CÉSAR AUGUSTO MOREIRA BERGO
Corecon-DF nº 5661.
A economia é uma ciência que procura trabalhar a escassez. Mas, pode significar, também, uma regra de conduta de uma casa, e é este o sentido original da palavra economia: do grego oikos (casa) e nomos (regra). Etimologicamente referia-se, pois, à administração doméstica.
Com o fim de dar-lhe sua conotação atual acrescentou-se à palavra economia o adjetivo política[1]. Dessa forma deixa-se claro que a economia política tem como objeto específico a sociedade e não o indivíduo ou a unidade familiar. A ciência econômica, também, estendeu o seu domínio à arte de bem gerir os bens.
Eis aí o grande dilema que se coloca à frente das questões econômicas. De uma ação de responsabilidade individual ou de uma unidade familiar, as questões passaram a ser de âmbito coletivo, difuso e impessoal. Assim, o conceito de “economia” passou a servir às mais diversas situações, com o intuito de designar ou explicar a realidade econômica de uma sociedade.
Além disso, o estudo das atividades econômicas obriga-nos a um rápido olhar por toda a ciência econômica, pois essas atividades representam justamente a articulação de todos os elementos necessários à criação de valor, para a satisfação, não somente das nossas necessidades, mas também, dos anseios de progresso da coletividade.
Como ciência, a economia pode ser classificada em três grandes grupos, a saber: ciência das riquezas; ciência social das relações de trocas ou do intercâmbio; e ciência da escolha racional, em face da raridade relativa dos bens econômicos. Em razão do predomínio desta última concepção, define-se a economia, em geral, como a “ciência que estuda as formas de comportamento humano resultantes da relação existente entre as ilimitadas necessidades a satisfazer e os recursos que, embora escassos, se prestam a usos alternativos”.
A atividade econômica gira em torno do fato central de que as necessidades humanas superam largamente os bens disponíveis para satisfazê-las. Surge, portanto, a conveniência da intervenção econômica na escolha racional das necessidades prioritárias e dos meios capazes de satisfazê-las.
Nesse sentindo, o homem, como ser social, tem necessitado resolver numerosos problemas relacionados com a administração dos recursos escassos que lhe são disponíveis, seja por um presente da natureza, seja pela sua própria atividade produtiva. Cada uma dessas formas de organização econômica constitui um sistema. Desta forma, em sentido amplo, na linha de sistemas econômicos teóricos, pode-se classificar a economia em dois segmentos distintos, a saber:
a) Economia de mercado: economia na qual o mercado determina inteiramente a atividade econômica pela livre confrontação da demanda e da oferta. Está baseada na propriedade privada e na liberdade de iniciativa e de contratos dos agentes econômicos. As decisões econômicas são tomadas com base na livre iniciativa, manifestada nos mercados de fatores, produtos, serviços e ativos.
b) Economia planificada: economia na qual o conjunto dos mecanismos econômicos é autoritariamente regulado por um plano geral e centralizado.
O presente estudo procura situar-se dentro do pensamento econômico majoritário no ocidente, caracterizado pela economia de mercado, eis que se transformou no sistema dominante hoje em dia, especialmente depois do fracasso da economia planificada (comunismo).
A economia de mercado pressupõe um modo de organizar a atividade econômica. Primeiramente, não pode prescindir da propriedade privada de bens e fatores, que inclui os meios de produção. Em um segundo, exige a liberdade de iniciativa dos agentes econômicos e, finalmente, exige que a coordenação das atividades esteja nas mãos de instituições e mecanismos impessoais. Assim, é o mercado que canaliza as iniciativas dos sujeitos na busca de uma situação que seja satisfatória para todos.
Hoje, o sistema econômico é, sem dúvida, a maior “instituição” da sociedade civil. “Ele une mais pessoas globalmente do que qualquer outro tipo de organização”. A consequência é que a saúde moral de uma sociedade depende em alto grau do caráter moral dos negócios econômicos e dos líderes que os conduzem.
Para se chegar no atual estágio, a sociedade humana experimentou mudanças profundas na base de sua economia e na sua estrutura social, que podem ser separadas em três etapas distintas, a seguir descritas:
a) Na primeira grande etapa do desenvolvimento econômico, os homens passam de uma economia tribal de caça e coleta para uma economia agrícola. Esta transição começou há aproximadamente 8.000 anos e hoje está quase totalmente completa em todo mundo, exceto em algumas poucas sociedades primitivas em áreas como, por exemplo: Bacia Amazônica e Nova Guiné.
b) Na segunda etapa, os homens passam da economia agrícola para a economia industrial. Esta etapa teve início na Grã-Bretanha há aproximadamente 250 anos e difundiu-se pela Europa Ocidental, América do Norte e Japão no século XIX. Desde a 2ª Guerra Mundial, a industrialização tem se difundido de maneira extensiva pela Ásia e partes da América Latina.
c) A terceira etapa da história econômica e social dos homens é a atual onde o desenvolvimento econômico está baseado no conhecimento. Este processo começou no último terço do século XX, preponderadamente nos países mais industrializados e desenvolvidos e hoje está espalhado por todo o planeta. Suas variáveis críticas e fundamentais são a informação e o conhecimento.
A partir destas colocações, verifica-se que a economia de mercado coexiste com diversas formas de organização — política, cultural, militar, religiosa. Assim, muitas de suas características se fundem com a própria sociedade na qual está inserida e o homem, simplesmente, não consegue antever de forma clara qual o objetivo de um sistema econômico. Ele chega a acreditar, inclusive, que o fim último das ações econômicas se confunde com o seu próprio fim.
Neste particular, podemos afirmar que a economia não é e não pode ser o fim da vida humana. Ela é sim, um instrumento fundamental para possibilitar o crescimento material e o bem-estar de um determinado grupo de pessoas com base naquilo que já existe. Quanto à capacidade de o homem criar algo do nada, vale mencionar o pensamento do filósofo inglês Chesterton [2] (1874-1936):
Deus é aquele que pode produzir algo a partir do nada. O homem é aquele que pode produzir algo a partir de qualquer coisa. Em outras palavras. Enquanto a alegria de Deus pode estar na criação ilimitada, a alegria especial do homem está na criação limitada, na combinação entre criação e limites (CHESTERTON, 2013, p. 54).
Assim, o sistema econômico não é dotado de capacidade para ser um fim em si mesmo, mas apenas um pressuposto material do desenvolvimento integral do ser humano e da natureza. O próprio papel da atividade econômica é propiciar o desenvolvimento do indivíduo. O trabalho trabalha para as pessoas.
[1] Do grego politikos, que significa “cívico”. O termo politikos, por sua vez, se originou a partir da palavra polites, que quer dizer “cidadão”, que se originou de polis, traduzido por “cidade”. Numa sociedade como a grega, em que a vida pública interessava a todos os cidadãos, os politikos eram aqueles que se dedicavam ao governo da polis (“a cidade” ou “o Estado”), colocando o bem comum acima de seus interesses individuais.
[2] Gilbert Keith Chesterton, conhecido como G. K. Chesterton foi um escritor, poeta, narrador, ensaísta, jornalista, historiador, biógrafo, teólogo, filósofo, desenhista e conferencista britânico. Igualmente trilhou pelo campo da economia. Nasceu na Inglaterra (Londres) em 1874 e faleceu em 1936.
César Augusto Moreira Bergo, é Presidente do CORECON-DF. Economista, sociólogo e mestre em finanças e especialista em administração estratégica e governança corporativa pela FIA/USP. Professor de pós-graduação universitária e de diversos cursos no mercado financeiro. Atua há mais de 40 anos no mercado financeiro tendo exercido cargos de executivo em bancos, corretoras e distribuidoras de valores, além de possuir diversas certificações para atuar no mercado financeiro.
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