações (1992); Secretário de Controle Interno do Ministério do Planejamento e, após aposentado, Diretor Financeiro da Rede Sarah de Hospitais e Presidente do Sarahprev; além de Secretário Geral do Conselho de Arquitetura (CAU) e Diretor Financeiro da CODHAB/DF. Formado em Economia, Filosofia e Pedagogia. Professor de Economia, da Faculdade Católica/Bsb e da Unisinos, no período de 1972 a 1985.
“Os conteúdos dos textos publicados, artigos e notas, além dos comentários do público, são de responsabilidade exclusiva de seus autores e signatários, não envolvendo ou refletindo posicionamentos ou opiniões do CORECON-DF.”