Mônica Beraldo
Corecon-DF nº 2365
Emoldurado pela Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar, o Hotel Glória nasceu majestoso, na cidade do Rio de Janeiro, RJ, em 1922, para as comemorações do centenário da Independência do Brasil. Seus salões presenciaram festas, reuniões políticas e eventos, como o XIII Congresso Brasileiro de Economistas (CBE) e o VII Congresso de Economistas da América Latina e Caribe, realizados em 1999 pelo Conselho Federal de Economia (Cofecon), pela Associação de Economistas da América Latina e Caribe (AEALC) e pelo Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Corecon-RJ). O tema foi “A herança do século XX e a construção do novo século através do desenvolvimento, inserção internacional e emprego”. Encerrando com chave de ouro, o professor Celso Furtado foi homenageado pela sua contribuição à economia, na sessão comemorativa dos 50 anos do “Manifesto Latino-Americano” da Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL). Os textos e livros do professor foram citados na solenidade, que contou com a presença da professora Maria da Conceição Tavares.
Na oportunidade, pudemos assistir à primeira mesa realizada num CBE totalmente focada no perfil de mulheres, na temática do “Emprego e Desemprego: diferenciais por gênero”, coordenada por Carlos Henrique Corseuil (Instituto de Planejamento Econômico e Social – IPEA). As palestrantes Hildete Pereira de Melo (Universidade Federal Fluminense – UFF) e Simone Wajnman (Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional – Cedeplar/MG) propuseram, ao final de suas apresentações, uma mesa sobre a mulher economista em todos os eventos da categoria e a necessidade de se conhecer o perfil desta importante profissional do século XXI.
Em 2010, inspirado em suas aulas de economia, onde as alunas se destacavam pela qualidade de seus estudos e pesquisas, o professor e presidente do Cofecon Waldir Gomes, acompanhado do professor e vice-presidente Mário Sergio Sallorenzo e da única conselheira federal no plenário, Fabíola Andréa de Paula, registraram a necessidade de organizar um grupo representativo das mulheres economistas, bem como de sua maior participação no Sistema Cofecon/Corecons.
Em 2015, a Revista de Conjuntura do Corecon-DF publicou um artigo do professor Roberto Macedo, apresentando um estudo inédito da inserção do economista no mercado de trabalho, com dados do Censo de 2010 do IBGE e referências à Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Ao discorrer sobre gênero, cor ou raça e nacionalidade, projeta-se o primeiro perfil da mulher economista (à época, 36,6% de economistas graduadas), distribuídas por regiões e unidades federativas, por gênero, raça ou cor e a adesão ao registro profissional nos Corecons.
Em 2016, o então presidente do Cofecon, Julio Miragaya, voltou a pautar o assunto e o plenário da Autarquia aprovou a criação do Grupo de Trabalho Mulher Economista, sob a coordenação da conselheira federal Bianca Rodrigues, quando se iniciam as primeiras atividades concretas para a promoção feminina no Sistema Cofecon/Corecons. No âmbito do Corecon-DF, as conselheiras já se organizavam em nível regional no Grupo de Trabalho Mulher Economista, o que funcionou como projeto piloto para a formatação do Perfil da Mulher Economista no Cofecon.
No mesmo ano, no Simpósio Nacional dos Conselhos de Economia (SINCE), em Natal, foi realizado o 1º Fórum da Mulher Economista, que teve como tema “A mulher economista no mercado de trabalho e nas entidades profissionais”. Foram criados logomarca, bótons e camisetas.
O CBE de 2017, em Belo Horizonte, teve o 2º Fórum da Mulher Economista que tratou questões sobre “Desigualdade de Gênero”. No estande montado especialmente para a Mulher Economista, numa parceria Cofecon/Corecon-DF, um vídeo apresentou as mulheres mais importantes dos séculos XIX e XX de diversas áreas de conhecimento científico e um questionário foi aplicado para o conhecer do perfil das congressistas: estudantes, acadêmicas e profissionais de Economia.
A terceira edição do evento ocorreu em 2018, durante o SINCE realizado em Porto Velho, e teve como tema “A mulher economista e suas propostas aos presidenciáveis”. Na ocasião, a coordenadora do grupo, Bianca Rodrigues, expressou sua satisfação porque a iniciativa já estava presente em todo o Sistema Cofecon/Corecons.
Na gestão do presidente Wellington Leonardo, em março de 2019, foi publicada uma edição especial da revista Economistas, contendo exclusivamente artigos de mulheres economistas, com temas como desenvolvimento econômico, previdência, empreendedorismo e desigualdade de gênero no exercício da profissão. A partir de 2020 o que antes era uma edição especial passou a ser a edição principal: desde então, a revista Economistas de março é dedicada às mulheres.
Em 2020, o tema da publicação foi “A economia vista por elas”; já em 2021 foi “As mulheres na economia”; no ano seguinte, foi “O papel das economistas”; em 2023, “Economistas registradas: melhor para o Brasil”, em linha com a campanha adotada para o Cofecon naquele ano; e em 2024, “Mulher economista e diversidade”.
Entre 2020 e 2022, utilizando questionários inspirados nos do CBE de 2017 e orientados pelo IBGE (inicialmente presenciais e depois online), a Comissão Mulher Economista do Cofecon traçou um novo perfil dessas mulheres. Um destaque importante: entre as mulheres registradas, no triênio citado havia um maior número acima de 60 anos e menos mulheres abaixo de 30 anos.
Os prêmios Mulher Economista e Mulher Transformadora, criados neste período, têm recebido um reconhecimento especial da sociedade, destacando trajetórias inspiradoras de mulheres que fazem a diferença na ciência econômica e na área de responsabilidade social/economia solidária. Mais do que homenagens, as premiações são um símbolo do compromisso do Sistema Cofecon/Corecons com a valorização da mulher e o estímulo à ocupação de novos espaços de protagonismo, reafirmando que a participação feminina é fundamental para a construção de uma economia mais inclusiva e diversa, alinhada com os desafios do Século 21.
O ritmo das mulheres economistas no processo de conquista dos espaços seguiu de forma equilibrada, apoiado e fortalecido dentro do Sistema. De maneira gradativa, respeitando o tempo necessário para a construção de mudanças culturais e conquistas das mulheres em vários segmentos de suas áreas de atuação, nos serviram de referência a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) e seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, sendo que o 5º tratada igualdade de gênero. Fomos, também, inspiradas por grupos de mulheres de outras profissões regulamentadas: advogadas, engenheiras, contadoras, administradoras, entre outras.
Das advogadas destacamos o Artigo “As (reiteradas) tentativas de silenciar mulheres”, publicado na Folha de São Paulo em fevereiro de 2021. Segundo as autoras, a estratégia de silenciamento se traduz em violência: “gaslighting” (forma de abuso psicológico, no qual informações são distorcidas), “manterrupting” (quando um homem interrompe uma mulher diversas vezes) e “mansplaining” (quando o homem explica algo como se só ele soubesse). Uma das autoras, Gabriela Araujo, falou sobre o assunto em live realizada pelo Cofecon no dia 22 de março de 2022.
De 1951, ano da Lei 1.411 da profissão, até os dias atuais, com a eleição da primeira mulher economista na presidência do Cofecon se passaram 73 anos! De 1999, ano do CBE citado no início do nosso artigo, que iniciou o debate sobre as mulheres economistas, até os dias atuais, se passaram 26 anos!
A cada Fórum realizado, em Congressos e Simpósios, dissemos a que viemos, através de temas relevantes: desigualdade de gênero (2017), propostas aos presidenciáveis (2018), gênero, trabalho e mobilidade ocupacional (2019), mulheres economistas: pensadoras do desenvolvimento econômico (2021), formação continuada da mulher economista (2022), mulher economista e diversidade (2023) e mulheres economistas e as carreiras do futuro: um debate sobre pesquisa, inovação e diversidade (2024).
As Rodas de Conversa da Mulher Economista têm enriquecido o debate regional, trazendo mais mulheres para participar do Sistema Cofecon/Corecons como conselheiras. Destacamos a 1ª Roda de Conversa da Mulher Economista do Corecon-DF, sugerida e idealizada no Fórum da Mulher Economista. Realizada na cidade histórica de Ouro Preto, em abril de 2023, com o apoio da Prefeitura da cidade, encerrou os seus trabalhos com o sarau literário da inconfidência Mineira, que destacou as mulheres protagonistas daquele movimento: Hipólita Jacinta, Bárbara Heliodora e Marília de Dirceu. Recentemente, seus nomes e restos mortais juntaram-se aos demais no Panteão dos Inconfidentes, no Museu da Inconfidência.
A partir de 2023, os Seminários Nacionais da Mulher Economista passam a acontecer anualmente. A primeira edição, realizada em Brasília, teve como tema “Economia, formação, mercado de trabalho, gênero e diversidade”, e contou com uma mesa especial de debates com a presença da ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck. A edição do ano seguinte, que teve lugar em Belo Horizonte, marcou um momento de afirmação e protagonismo feminino na ciência e tecnologia e teve como tema “Mulheres, Pesquisadoras, Inovações e Financiamento”. A edição deste ano está prevista para acontecer em Salvador.
Para o exercício de 2025, finalmente, o Conselho Federal de Economia elegeu a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente, Econ. Tania Cristina Teixeira. Além disso, foi aprovada no último Simpósio Nacional dos Conselhos de Economia a proposta de presença feminina em 30% da composição da chapa na renovação do terço nos Regionais. No plenário do Cofecon agora representamos 50% da composição!
Em seu discurso de posse, a presidente eleita pediu desculpas pelo tempo gasto em sua fala e justificou: ficamos muito tempo sem falar! Parafraseando o poeta Renato Russo: Mas temos muito tempo.
Agora temos todo o tempo do mundo!
Referências Bibliográficas
1) Anais do XIII Congresso Brasileiro de Economistas e do VII Congresso de Economistas da América Latina e Caribe, 1999. Cofecon, Corecon-RJ e AEALC.
2) Atas das Plenárias do Cofecon, Gestão 2010.
3) Macedo, Roberto. Inserção do Economista no mercado de trabalho. Revista de Conjuntura do Corecon-DF, nº 56.
4) Anais do XXV Simpósio Nacional dos Conselhos de Economia / Fórum da Mulher Economista, 2016. Cofecon e CoreconRN.
5) Anais do XXII Congresso Brasileiro de Economia / Fórum da Mulher Economista, 2017. Cofecon e CoreconMG.
6) Apontamentos do Grupo de Trabalho Mulher Economista do CoreconDF e da Comissão Mulher Economista do Cofecon, 2016 a 2022.
7) www.onumulheres.org.br.
Mônica Beraldo
Economista pela Associação de Ensino Unificado do DF/AEU-DF, com especializações em Engenharia Econômica e Economia Mineral. Economista aposentada da Agência Nacional de Mineração/ANM. Ex-presidente do Corecon-DF (2005/2006), onde coordenou o Grupo de Trabalho Mulher Economista. Atualmente é conselheira federal do Cofecon, onde coordenou a ComissãoMulher Economista (2020/2022).