Grupo de Conjuntura do Corecon DF – Reunião realizada em 25.04.2015
Tema: “Os indicadores da economia divulgados em abril e perspectivas”
(A nova metodologia do Balanço de Pagamentos)
Relato da Reunião
Discutiu-se intensamente a nova metodologia do balanço de pagamentos divulgado pelo Banco Central em 23.4.15, seis anos após sua introdução na VI edição do Manual de Balanço de Pagamentos (BPM6) do FMI (2009). Alguns oradores notaram que a metodologia introduzida na edição anterior do Manual, a quinta, (BPM5), em 1993, levou oitos anos para ser adotada no Brasil, tendo sido publicada na Nota Técnica no. 1 no Boletim do Banco Central do Brasil em junho de 2001. Outros notaram que a defasagem entre a nova metodologia e sua publicação é ainda muito elevada, muito embora nos últimos 22 anos, desde a quinta edição, se tenha observado uma imensa melhoria nos meios de computação, talvez a mais rápida na história. Observou-se também que, se na sistemática anterior tem-se a metodologia facilmente disponível no Boletim, encontrado no site do Banco Central e nas principais bibliotecas especializadas e nas estantes de assinantes, a nova sistemática foi divulgada por uma Nota à Imprensa, de difícil disponibilidade no futuro, a julgar pelos precedentes. Como se sabe, muitas das Notas à Imprensa do passado não estão disponíveis, quer no site do Banco Central, quer em sua própria biblioteca. Finalmente, oradores notaram também que os economistas profissionais e professores não tiveram acesso à reunião de 23.4.15, que foi exclusiva para a imprensa.
Alguns participantes observaram que as explicações metodológicas foram detalhadas com exemplos, o que muito ajudou os presentes. No entanto, todos criticaram que somente dados de um único ano completo, o de 2014, tivessem sido publicados na nova metodologia, e mesmo assim provisórios. As diferenças entre os dados anteriores e os apurados segundo a nova metodologia do BPM, para melhor entendimento, deveriam ser mostradas para pelo menos dois anos completos. Também causou espécie que a “incorporação de novas fontes de informação”, conforme assinalado na Nota à Imprensa, não tivesse sido quantificada, o que impede por si só comparação com os dados anteriores. Vários oradores notaram que números absolutos pouco querem dizer se não abordados de maneira comparativa, de modo a possibilitar uma análise cuidadosa e ponderada não-amadorística.
Outros participantes apontaram para o fato de que algumas contas globais foram apresentadas com dados desde 2010, e chamou atenção o aumento de 1,3 ponto de percentagem (pp) observado na relação déficit em transações correntes/PIB do ano de 2010, de 2, 2 % para 3,5%, ou seja , um erro gigantesco de 60%. Os erros diminuíram no ano seguinte, para 0,7 pp em 2011, com um pequeno aumento para 0,9 pp em 2011, e estabilizando-se em 0,2 pp em 2013 e em 2014. O déficit em transações correntes, de 4,4% em 2014, é o mais alto da série e é preocupante. Causou também espécie a variação do investimento direto no exterior, que passa de -US$ 3,5 bilhões em 2014, segundo o BPM5, para US$ 25,7 bilhões no BPM6, sugerindo uma fuga de capitais em escala não notada anteriormente.
Vários participantes comentaram os dados da economia mundial publicados no World Economic Outlook do FMI de abril, onde sobressai a situação dos preços deprimidos das principais commodities, um indicativo de excesso de estoques, que além de baixar seus preços, força uma perigosa deflação em escala mundial. O aumento previsto de 0,2 pontos de percentagem na taxa de crescimento do PIB mundial para 2015 é considerado muito pequeno, principalmente porque se espera que venha das economias avançadas (+0,6 pp), com redução nas economias emergentes e em desenvolvimento de 0,1 pp. Vários notaram que os dados chineses têm sido revisados para baixo sem maiores explicações metodológicas, o que dificulta ainda mais estimar o comportamento das economias não avançadas. O crescimento mundial fica, portanto, na dependência dos países avançados, em um ano eleitoral nos EUA e em diversos países europeus, e de difícil situação de instabilidade política, dadas a crise de imigração na Europa e a conturbada situação no Oriente Médio e na Ucrânia.
Os participantes comentaram também os dados fiscais da economia mundial publicados no Fiscal Monitor do FMI, publicado em abril. Os participantes notaram o elevado endividamento público das economias avançadas (média de 105,3% do PIB, em 2014); da área do Euro (94,0% do PIB); dos EUA (104,8% do PIB); Reino Unido (89,5%); e do Japão (246,4%), que indica a limitada possibilidade dos governos desses países de aumentar os gastos públicos.
Os dados do FMI mostram que o endividamento público aumentou muito no pós crise. Os déficits primários e nominais elevados revelam políticas fiscais expansionistas adotadas pela quase totalidade dos países. Nos últimos sete anos a dívida pública bruta dos países ricos cresceu em proporção do PIB, em média, 33,3 p.p.; do G7 cresceu 37,3 p.p.; da área do Euro, 29,0 p.p.; Reino Unido (45,9 p.p.); EUA (40,8 p.p); e Japão (63,4 p.p.). Enquanto, a dívida pública bruta brasileira crescia apenas 1,4 p.p., no mesmo período, e a Índia foi a única economia importante que reduziu a dívida pública (em 9 p.p.).
Muitos participantes referiram-se à dificuldade técnica de se comparar a relação dívida pública/PIB entre economias desenvolvidas e o conjunto dos países emergentes e em desenvolvimento, pelas diferenças entre a composição dos setores públicos, taxa de juros nacionais e desenvolvimento do mercado de capitais.
Em síntese, ficou claro para os participantes que a economia e o comércio mundial se mantêm com baixas taxas de crescimento, mas com uma tendência de crescimento nos últimos três anos, e que o quadro fiscal começa a se estabilizar, com os déficits primário e nominal iniciando um processo de redução e a dívida pública tendendo a estabilidade.
Lista dos participantes
Carlos Eduardo de Freitas
Jandir de M. Feitosa Júnior
João Guilherme O. Carminati
José Fernando Cosentino Tavares
José Luiz Pagnussat
José Roberto Novaes de Almeida
Mario Sérgio F. Sallorenzo
Saverio Masullo Filho
Silas Franco de Toledo
Túlio E. Marques Júnior
Vânia Maria da C. Souza
Victor José Hohl