Certa vez li em um jornal de Brasília o seguinte desabafo de um leitor na seção de Cartas:
“Ô mundinho injusto: 1.210 bilionários detêm, juntos, uma fortuna de US$ 4,5 trilhões…”
Vou comentar a concentração de fortunas por uma minoria de bilionários a que o leitor se refere.
No desabafo do leitor está colocada a palavra “fortuna”, que equivale à palavra riqueza, e também a patrimônio. A riqueza de uma pessoa pode ser considerada um acúmulo de poupanças, que por sua vez originam-se de rendas usufruídas periodicamente.
Uma das características dos países capitalistas é a desigualdade na distribuição da renda e da riqueza. Aliás, o capitalismo é um sistema econômico onde, entre outras características, as pessoas são livres para trabalhar e ganhar dinheiro, portanto, usufruem renda conforme suas aptidões e esforço próprio.
Assim, seria injusto que uma pessoa consiga gerar mais renda do que outra, se essa geração de renda decorre de mais preparo, mais esforço ou até de mais sorte?
Muitos consideram a concentração de renda e de riqueza em poucas mãos como uma injustiça social.
A teoria econômica explica a fruição de renda de uma pessoa como função principalmente de dois motivos. Um é a quantidade de habilidades que a pessoa possui. Habilidade é a capacidade que se tem de produzir algo útil para o semelhante. Assim, quanto mais preparo tiver alguém para produzir algo para o semelhante, mais renda deverá, em princípio, gerar.
O outro motivo é o valor que a sociedade dá para essa habilidade. Aí entram as leis da oferta e da procura. O valor que é dado para uma habilidade depende do número de pessoas (oferta) que possuem essa habilidade, em relação à necessidade (procura) que tem a sociedade por essa habilidade. Esse motivo explica por que um pedreiro, embora bom profissional, costuma ter uma renda bem menor do que um bom professor ou um médico. É que a quantidade de pedreiros é bem grande, e a quantidade de bons professores e médicos bem menor.
E por que há muitos pedreiros e relativamente poucos médicos? Aí a explicação está no esforço necessário para o treinamento na respectiva profissão. Estudar medicina demanda muito mais horas de estudo e treinamento do que saber fazer um muro ou uma casa.
Como as oportunidades de educação e de saúde não são iguais para todos, as pessoas vão ter desigualdades educacionais que vão se refletir na escolha das profissões. E, como foi explicado, as remunerações das profissões são desiguais.
Muito mais desiguais são as remunerações aos homens de iniciativa, que têm propensão a correr riscos e que têm espírito inovador. Estes geralmente criam ideias e produtos novos que trazem muita satisfação à humanidade e são minoria no mundo. A maioria, por outro lado, não tem esse espírito, preferem ser empregados, principalmente em órgãos públicos, trocando um trabalho rotineiro por um salário garantido e muitos ainda se contentam com a estabilidade e segurança de um serviço público que não os desafia.
Não é de estranhar, portanto, que a renda e as fortunas sejam detidas por uma minoria. Este é um mundinho injusto?
Sim, é injusto se considerarmos os salários pagos no setor governo a cargos que não demandam muito preparo (caso de motoristas, ascensoristas, assessores nomeados e outros), ou exigem um preparo inicial, através de concursos públicos (caso de auditores, gestores, fiscais, técnicos de nível superior), mas que depois não mais são exigidos no dia a dia e criam a rotina do desinteresse e da acomodação. Outro exemplo de injustiça é a renda obtida pelos desvio ilegal de recursos, a chamada corrupção.
Mas esses últimos exemplos são típicos de uma sociedade onde existe maior presença do governo, com suas arbitrariedades e favorecimentos. A presença de um mercado livre, que premia o esforço e pune a desídia, tem menos chance de criar injustiças.
É saudável, portanto, que as sociedades estimulem as pessoas a serem preparadas e produtivas e que transformem seus talentos em produtos e inovações que beneficiem a humanidade. E que façam muitos bilionários…